domingo, 9 de fevereiro de 2014

Carta aberta ao Senhor Prefeito Eduardo Paes


Carta aberta ao Exmo.Sr. Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.                            

 
     Da Memória Perdida de Ipanema

       Na quinta-feira, dezessete de setembro de 2009, escrevi no meu blogA memória perdida de Ipanema”.  O que me motivara a crônica fora o desaparecimento das plaquetas de metal nas calçadas do bairro a relembrarem, aos transeuntes de hoje, um passado de moradores famosos, bares e sorveterias, antigos cinemas, projetos arquitetônicos de nomeada e tudo o mais que caracterizara o arrabalde.
      O blog terá agradado e por isso foi oficializado, segundo igualmente estampado em ‘Projeto de Segurança – Ipanema’, com a mesma data.

      Apesar da veia saudosa que perpassava o blog, tinha ele objetivo bastante concreto e, no meu entender, de fácil consecução.

      Talvez ingenuamente, era minha impressão na época – e o passar do tempo não me privou dessa convicção – de que o poder público (no caso o Prefeito Eduardo Paes) poderia facilmente reparar este mesquinho atentado à memória do bairro.

      Hoje em dia, no local das referências a moradores e pontos de nomeada dos anos cinquenta e sessenta, ficaram cicatrizes, remendos apressados que tão só eternizam aquele furto em série da história e dos encantos daquela Ipanema, que vive na lembrança de comunidade, a qual sem pressa vai também se afastando.

      Outro dia, passando por um desses sítios, em que a ganância do gatuno parece rir desdentada no passeio público, ouvi dois senhores comentarem a indiferença do poder municipal em restaurar os fatos memoráveis do cotidiano. De forma sem querer irônica, resta nas pedras e cimento da calçada um vestígio tanto do boçal furto em série, quanto de o que se arrancou, que para uns poucos ainda pode ser intuído nas brumas da relembrança.
      Mas que forma egoísta e precária de homenagear o passado por uma simples e preguiçosa omissão!

      Tenho visto – e aprovo – a celeridade com que a autoridade do município atua toda vez que vândalos ou ladrões investem contra o monumento dedicado ao poeta Drummond de Andrade. Só gostaria de ver o atentado em série de Ipanema merecer a atenção de uma única resposta. Como já referi, seria obra de pouco custo e de rápida realização. Ao invés do bronze ou do metal que os larápios, por encomenda ou não, salivam coletar, penso que seria de custo risível – e, o que mais importa no caso, sem valor comercial para motivar a bandidagem – se fossem colocadas sobre os grosseiros remendos de agora placas de concreto (ou de cimento) – com o nome da personalidade, ou do estabelecimento comercial, ou do bar ou cinema.

       Seria o testemunho devido a pessoas ou locais que fizeram parte no passado de fama, legenda e encanto do velho bairro de Ipanema, em que a boemia convivia com a classe média.

        O fotógrafo Eugène Atget (1857-1927), se especializou em fotografia  urbana. Carregando a sua pesada câmara percorria as ruas e avenidas de Paris. As pessoas não lhe interessavam. Queria preservar as construções que sentia condenadas pelo avanço do chamado progresso, assim como recantos que, a seu ver, mereciam atenção por motivos que muita vez fugiam do transeunte apressado. Não será por ironia que se tornaria o grande fotógrafo que é senão depois de colher o laurel da morte.

        Conservar o belo e o perfil de um bairro é um trabalho meritório, e Ipanema faz por merecê-lo.

        Honremos, senhor Prefeito Eduardo Paes, a ideia e o empenho de um seu predecessor. Restauremos a sua evocação da Ipanema de meados do século passado, pela contribuição dada à alma carioca.

       Mostre  grandeza  ao recuperar  o bom propósito de seu antecessor, e de  forma que seja infensa à cobiça dos gatunos.

       A cultura é importante, como dizia Rubem Braga, e mais ainda, se surge com as defesas para os tempos em que vivemos.

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