Injustamente presa, após um cínico
processo conduzido por dócil juiz de primeira instância, a ex-Primeiro Ministro Yulia
Timoshenko ficou encarcerada nas prisões interioranas orientais por mais de
dois anos.
Não era por
acaso que a Timoshenko fora trancafiada
em cárcere e lazareto na região oriental, a mais próxima à Russia e ao
presidente Yanukovych. Seria temerário para ele e seus partidários manter a líder
do partido Pátria, com suas tranças camponesas, na região ocidental, em que ela
é muito popular.
Yanukovych até
hoje, sexta-feira, a tudo fizera ouvidos de mercador, incapaz que se mostrou de
um gesto sobranceiro. Desde a cavilosa condenação da Primeiro Ministro, de que
as principais motivações estariam na inconfessável vingança e ainda mais no não
tão secreto propósito de tentar neutralizar-lhe a ameaça da popularidade junto as
gentes da Ucrânia, sobretudo as de fala
ucraniana e mais próximas ao ocidente europeu.
Yanukovych
ignorou a condenação pela Corte Europeia dos Direitos Humanos do processo com
que lograra determinar a prisão da Timoshenko. Em várias anistias, a preteriu
por seguidas vezes, enquanto libertava líderes oposicionistas de menor
relevância.
Pretextando
depender do Parlamento ucraniano, postergava até a licença de que fosse tratada
de seu problema na coluna em hospital alemão. Nesse sentido, eludia as
solicitações da Chanceler Angela Merkel.
Querendo
diminuí-la, enquanto a mantinha na cidade interiorana de Kharkov, em condições
precárias, o tirano Viktor F. Yanukovych iria sofrer o que os gregos chamam de peripeteia (reversão súbita das
expectativas). Pensando humilhar a corajosa
rival Yulia Timoshenko, enquanto escarnecia de postulações de órgãos
e personagens de maior importância do
que a do próprio Yanukovych, sem saber criara as condições para que a
libertação da Primeiro Ministro fosse feita à sua total revelia.
Quem não
mostra grandeza, será sempre porque não a tem. Dessarte, a saída de Yulia
Timoshenko do lazareto de Kharkov não é apenas um ato de justiça e de
reparação. Desnuda a pobreza moral do Presidente Viktor Yanukovych, que
assiste, com a impotência dos vencidos, a elevação da adversária que não lhe
deu quartel, nem lhe suplicou qualquer indulto, e agora empolga a liberdade
pelo voto do Parlamento por 310 a favor da Timoshenko, e cinquenta e quatro
contra.
Não poderia
haver moldura mais apropriada do que esta para deixar evidente e manifesto que
não se trata apenas da libertação de mulher corajosa, que não se curvou diante
do tirano, e que em concomitância desfruta da visão de mais um tirano que
começa a descer a escadaria do poder.
Enquanto
uma estrela se alça, a outra depara a próxima queda. Soa a hora da reversão das
expectativas, que às vezes por muito tardarem caem com surpreendente rapidez, e
o surdo baque dos pesados, altaneiros monumentos. A Rússia de Putin, que dizia enjeitar acordos
em que os seus próximos fossem pisoteados, assiste atônita ao começo da troca
da guarda em Kiev. Entrementes, os corajosos manifestantes – que arrostaram as
balas assassinas de atiradores que só por ironia se chamam de elite – gritam como
condição única de sua saída das ruas a renúncia de Yanukovych.
(Fonte: The New York
Times)
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