Fica a
impressão para muitos – e quem não sentiu um certo desconforto com a cobertura
de O Globo, sobretudo com o realce dado ao advogado Jonas Tadeu e as suas
‘revelações’ e o posterior recuo – que não se deu no momento adequado ao
deputado Freixo o espaço para então defender-se. Se suspeitas havia de que se
tratava de factoide, o desenrolar da questão o comprovou sem sombra de dúvida.
Reforçam
tal impressão os longos editoriais e a
abertura de sua página de opinião ao deputado, em atitude que, ao contrário de
outras, merece apreço.
Ao contrário da timidez de Henrique
Capriles, a coragem do líder Leopoldo
López e a forma decerto teatral de sua entrega à guarda nacional contribui
e muito para o reforço de sua posição.
Agarrado à estátua do revolucionário cubano José Marti - que se contemporâneo fosse dos líderes
castristas já teria sido talvez eliminado – López bradou que se entregava a
“uma justiça injusta e corrupta”.
Leopoldo
López foi acompanhado pelo presidente da Assembléia, o chavista Diosdado Cabello. De uma certa forma, a
presença de Cabello é indicação de que o
procedimento teria sido acordado, a par de dar uma certa garantia de respeito à
integridade física de López.
A Situação na Venezuela e a Diplomacia
A
tradição diplomática brasileira, que tem
cabido ao Itamaraty defender e assegurar no passado, durante o regime petista
recebeu umas tantas reinterpretações que privilegiam menos a diplomacia de
estado – tradição que vem do Império e de que o Barão do Rio Branco é o símbolo
e o orgulho – que aquela de partido.
A
confirmar-se tal postura, o seu caráter desastroso – ao invés de continuarmos
na provada senda diplomática, estaríamos regredindo ao que no passado era a
diplomacia empregada por nossos vizinhos. Daquele filme, sabemos como terminou
e bem, tanto para o Império, quanto para a República do Brasil.
Por isso
– e me valho uma vez mais da Folha –
o comunicado do Mercosul sobre a
crise na Venezuela, ao manifestar apoio a Maduro e criticar os atos de
violência nas manifestações “causou mal-estar entre diplomatas brasileiros”.
O Mercosul, nascido com grandes
expectativas, atravessa momento difícil. É uma aliança com objetivos econômicos,
que infelizmente a atual situação econômica da Argentina não tende a criar as
condições desejadas para a esperada progressão.
Quanto
ao aspecto político, o último comunicado do Mercosul
pecou pela falta de equilíbrio, dando assim a impressão de utilizar “a retórica
do Governo Maduro, do que um texto com linguagem diplomática”. Sem embargo, o
governo brasileiro adotou posteriormente um tom de cautela sobre os protestos,
eis que, ao ver do Planalto, as motivações e os desdobramentos dos incidentes
na Venezuela ainda não estão claros.
As Manifestações no Brasil
Peço vênia
para discordar. O exemplo que devemos ter diante de nós é o das manifestações
do passe-livre, que surpreendeu a todos pelo seu caráter pacífico e pela pronta e calorosa
recepção por todos esses brasis.
No início,
quando houve violência a principal responsável foi a polícia mal-preparada e
violenta, por vezes, sem qualquer necessidade. Ou já se esqueceram da
moça-reporter que perdeu uma vista por uma bala de borracha?
Não se esqueçam que a manifestação pacífica é um
direito constitucional. Não vamos entorpecê-la e burocratiza-la com
regulamentos e autorizações, o que nos tornaria demasiado próximos do regime
autoritário de Vladimir V. Putin, na Federação Russa.
Por outro
lado, apraz-me concordar com o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que
não vê problemas com máscaras. Para ficarmos em inglês, os problemas existem
não com os Guy Fawkes, mas com os Black Blocs. Esses se vinculam à linha
anarquista da Europa Continental, que infelizmente descamba para a violência, e
que deve ser controlada e contida por polícia preparada e eficiente.
Para nossa
fortuna, a ditadura caíu e não a queremos de volta. As polícias militares não
devem confundir a violência dos meganhas daquele tempo com a dosada e devida energia. A
ação oportuna e pontual muita vez evita problemas maiores.
E não
esqueçamos que uma das palavras de ordem do movimento do passe-livre era a do padrão-Fifa. Vamos transformar o
desperdício dos estádios – distribuídos demagogicamente por Lula da Silva – em
uma grande festa democrática, em que o caráter pacífico do brasileiro transmita
ao torcedor o elã e o apoio necessários para que no fim das contas ganhemos o
caneco – no campo e fora dele.
E por falar em não esquecer. Os paredros brasileiros dão em demasia nomes de personalidades esportivas ou não aos grandes estádios - só para serem substituídos na prática pelo povo por títulos simples como Maracanã, Mineirão e Pacaembu. Não seria o caso agora de homenagear os operários que tanto se empenharam na sua construção - alguns e não poucos até com o sacrifício da própria vida ?
(Fontes: O Globo;
Folha de S. Paulo)
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