Carta aberta ao
Exmo.Sr. Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.
Da Memória Perdida de
Ipanema
Apesar da veia
saudosa que perpassava o blog, tinha
ele objetivo bastante concreto e, no meu entender, de fácil consecução.
Talvez
ingenuamente, era minha impressão na época – e o passar do tempo não me privou
dessa convicção – de que o poder público (no caso o Prefeito Eduardo Paes)
poderia facilmente reparar este mesquinho atentado à memória do bairro.
Hoje em dia, no
local das referências a moradores e pontos de nomeada dos anos cinquenta e
sessenta, ficaram cicatrizes, remendos apressados que tão só eternizam aquele
furto em série da história e dos encantos daquela Ipanema, que vive na
lembrança de comunidade, a qual sem pressa vai também se afastando.
Outro dia,
passando por um desses sítios, em que a ganância do gatuno parece rir
desdentada no passeio público, ouvi dois senhores comentarem a indiferença do
poder municipal em restaurar os fatos memoráveis do cotidiano. De forma sem querer
irônica, resta nas pedras e cimento da calçada um vestígio tanto do boçal furto
em série, quanto de o que se arrancou, que para uns poucos ainda pode ser
intuído nas brumas da relembrança.
Mas que forma
egoísta e precária de homenagear o passado por uma simples e preguiçosa
omissão!
Tenho visto – e
aprovo – a celeridade com que a autoridade do município atua toda vez que
vândalos ou ladrões investem contra o monumento dedicado ao poeta Drummond de
Andrade. Só gostaria de ver o atentado em série de Ipanema merecer a atenção de
uma única resposta. Como já referi, seria obra de pouco custo e de rápida
realização. Ao invés do bronze ou do metal que os larápios, por encomenda ou
não, salivam coletar, penso que seria de custo risível – e, o que mais importa
no caso, sem valor comercial para motivar a bandidagem – se fossem colocadas
sobre os grosseiros remendos de agora placas de concreto (ou de cimento) – com
o nome da personalidade, ou do estabelecimento comercial, ou do bar ou cinema.
Seria o testemunho devido a pessoas ou locais
que fizeram parte no passado de fama, legenda e encanto do velho bairro de
Ipanema, em que a boemia convivia com a classe média.
O fotógrafo Eugène
Atget (1857-1927), se especializou em fotografia urbana. Carregando a sua pesada câmara
percorria as ruas e avenidas de Paris. As pessoas não lhe interessavam. Queria
preservar as construções que sentia condenadas pelo avanço do chamado
progresso, assim como recantos que, a seu ver, mereciam atenção por motivos que
muita vez fugiam do transeunte apressado. Não será por ironia que se tornaria o
grande fotógrafo que é senão depois de colher o laurel da morte.
Conservar o
belo e o perfil de um bairro é um trabalho meritório, e Ipanema faz por
merecê-lo.
Honremos,
senhor Prefeito Eduardo Paes, a ideia e o empenho de um seu predecessor.
Restauremos a sua evocação da Ipanema de meados do século passado, pela
contribuição dada à alma carioca.
Mostre grandeza ao recuperar
o bom propósito de seu antecessor, e de forma que seja infensa à cobiça dos gatunos.
A cultura é
importante, como dizia Rubem Braga, e mais ainda, se surge com as defesas para
os tempos em que vivemos.
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