A amarga prudência
Lembram-se da fanfarronada do Ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, dizendo-nos,
literalmente às vésperas de um apagão, que o risco de desabastecimento de
energia no país era “zero”?
Agora, escaldados pelo ridículo
da bazófia, o Comitê do Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) afirma que ‘o fornecimento de energia está garantido em 2014’, mas, por primeira vez, admite que,
se a situação dos reservatórios piorar nos próximos meses, existe o risco de
desabastecimento.
Esquecida a Fanfarronada ?
Recordam-se da declaração de Dilma Rousseff, então
candidata a presidente, desfazendo da suposta incompetência do Governo de FHC em matéria de apagão, afirmando com
a sua tonitruante presunção, que tais deficiências jamais ocorreriam em governo
do PT?
Pois, como as coisas mudaram, não seria o caso
de relembrar o respeitável público dessa vazia promessa, com que as assertivas
de seu ministro agregam uma cômica pitada de desastrado compromisso?
Semelhanças com o PRI ?
No México, o PRI
(Partido Revolucionário Institucional) começou desfraldando a bandeira da
revolução mexicana, e com o passar do tempo institucionalizou a corrupção como
instrumento do poder.
Em todo documento
governamental, se estampava o duplo mote: Não reeleição e sufrágio efetivo. Na sua
longa permanência à testa do estado, o PRI
respeitou a proibição da reeleição, lembrando-se da longa ditadura de Porfírio
Diaz, mas utilizou a fraude eleitoral como meio de eternizar-se no poder.
Seria interessante que os
gerarcas do PT, com Lula da Silva à
frente, não repetissem o vezo de considerar como inventor da pólvora o regime
petista. Com feito, Nosso Guia tem o
entranhado hábito de só reportar-se ao período em que assumiram o poder
(acercam-se de doze anos). Será que algum ignaro há de pensar que os petistas
construíram o Brasil moderno, e tudo de bom a eles se deve? Essa deturpação
histórica é faca de dois gumes, eis que, se d.Dilma
continuar a trapalhona na economia, ficará mais fácil lembrar-se dos tempos do Plano
Real, com a inflação enfim domada? Será que o que aconteceu depois –
notadamente no dílmico governo – com a volta da carestia possa ser explicado
pela oposição frenética do P. T. ao Plano
Real e a tudo que lhe dissesse respeito?
A Histeria contra as Manifestações
Só à má-fé aproveita pôr as manifestações em único
saco, como se todas fossem reprováveis. Por isso, não poderia estar mais de
acordo com o artigo de mestre José Murilo
de Carvalho, ontem publicado em O
Globo, sob o título ‘O perigo White Bloc’.
Existe um ataque à liberdade
de expressão, e só à direita – a raivosa e instrumentalizadora – interessa aplicar
de forma genérica as supostas lições dos black
blocs. Se se parte para a legislação
antiterrorista, os gritos de democracia ameaçada e a mentalidade de pôr todo
protesto no mesmo saco, cabe citar a observação do historiador e cientista
político: ‘prestar um serviço ao poder
e um desserviço à consolidação de uma
democracia que consiga lidar com o protesto, preservados a integridade física
das pessoas e o patrimônio público.’
E o desacato, quando nos veremos livres
dele?
Não há penalidade de índole mais repressiva e
intimidatória do que a do desacato. Esse
resquício fascistóide é um instrumento desigual, que arma, entre outras, a
autoridade policial com artifício do código fascista que inspirou o da ditadura
do Estado Novo.
É mais do que tempo de livrar a
nossa legislação desse ranço de viés impositivo e antidemocrático, eis que
fornece às autoridades policiais ferramenta muito útil para culpar inocentes,
ou mascarar a respectiva incompetência sob a subjetividade de supostas afrontas
ao poder constituído.
O instituto do desacato tem de ser
expurgado de nossa legislação. Para tanto, será sempre interessante verificar
quem são os campeões da manutenção desse instrumento de coerção e de
desigualdade jurídica.
(Fontes: O Globo;
Folha de S. Paulo)
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