Viktor
F. Yanukovych, o eterno favorito de Moscou, e uma vez mais por servir-se de meios
condenáveis, corre o risco de ser
apeado do poder. Foi assim com a Revolução Laranja (novembro 2004 –
janeiro 2005), por força da crise originada pela sua eleição fraudulenta em
2004. Através de uma série de protestos, greve geral e desobediência civil, a
Suprema Corte decidiu, a 26 de dezembro de 2004, pela anulação do primeiro
turno, e a realização de novo pleito. Em tais comícios, venceu Viktor Yushchenko, com 52% dos sufrágios, e perdeu Viktor Yanukovych, com 44%.
Na coalizão laranja participou ativamente Yulia Timoshenko.
Nesta segunda
revolução democrática ucraniana, o proceder do presidente Yanukovych imitaria a
sua anterior conduta, que provocara a Revolução Laranja. O candidato do Partido das Regiões e protegido do Kremlin conseguiu eleger-se a oito de fevereiro de
2010, com maioria de um milhão de votos sobre a primeira-ministra Yulia Timoshenko. Os percentuais
aproximados foram de 48,49% para
Yanukovych e 45,92% para a Primeiro
Ministro. Esta pagou o preço da impopularidade da administração de Yushchenko.
Receberia mais tarde ulterior ‘distinção’, quando Yanukovych, em processo
politicamente motivado, a fez condenar, em 2012, por dócil juiz à prisão por sete anos, onde até hoje se encontra encerrada
em lazareto de Kharkov – malgrado
vários pronunciamentos internacionais, inclusive o da Corte Europeia de Direitos Humanos,
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Mas voltemos
às estripulias na atualidade de Viktor Yanukovych. Em blog anterior, já sublinhara a previsibilidade do proceder do
presidente ucraniano, com a sua queda por soluções autoritárias.
Uma vez mais,
e desta vez em banho de sangue,
Yanukovych tentou ‘resolver’ a questão, iniciada em novembro, e por ele provocada
pela súbita troca de alianças internacionais. Apesar da assinatura já marcada com
a União Europeia de amplo
acordo de cooperação - que poderia
conduzir à posterior associação da Ucrânia com Bruxelas – de forma intempestiva
o presidente correu para Moscou, e do dia para a noite, voltou com a velha
aliança russa, incluída a participação na União aduaneira de Vladimir Putin.
Diante dessa
afronta à vontade popular – que ao passado colonial da união com o Kremlin prefere a via europeia, no
exemplo polonês – iniciou-se a 24 de novembro de 2013 a segunda revolução
ucraniana. Então, grande massa popular
ocupou o centro de Kiev, notadamente a chamada Praça Maidan, da Independência, e com grande sacrifício, ao arrostar as
intempéries invernais, o povo ucraniano se tem mantido firme no seu propósito da
chamada opção europeia.
Nesta semana,
com o aval do Palácio, a polícia de choque tornou a descambar para a repressão
violenta. Dentre os manifestantes, 77
pessoas foram mortas, 577 feridas e 369 hospitalizadas, muitas em situação de atendimento extremamente precário
(um hotel vizinho foi transformado
em hospital e necrotério).
Toda essa
orgia sanguinária nada teve de espontâneo. Ela foi conduzida por matadores
profissionais, como assinala a doutora
Olga Bogomolets, ao verificar in loco
a causa mortis de tanta gente: ‘muito profissionais’ os tiros que
levaram à morte, ao ‘privilegiarem’
coração, carótida e cabeça.
A reação europeia não tardou, através
dos ministros do exterior da França, Laurent Fabius, da Alemanha Frank Walter
Steinmeier e da Polônia, Radoslaw
Sikorsky. O vice-presidente
Joe Biden, dos Estados Unidos,
entrou igualmente em contato com Yanukovych, para alertá-lo das consequências se
continuasse em tal senda.
Mais uma vez,
o Presidente Yanukovych recuou. Desta feita, concorda com a reforma da
Constituição (que daria mais poder ao Parlamento), assim como com governo de
união nacional.
À parte,
buscando apoiar o aliado Yanukovych, está a Federação Russa. Não soando muito
satisfeito com o andamento da crise, o segundo do Kremlin – e fiel escudeiro de Vladimir
V. Putin – Primeiro Ministro Dmitri
Medvedev afirmou que ‘vai cooperar apenas com um poder que não aceite
ser pisoteado’.
Se a pressão
internacional – inclusive com declarações da Chanceler Angela Merkel
e das autoridades comunitárias – se traduzir no apoio indispensável ao
campo revolucionário ucraniano, e se as
promessas de Viktor Yanukovych forem efetivadas (o que, em se tratando do
personagem, restará sempre a verificar), haverá um encaminhamento da crise com
traços similares ao da revolução laranja.
No entanto, a
pressão dos manifestantes carece de continuar, para que se passe dos acenos (de
que Yanukovych costuma ser pródigo) à realidade (em que caminha com os sólitos pés de chumbo). Nesse campo, e dada a
flagrante injustiça que lhe foi cometida, cabe a pergunta de o que se reserva
para a prisioneira Yulia Timoshenko, que
deveria ser prontamente libertada, de conformidade com as exigências da
Comunidade Europeia e do ditame da Corte Europeia de Direitos Humanos.
(Fontes: O Globo
on-line; Folha de S. Paulo)
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