sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Libertação de Yulia Timoshenko

                       

       Injustamente presa, após um cínico processo conduzido por dócil juiz de primeira instância, a ex-Primeiro Ministro Yulia Timoshenko ficou encarcerada nas prisões interioranas orientais por mais de dois anos.
       Não era por acaso que a Timoshenko  fora trancafiada em cárcere e lazareto na região oriental, a mais próxima à Russia e ao presidente Yanukovych. Seria temerário para ele e seus partidários manter a líder do partido Pátria, com suas tranças camponesas, na região ocidental, em que ela é muito popular.

        Yanukovych até hoje, sexta-feira, a tudo fizera ouvidos de mercador, incapaz que se mostrou de um gesto sobranceiro. Desde a cavilosa condenação da Primeiro Ministro, de que as principais motivações estariam na inconfessável vingança e ainda mais no não tão secreto propósito de tentar neutralizar-lhe a ameaça da popularidade junto as gentes  da Ucrânia, sobretudo as de fala ucraniana e mais próximas ao ocidente europeu.
         Yanukovych ignorou a condenação pela Corte Europeia dos Direitos Humanos do processo com que lograra determinar a prisão da Timoshenko. Em várias anistias, a preteriu por seguidas vezes, enquanto libertava líderes oposicionistas de menor relevância.

         Pretextando depender do Parlamento ucraniano, postergava até a licença de que fosse tratada de seu problema na coluna em hospital alemão. Nesse sentido, eludia as solicitações da Chanceler Angela Merkel.
          Querendo diminuí-la, enquanto a mantinha na cidade interiorana de Kharkov, em condições precárias, o tirano Viktor F. Yanukovych iria sofrer o que os gregos chamam de peripeteia (reversão súbita das expectativas).  Pensando humilhar a corajosa rival Yulia Timoshenko, enquanto escarnecia de postulações de órgãos e personagens de maior importância  do que a do próprio Yanukovych, sem saber criara as condições para que a libertação da Primeiro Ministro fosse feita à sua total revelia.

          Quem não mostra grandeza, será sempre porque não a tem. Dessarte, a saída de Yulia Timoshenko do lazareto de Kharkov não é apenas um ato de justiça e de reparação. Desnuda a pobreza moral do Presidente Viktor Yanukovych, que assiste, com a impotência dos vencidos, a elevação da adversária que não lhe deu quartel, nem lhe suplicou qualquer indulto, e agora empolga a liberdade pelo voto do Parlamento por 310 a favor da Timoshenko, e cinquenta e quatro contra.

           Não poderia haver moldura mais apropriada do que esta para deixar evidente e manifesto que não se trata apenas da libertação de mulher corajosa, que não se curvou diante do tirano, e que em concomitância desfruta da visão de mais um tirano que começa a descer a escadaria do poder.

           Enquanto uma estrela se alça, a outra depara a próxima queda. Soa a hora da reversão das expectativas, que às vezes por muito tardarem caem com surpreendente rapidez, e o surdo baque dos pesados, altaneiros monumentos.  A Rússia de Putin, que dizia enjeitar acordos em que os seus próximos fossem pisoteados, assiste atônita ao começo da troca da guarda em Kiev. Entrementes, os corajosos manifestantes – que arrostaram as balas assassinas de atiradores que só por ironia se chamam de elite – gritam como condição única de sua saída das ruas a renúncia de Yanukovych.        

 

(Fonte: The New York Times)

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