O comportamento do Presidente Viktor Yanukovych continua o
mesmo de sempre. Assim, decerto não surpreende que volte atrás quanto aos
compromissos assumidos. Pensará que na luta pelo poder as palavras empenhadas
são apenas instrumentos, a serem largados pelo caminho, se julgar que tal seja
a conduta apropriada em determinado momento.
A trégua
anunciada pelo Palácio durou muito pouco, e mais um acordo com os líderes da
oposição foi jogado às urtigas.
Está, no
entanto, na lógica das revoluções – e nesta sublevação popular que tantas
semelhanças guarda com os levantes das barricadas, como assinalei em blog recente, será pouco provável que
ocorra de modo diverso.
Yanukovych
dispõe da aliança da Rússia, de Putin.
O atual czar de todas as Rússias não mais deixaria esperar na sua antecâmara
por longos quartos de hora o seu vizinho ao sul. Vladimir Putin sabe que ele é
a sua carta para o reforço da União Aduaneira, que compôs com a Bielorrússia,
Kazaquistão e pequenos países que lhe são na prática dependentes.
Por isso,
enquanto a refrega se acirra, e mais uma vez a polícia de choque de Yanukovych
não logra apossar-se da Praça Maidan, terá parecido ser boa hora para gospodin Putin reiterar a oferta de
créditos para a endividada Ucrânia.
Na precária
situação financeira da Ucrânia, poderá parecer ao atribulado Viktor F. Yanukovych, que as condições oferecidas pelo Kremlin são as mais interessantes. Se atentasse para as vantagens
comparativas, no entanto, salta aos olhos que a opção da União Europeia é a
melhor. Boa parte da população ucraniana é dessa opinião – e daí a revolta
provocada pelo presidente ao enjeitar, com a assinatura dos atos já programada,
a alternativa europeia pela russa. Não é só esperança de dias melhores que
Bruxelas oferece. Basta olhar para a vizinha Polônia e a sua progressão depois
de ingressar na U.E.
Entre o
passado – e a longa sujeição da Ucrânia como província da Rússia nos seus
diversos avatares – e o futuro, acenado pelos amplos acordos longamente
discutidos com os representantes comunitários, será a sensação de que
Yanukovych não tinha o direito de lhes negar o caminho europeu que desencadeou
a sublevação dos ucranianos, desde novembro último.
As
revoluções incruentas são em geral golpes de estado ou entendimento nas classes
dominantes. Por isso, a revolução em geral se escreve com o sangue de seus
partidários e opositores. E dadas as
múltiplas tentativas do Palácio em
eludir a vontade popular, sempre na ilusão de que o movimento seja dos que
perdem fôlego com o tempo, será com o passar dos meses e com as mortes que o
cerco há de aumentar em torno das fileiras pró-Yanukovych.
Nos
derradeiros choques, houve 28 mortes, das quais duas apenas de agentes
policiais. Semelha evidente, portanto, a determinação dos revoltosos, que pode
ser lida na escrita macabra dos cadáveres de ucranianos, cujas mortalhas são
modestos cobertores, que antes serviram para protegê-los de outra e mais
comprida batalha, contra as intempéries
do drástico inverno daquelas paragens.
A
destruição da sede do Partido das Regiões – que é o do poder situacionista,
encarnado pelo Presidente – mostra também a impaciência dos antigos
manifestantes, com os repetidos ires e vires de Viktor Yanukovych.
Recuperada a Praça Maidan, a raiva do povo vai crescendo.
(Fontes: CNN, Folha de
S. Paulo, O Globo on-line)
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