sábado, 22 de fevereiro de 2014

Trincheiras da Liberdade B 4

                                 

Yanukovych abandona Kiev

 
      Os sinais se multiplicam de que uma solução tipo Revolução Laranja se torna cada vez mais provável. No dia de ontem, o governo foi derrotado no Parlamento, com a descriminalização do artigo sobre abuso de poder, que fora instrumentalizado para a condenação de Yulia Timoshenko. Retirado do Código Penal, não mais subsiste qualquer base jurídica para dar fundamento à prisão da ex-primeiro ministro. Por enquanto, segundo informe da própria filha, a ex-Primeiro Ministro continua formalmente detida em hospital penitenciário em Zharkov.
      É de esperar-se que esta prisão abusiva seja prontamente cancelada. Diante do atual vácuo de poder, a liberação da Timoshenko não deve tardar. Só é necessário que alguém assuma a interinidade e, diante das circunstâncias, decrete, por força da vacatio legis[1] já determinada pelo Parlamento, a liberdade imediata para Yulia Timoshenko.

      Em um cenário de fim de regime, o Ministro do Interior, Vitaly Zakharchenko, teve a respectiva demissão decretada pelo Parlamento. Há fundadas suspeitas de que Zakharchenko esteja por trás do súbito recrudescimento da repressão letal ao movimento da Praça Maidan.

      Por outro lado, um deputado do partido Pátria, da Timoshenko foi eleito presidente do Parlamento, tomando o lugar de Vladimir Rybak, do Partido das Regiões e aliado do presidente Yanukovych.

      No mesmo sentido, dezenas de deputados desse partido, que dava sustentação à Viktor Yanukovych, abandonaram a legenda.

      Dentro desse quadro, de súbito desmoronamento de regime, Viktor F. Yanukovych deixou a capital Kiev, tomando destino por ora ignorado. Os gabinetes presidenciais foram invadidos, mas os líderes oposicionistas garantem que não houve saques.

      Quanto a novas eleições, o movimento de protesto da Praça Independência as quer de imediato, mas por enquanto a data de dezembro continua válida. 

 
Obama recebe o Dalai Lama

 
      Sob as rituais ameaças do governo da República Popular da China, Barack Obama recebeu em audiência o Dalai Lama. A conversação se realizou não no Salão Oval, formalmente destinado a chefes de estado e de governo, mas em outra sala da Casa Branca.
       As ameaças chinesas fazem parte do ritual das audiências concedidas ao Prêmio Nobel da Paz e líder tibetano. Governantes menos corajosos (ou mais temerosos da capacidade chinesa de fazer o mal no que tange ao próprio país) costumam curvar-se de modo ignavo. O Primeiro Ministro David Cameron, do Reino Unido, após receber o Dalai Lama consentiu em prometer a Beijing que não mais repetiria o encontro.

        No mesmo diapasão, o governo Jacob Zuma da Africa do Sul não respondeu à solicitação de visto do líder tibetano, decerto temeroso das consequências nas relações da antiga potência com a República Popular da China.

       As maneiras com que os diversos países recebem ou não esse corajoso e pacífico líder do heroico povo tibetano constituem, assim, um parâmetro confiável para que se meça a coragem e a dignidade do governo em questão.

       Exemplo de igual fortaleza diante de outra reação do Império do Meio foi a maneira firme com que a pequena Noruega não recuou da concessão do Prêmio Nobel da Paz em 2010 a Liu Yaobo, a despeito das inúmeras medidas de retaliação adotadas por Beijing, que buscou pela intimidação e o constrangimento forçar Oslo a ignóbil recuo.  Para sua honra, a cerimônia foi mantida – embora o agraciado, como anteriormente o pacifista Carl von Ossietzky (Nobel de 1935) perseguido pelo ditador Adolf Hitler tampouco pôde comparecer. Ambos estavam, para sua honra, presos nas masmorras das ditaduras respectivas. Von Ossietsky morreria de tuberculose em campo de concentração (maio de 1938). Yaobo continua preso.

 

(Fontes: CNN, Folha de S. Paulo)




[1] Do latim ‘falta de lei’.

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