terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Dilma e a Responsabilidade Fiscal


 

        Não faltam indícios e mesmo provas de que a responsabilidade fiscal não é o forte de Dilma Rousseff. Além de insensato projeto legislativo que pretende, na prática, estropiar a lei da responsabilidade fiscal, há algumas coisas que esse Governo petista tem dificuldade de entender.

        A Lei da Responsabilidade Fiscal, aprovada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso malgrado a oposição ferrenha do Partido dos Trabalhadores – chegaram a recorrer ao Supremo para tentar derrubar o diploma legal – ao assumir o poder, de acordo com a imagem do marqueteiro Lula, paz e amor, a administração petista deixou em paz essa legislação, que constituía verdadeira chave de abóboda do Plano Real.

        Infelizmente, com o advento de Dilma Rousseff, a desenvolvimentista, o Brasil entrou em fase de progressiva turbulência. É importante, contudo, que deixe bem claro que nada tenho contra o desenvolvimento econômico do Brasil, que deve ser o escopo de todo o Governo.

        Mas como aprendemos da longa e amarga lição do período inflacionário (e hiper-inflacionário) é uma ilusão pensar ser possível o desenvolvimento com inflação. Um poderoso ministro no regime militar chegou mesmo a julgar que tal fosse factível, e houve até economista de nomeada que teorizou a respeito.

         Por isso, é difícil admitir que alguém que haja vivido sob a inflação, e tenha fumaças de economia e finanças, possa acreditar na viabilidade de um modus vivendi com o dragão.

         Não sei o que terá motivado a economista Dilma a desrespeitar regras básicas da ortodoxia econômica. Talvez na sua ânsia de Brasil grande haja pensado que um pouco de audácia bastaria para que não saísse do frasco uma vez mais o gênio mau da carestia, com o seu penoso legado de décadas perdidas.

          Terá sido por isso que a impulsiva Dilma Rousseff tenha acreditado manter sob controle o dragão com aquela retórica vazia de demagogos do passado, do tipo não admitirei que... Daí os truques, a falsa criatividade fiscal, a neutralização do Banco Central, impedido de intervir nos primeiros alarmes da inflação. Na modéstia do blog, não deixei de sublinhar que carestia não se combate com retórica.

          Depois da saída de Antonio Palocci da Fazenda, Guido Mantega não mostrou a mesma firmeza, e Lula da Silva começou a gostar demais das capitalizações do BNDES. Sabemos que em economia não há esse tipo de mágica, com a invenção de fundos. Mais adiante, o cobrador estará à espera. Tampouco a desenvoltura da turma do Tesouro – cumprindo decerto ordens – e as suas espertezas fiscais não eludem os segredos de Polichinelo.

          Infelizmente, a inflação voltou, assim como outras mazelas, a ponto de levar a nova chefa do Federal Reserve, Janet Yellen, a considerar o Brasil como a segunda economia mais vulnerável entre as emergentes.

          Francamente, à vista da última notícia, seria melhor que a Presidenta tivesse sido menos coerente no seu ativismo fiscal. E é aí que entra a Lei da Responsabilidade Fiscal.  O PT nos anos magros da oposição se empenhava de forma ferrenha em tentar impedir a vontade da maioria. Foi contra a Constituição Cidadã, que se recusou a assinar; combateu o Plano Real, a que não quis ver como um programa sério, ao invés das soluções heterodoxas do passado; e como disse acima, tentou barrar a própria Lei da Responsabilidade Fiscal.

            Posteriormente, ao empolgar o poder, voltou atrás e disse apoiar o que antes via como abominações.

            Nesse contexto, a Responsabilidade Fiscal terá sido mesmo reconhecida como indispensável pelo PT?

            A Folha desta segunda-feira nos traz turbadora notícia. Levantamento pelo jornal mostra que treze estados – do Rio de Janeiro e Minas Gerais até o Amazonas e Roraima – e  o Distrito Federal encerraram 2013 com déficit fiscal !

            É o maior número de contas no vermelho desde a criação da Lei da Responsabilidade Fiscal, sob FHC, no ano 2000. Segundo o parecer do jornal, o crescimento do déficit nos Estados resulta de estratégia adotada pelo Governo Dilma.

            Como sempre, a intenção é boa. A União, sob o comando de Dilma, autorizou o aumento do endividamento para financiar obras em transporte, saneamento, urbanismo e habitação. E o BNDES, pau pra toda obra, também foi acionado para ampliar o crédito aos Estados.

           Se os investimentos cresceram, é de perguntar-se se vale a pena a resultante pressão inflacionária de gastos assumidos sem a contraparte fiscal. Nesse sentido, a piora das contas tende a inviabilizar as metas do superávit primário. Como se sabe, a poupança do superávit primário se destina ao abatimento da dívida. Sendo feito com recursos orçamentários (e, por conseguinte, oriundo de impostos), o superávit trabalha no sentido de controlar a inflação.

           O desconforto de D. Dilma e do PT com a lei da responsabilidade fiscal faz pensar  em que esse governo acha que, no capítulo, os fins justificam os meios.  Por trás da deterioração da posição fiscal desses estados e do D.F. , há treze estados com disciplina  nas finanças públicas. São Paulo é o maior deles. Será que por ser governado pela oposição (PSDB), não terá entrado na dança?

            De qualquer forma, a essa altura do campeonato, é no mínimo inquietante que Dilma Rousseff continue a achar válido que os estados possam contornar a L.R.F. Como assinala a matéria da Folha – e cito o final da matéria in totum pela sua relevância:

           A queda do superávit  passou a preocupar os analistas em razão do impacto dos gastos de União, estados e municípios na inflação e nas transações com o exterior.    

          “A expansão das despesas alimenta o consumo, que cresce mais rapidamente que a produção de bens e serviços, elevando os preços e as importações – o que tende a se agravar neste ano de eleições para presidente e governador.”

 

(Fonte: Folha de S. Paulo)

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