Em sua coluna de hoje, Miriam Leitão enfatiza talvez o dado mais importante para a economia: a hora é de cautela. Com efeito, “estamos sendo colocados na lista dos vulneráveis. Nesses momentos, as autoridades devem ter em mente o cenário pior e torcer pelo melhor. E a equipe econômica está acreditando no melhor e desprezando os sinais de risco”.
O mais
inquietante nesse enredo é que o comportamento do governo Dilma, desde o começo,
não tem diferido. O otimismo, acoplado com práticas que se pensavam superadas –
e o bom senso de Lula – Palocci fora
determinante neste sentido – continua a nortear a Administração. A princípio, a
Presidenta pensou que poderia exorcizar a inflação com retórica essencialmente
vazia, do tipo não permitirei...
Como em muitas
outras questões, a carestia no supermercado e na opinião pública – sem
diferenças de A, B, C, D e E, porque o povão não é bobo, e
tampouco esqueceu o dragão – levou a presidenta a jogar a toalha no que tange a
liberar Banco Central (leia-se Copom)
em restabelecer a serventia da taxa de juros Selic como a nossa única sentinela para o controle dos preços.
No entanto, não é
mistério que a inflação, posto que contida, continua no limite, e, portanto,
alta. Devemos à economista Dilma Rousseff
essa dúbia gentileza: o índice persiste no limite.
O segundo Governo
do PT está colhendo, no limiar de seu
último ano constitucional, a messe de seus erros passados, e em especial da renitente
teimosia de que lhe aproveitam a contabilidade fiscal maquiada, os passados
procedimentos como preços administrados, e
intervencionismo varejista que vai cobrar a amarga conta no atacado.
A
desestabilização do Plano Real está
em marcha. Se se ataca a Lei da Responsabilidade Fiscal – como nas
intentadas ‘bondades’ para o jovem companheiro Fernando Haddad, com
novas (e perniciosas) regras para gerir a dívida da prefeitura de São Paulo,
mandando à breca quem respeitara o dever de casa – se em almoço para colher
idéias para debelar a inflação, dona Dilma convoca Delfim Netto & Belluzzo (e deixa na geladeira quem resolvera o
problema), se a cada compromisso, como o do superávit,
Mantega e seus alegres compadres inventam remédios heterodoxos para acalmar os
‘nervosinhos’, com a devida vênia da
colunista, a cujo bom senso e experiência há de parecer difícil lidar com a
alheia leviandade, tudo o que leio nos jornais e o que me traz a mídia me leva
a reações menos prontas e talvez um pouco mais céticas.
Adentramos ano eleitoral pleno. Para os políticos em
geral, além da promessa (que é a versão light
da mentira), existem gastos e iniciativas ainda mais danosos, porque
comprometem o Erário, na tentativa insensata de pavimentar o próprio caminho do
dito sucesso político com despesas, umas pesadas, outras calamitosas, em
adiantado grau de delirante demagogia.
Por obséquio de
dona Dilma, o Brasil deixou o cercado das economias respeitáveis, para entrar
naquele das vulneráveis. Na mutável classificação do tempo político, o dito
evangélico mantém a sua tenebrosa pertinência: dize-me com quem andas e te direi quem és.
Veja-se a nossa
atual companhia, na inconfortável cauda das economias periclitantes, algumas já
como Argentina e Venezuela, no compartimento dos casos de lata de lixo (basket cases). Ainda – e felizmente! –
não estamos lá, mas diante de tanta incompetência, é hora de armar-se de
temores e não de certezas.
Não é à toa que
as nuvens negras de rebaixamento por
agência de classificação de risco tire o sono de Dilma & Cia. Paira sobre nós, do etéreo espaço de Wall Street e adjacências, a ameaça que
nos escorracem da zona protegida dos investimentos.
Quando as
tempestades se acumulam, de nada vale invectivar contra elas, nem correr ao
altar de Zeus – o deus do raio e do
trovão – para mendigar a clemência que até então tudo se fez para escarnecer.
Nessas alturas,
sem querer parodiar ninguém, eu também tenho um sonho para o Brasil. Na
verdade, se a experiência do comportamento e da húbris do poder nos traz tanto o realismo, nos bons momentos, e o
pessimismo, nos outros, em que revisitamos experiências pretéritas, a hora vai
ficando aziaga.
O barco Brasil
está jogando muito, e o mar à frente, para resumir, não esta prá peixe. A
tripulação não inspira confiança, mas é a que temos. Quem sabe, tempestade menor afaste os mais travessos, e possamos ir
à frente, em busca de um melhor destino e de águas menos traiçoeiras.
Quem sabe, a experiência da borrasca se
torne mestra severa, porém oportuna, e nos traga, na hora dos comícios, ou uma
escarmentada timoneira, ou alguém que redesperte a trêfega esperança, com a
visão de um futuro melhor.
Será pedir muito?
(Fontes: O Globo e
coluna de Miriam Leitão; Folha de S. Paulo)
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