sábado, 1 de fevereiro de 2014

De repente, o risco Brasil


                                  
        Em sua coluna de hoje, Miriam Leitão enfatiza talvez o dado mais importante para a economia: a hora é de cautela. Com efeito, “estamos sendo colocados na lista dos vulneráveis. Nesses momentos, as autoridades devem ter em mente o cenário pior e torcer pelo melhor. E a equipe econômica está acreditando no melhor e desprezando os sinais de risco”.

      O mais inquietante nesse enredo é que o comportamento do governo Dilma, desde o começo, não tem diferido. O otimismo, acoplado com práticas que se pensavam superadas – e o bom senso de Lula – Palocci fora determinante neste sentido – continua a nortear a Administração. A princípio, a Presidenta pensou que poderia exorcizar a inflação com retórica essencialmente vazia, do tipo não permitirei...

     Como em muitas outras questões, a carestia no supermercado e na opinião pública – sem diferenças de A, B, C, D e E, porque o povão não é bobo, e tampouco esqueceu o dragão – levou a presidenta a jogar a toalha no que tange a liberar Banco Central (leia-se Copom) em restabelecer a serventia da taxa de juros Selic como a nossa única sentinela para o controle dos preços.

     No entanto, não é mistério que a inflação, posto que contida, continua no limite, e, portanto, alta. Devemos à economista Dilma Rousseff essa dúbia gentileza: o índice persiste no limite.

     O segundo Governo do PT está colhendo, no limiar de seu último ano constitucional, a messe de seus erros passados, e em especial da renitente teimosia de que lhe aproveitam a contabilidade fiscal maquiada, os passados procedimentos como preços administrados, e  intervencionismo varejista que vai cobrar a amarga conta no atacado.

     A desestabilização do Plano Real está em marcha. Se se ataca a Lei da Responsabilidade Fiscal – como nas intentadas ‘bondades’ para o jovem companheiro Fernando Haddad, com novas (e perniciosas) regras para gerir a dívida da prefeitura de São Paulo, mandando à breca quem respeitara o dever de casa – se em almoço para colher idéias para debelar a inflação, dona Dilma convoca Delfim Netto & Belluzzo (e deixa na geladeira quem resolvera o problema), se a cada compromisso, como o do superávit, Mantega e seus alegres compadres inventam remédios heterodoxos para acalmar os ‘nervosinhos’, com a devida vênia da colunista, a cujo bom senso e experiência há de parecer difícil lidar com a alheia leviandade, tudo o que leio nos jornais e o que me traz a mídia me leva a reações menos prontas e talvez um pouco mais céticas.

      Adentramos  ano eleitoral pleno. Para os políticos em geral, além da promessa (que é a versão light da mentira), existem gastos e iniciativas ainda mais danosos, porque comprometem o Erário, na tentativa insensata de pavimentar o próprio caminho do dito sucesso político com despesas, umas pesadas, outras calamitosas, em adiantado grau de delirante demagogia.

      Por obséquio de dona Dilma, o Brasil deixou o cercado das economias respeitáveis, para entrar naquele das vulneráveis. Na mutável classificação do tempo político, o dito evangélico mantém a sua tenebrosa pertinência: dize-me com quem andas e te direi quem és.

     Veja-se a nossa atual companhia, na inconfortável cauda das economias periclitantes, algumas já como Argentina e Venezuela, no compartimento dos casos de lata de lixo (basket cases). Ainda – e felizmente! – não estamos lá, mas diante de tanta incompetência, é hora de armar-se de temores e não de certezas.

     Não é à toa que as nuvens negras de  rebaixamento por agência de classificação de risco tire o sono de Dilma & Cia. Paira sobre nós, do etéreo espaço de Wall Street e adjacências, a ameaça que nos escorracem da zona protegida dos investimentos.

     Quando as tempestades se acumulam, de nada vale invectivar contra elas, nem correr ao altar de Zeus – o deus do raio e do trovão – para mendigar a clemência que até então tudo se fez para escarnecer.

     Nessas alturas, sem querer parodiar ninguém, eu também tenho um sonho para o Brasil. Na verdade, se a experiência do comportamento e da húbris do poder nos traz tanto o realismo, nos bons momentos, e o pessimismo, nos outros, em que revisitamos experiências pretéritas, a hora vai ficando aziaga.

      O barco Brasil está jogando muito, e o mar à frente, para resumir, não esta prá peixe. A tripulação não inspira confiança, mas é a que temos. Quem sabe, tempestade menor afaste os mais travessos, e possamos ir à frente, em busca de um melhor destino e de águas menos traiçoeiras.

     Quem sabe, a experiência da borrasca se torne mestra severa, porém oportuna, e nos traga, na hora dos comícios, ou uma escarmentada timoneira, ou alguém que redesperte a trêfega esperança, com a visão de um futuro melhor.

     Será pedir muito?

 

 

(Fontes: O Globo e coluna de Miriam Leitão; Folha de S. Paulo)

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