Lord Acton e Erdogan
Lembramos amiúde
nesses dias que correm, em que o poder absoluto ou quase dá as mãos à corrupção
de célebre frase de Lord Acton: o poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe de forma
absoluta.
Gravação de conversa telefônica supostamente
entre o Primeiro Ministro Recep Tayyip Erdogan e o seu filho Bilal os implica em corrupção. No
telefonema, os homens (no caso, Erdogan e Bilal) se acordam em entregar o
dinheiro (US$ 66 milhões) a um empresário turco e desfazer-se da quantia.
Como sói
acontecer, o primeiro ministro alçou-se nos coturnos da honra ferida:’Este não
é um ataque contra mim, mas contra a república da Turquia. Eles estão ouvindo
os telefones criptografados do governo – vejam quão baixo chegaram.’
Pensando que a
melhor defesa é o ataque, o governo Erdogan afastou desde dezembro mais de três
mil policiais e seiscentos magistrados, que fizeram parte das investigações (a
operação anti-corrupção terminou com a prisão dos filhos de três ministros).
Erdogan aumentou ainda o controle sobre a Justiça e a internet, o que tem
gerado críticas seja da União Europeia, seja de entidades de defesa dos
direitos humanos, como a Human Rights
Watch.
Recep Erdogan
está há dez anos no poder, e esta é a maior crise com que se defronta. Com
fumaças de líder do mundo islâmico, ele controlara o exército – o tradicional
fiel da balança na Turquia – e vinha adotando uma linha sempre mais repressora.
Em debate, o líder do partido opositor CHP, Kemal Kilicdaroglu, reproduziu a gravação em plenário, aditando que
é prova bastante do envolvimento de Erdogan com a corrupção: “Meu conselho a
Você, Erdogan: pegue um helicóptero, deixe o país e renuncie. Quem rouba o
Estado, não pode continuar como Primeiro-Ministro.”
Não por acaso,
a televisão estatal cortou por diversas vezes, a transmissão do discurso.
O telefonema
também levou às ruas da capital milhares de pessoas, assim como em outros
grandes centros urbanos da Turquia. Em Istambul – a Constantinopla do passado
grego – outra bala de borracha atingiu um jovem manifestante no olho.
Ah!, a hipocrisia da polícia no emprego de o
que chamam uma arma não-letal, como meio supostamente dissuasivo da nova
munição da repressão. Que progresso é
este? Entre outros, em São Paulo, nas manifestações do
passe-livre, uma repórter da Folha (que estava a serviço) foi atingida por um
policial na vista. Dentro do mesmo
contexto dos protestos populares, pergunto: Qual é o propósito de cegar um
jovem porque se manifesta contra a corrupção de Sua Excelência Recep Tayyip
Erdogan?
Quinze dias de prisão por crime não-cometido
Todas as vezes que alguém vai
parar na cadeia por uma razão absurda – como no caso do homem pobre que fora
trancafiado pela justiça por arrancar de uma árvore parte da casca, porque
tinha fome, e agora no do ator negro, que ficou duas semanas preso após ter
sido acusado por engano pela vítima, será que é só o caso de dizer tudo foi lamentável
equívoco ?
Vinicius
Romão de Souza permaneceu detido por
mais de duas semanas sob a acusação de roubo, após haver sido identificado por
engano pela vítima do crime.
Formado em
psicologia, Souza fez parte do elenco da novela ‘Lado a Lado’, da Rede Globo, e
trabalhava como vendedor em um shopping da zona norte do Rio.
A 25 de
fevereiro, a copeira Dalva da Costa, vítima do crime e que havia identificado
Souza, retratou-se em novo depoimento. No roubo que sofreu, foram levados
celular, a bolsa com documentos, cartões de banco, dez reais e um bilhete
único.
Segundo o
delegado Niandro Lima, a prisão por roubo foi um ‘equívoco’, mas que não houve
má-fé da vítima. Dalva declarou que
cogitara de recuar da identificação já no dia seguinte ao crime, mas que não
tinha dinheiro da passagem para a delegacia. Para o amigo de Vinicius, o
psicólogo Bernardo Roxo, Vinicius foi vítima de racismo. Segundo ele, em um
país onde ninguém é preso, é muito estranho um inocente ir parar na cadeia. O
caso teria sido uma sucessão de erros, desde a identificação feita sem a
comparação com suspeitos que tivessem o mesmo biótipo de Vinicius.
A
severidade, no entanto, contra Vinicius Romão ainda não se desfez de todo. O
Tribunal de Justiça, segundo noticia a Folha,
concedeu a liberdade provisória após a polícia reconhecer a falha – e em
resposta a pedido protocolado pelo advogado três dias após a prisão. No
entanto, pela decisão do TJ, apesar de liberado, Souza ainda terá de se
apresentar à Justiça para informar e justificar suas atividades, não podendo
ausentar-se do Rio. Nesse sentido,
deverá ir mensalmente ao fórum e não pode sair do Rio. É de esperar-se que tais
formalidades – por se tratar de um inocente – sejam prontamente dispensadas.
Vinicius já está livre, saindo com
o pai da Casa de Detenção ‘Patrícia Acioli’, em São Gonçalo. Ainda devem ser
apurados o comportamento do policial que, acompanhando a vítima, foi
instrumental na determinação da alegada identificação do ‘assaltante’. Também seria investigado o comportamento do
delegado de plantão, William Lourenço Bezerra.
Jovem repreendido espanca professor
O professor de educação física Lucas
Silva Lopes Xavier, de 28 anos, foi espancado por dois jovens na noite do
último domingo, no shopping Pier 21, em bairro nobre de Brasília.
O ‘erro’ do
professor foi haver solicitado a Yago Ferreira da Silva, de 21 anos, e ao
companheiro deste, Matheus Rodrigues, 20 anos, para que não urinassem fora do
banheiro. Os dois já tinham consumido muito álcool e ficaram irritados com a
solicitação do professor.
Yago partiu
para a agressão. Quando Xavier já estava caído, desmaiado, Matheus se associou
ao amigo para dar socos e pontapés na vítima indefesa.
Segundo a
delegada Mabel Correia, no depoimento Yago não demonstrou arrependimento,
apenas preocupação com a situação legal (ele não é reu primário, eis que já
fora condenado em 2011, por roubo). Agora estuda educação física, pois faz
curso de formação para segurança. Consoante a delegada ‘pessoas próximas indicam que o
estudante não tem controle sobre sua
agressividade e comportamento explosivo.’
Por força
da agressão sofrida, o professor Xavier teve traumatismo craniano e a mandíbula
quebrada em duas partes. Três coágulos se formaram no cérebro da vítima, que está com os
movimentos do lado esquerdo paralisados. Tudo isso por ter solicitado de Yago
que utilizasse o banheiro para as suas necessidades.
(Fontes: Folha de S.
Paulo, O Globo, O Globo on-line)
Nenhum comentário:
Postar um comentário