Dilma: Venezuela é diferente da Ucrânia
Há decerto muitas
diferenças entre a Ucrânia e a Venezuela. O que preocupa é que, sob o
lulo-petismo, o Brasil tenha abandonado a diplomacia de estado para adotar a de
partido. Os governos são passageiros e não é prudente escolher lados a médio
prazo, e mais ainda em países vizinhos. Identificar-se com uma das partes
tenderá a complicar o futuro. Ou acaso pensam que Nicolas Maduro, com a sua
incompetência, vai durar tanto quanto Chávez?
Além disso, confrange
que se instrumentalize uma organização – que até cláusula democrática tem –
para censurar (ações criminosas) a oposição.
O
que salvou a Ucrânia é que o governo
Yanukovych não dispunha nem da metade do poder manipulado pelo chavismo na
Venezuela. Permitiria, acaso, Maduro que a oposição ficasse meses a fio em
praça central de Caracas, em permanente manifestação pela renúncia do
presidente?
Não se vá
esquecer tampouco que mesmo com Hugo Chávez a situação econômica e social
estivesse muito boa. Além da violência, o desabastecimento já começara, assim
como os apagões. Por outro lado, não é igualmente de hoje o sucateamento da estatal do petróleo venezuelano, o que
limitava a recepção de divisas (a Venezuela é, na prática, uma monocultura).
Se, contudo, no
presente o povo venezuelano tenha saudades de Chávez, é um indicativo forte de
quanto a situação se deteriorou. Quando não se tem muito a perder e as coisas
vão de mal a pior, as manifestações anti-Maduro e anti-chavismo tem no
desespero .um aliciador temível, que não pode ser arrastado a nenhum tribunal
do regime. Por que ele não mente e está em toda parte, a sua mensagem não
poderia ser mais subversiva e contaminante...
Ceticismo das colunas econômicas
Dados os
antecedentes, poderia ser outra a reação de economistas ? Assim, Vinicius
Torres Freire resume na Folha a atitude do chamado Mercado: Me Engana que eu gosto. Logo depois dos rumores sobre o certo rebaixamento do
Brasil por uma agência de Wall Street, a administração fazendária brasileira –
aquela que Lula declarou estar com o prazo de validade vencido – veio a público
anunciar que pretende poupar uma boa parcela dos dinheiros que pensa arrecadar
em 2014. Dados os antecedentes – e a circunstância não-atenuante de estarmos em
ano eleitoral – a credibilidade da assertiva, como diria um velho mestre meu,
tende para zero.
O superávit
fiscal de 2013 contou com alguns ganhos una
tantum (que só acontecem uma vez), e além disso mais tarde vieram a lume
outros detalhes que mais entram no capítulo dos malabarismos fiscais.
Já estamos
pagando, mas pagaremos no futuro um preço ainda maior pela improvisação, que é
a característica central da Administração Dilma em termos de economia.
Assim,
como mostra Miriam Leitão na sua coluna, a economia brasileira está cheia de artificialismos e gambiarras. Nesse
sentido, a reportagem do “Valor” mostra como medida errada pode provocar
inúmeros desequilíbrios.
Espanta
que um governo do PT tanto contribua para desestabilizar a Petrobrás, que é um ícone
do capitalismo estatal e que mereceria melhor tratamento do lulo-petismo (ou
será que caberia no caso dilmo-petismo?).
Assim, o
uso da Petrobrás para controlar na marra a inflação teve os seguintes
resultados que certamente não estavam previstos: (a) reduziu os impostos que a
estatal recolhe ao Tesouro Nacional; (b) elevou o seu nível de endividamento a
uma faixa perigosa; (c) abriu um rombo nas contas externas (aumentando as
importações de combustível no país que Lula declarara auto-suficiente), e assim
agravando o déficit na balança comercial; e (d) enfraqueceu o etanol, eis que diminuiu
o incentivo para o cultivo da cana de açúcar, diante de diferença
negligenciável entre gasolina importada
e o álcool.
Outra
coisa que está desorganizando a economia e, em especial, o setor de energia é a utilização crescente de preços administrados. O
objetivo do governo é o de evitar que a inflação suba. Não se pode, é óbvio discutir
tal propósito. Ninguém deseja que a inflação suba. O que está errado é o
recurso a preços administrados. Esse mecanismo tem fôlego curto. Não se combate
o dragão com preços e tarifas artificialmente baixos.
Comemoramos vinte anos de Plano Real. E, no entanto, o lulo-petismo
continua a considerá-lo um programa de partido oposicionista. Não lhe aplica
princípios básicos e ainda por cima procede à uma desestabilização da lei da responsabilidade
fiscal. Não surpreende, portanto, que a expectativa do índice de preços para
2014 continue alta: anda em torno de 6%
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário