quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Estatísticas


                                               
           Umas das sinas do fim de ano se aninha na compulsão de registrar pelos números o que se pense se deva anotar ou realçar, quando ou até quanto o calendário vigente, na sua aparente verdade numérica, nos revele, insinue  ou deixe de revelar - o que pensamos, no pobre, absurdo egotismo de cada mortal, venha a ser impositivo e, por isso, na própria presença que reputamos real e por isso, em nos ficando junto, passível de assinalar, reconhecer  ou até mesmo reverenciar.

               Tenha sobretudo presente - seja você quem for, meu eventual, irregular, persistente, acaso insistente, porventura difidente, mas de certa estranha, imponderável forma atraído a essa algo abstrusa relação com o presente amiúde arredio, brilhante, contrastante, por tempos encantador e portador de verdades que a tantos outros pensamos venham a eludir, e por outras vezes, em fantasia diversa, chão, contristador, confuso, quiçá calcado no complexo, quem sabe caricato nos vazios dicta de jornais que tremem diante da perspectiva de serem confundidos nas inanas refrações da sobra, refugo ou rastro de cada jornada, muita vez escondido em ambiente  seja alusivo, seja enganoso, ou quem sabe até confuso de  o que chamamos, por injunção de Cronos, a presença desse Tempo, que pode ser amigo, inspirador, mas também pétreo e inacessível - o que é na realidade até pior, ausente, na gélida indiferença de o que se cerra ou para além persiste e permanece.  

                 Na verdade, o que é Cronos senão o incongruente limite de um carrossel austríaco que nos gira à volta tanto impiedoso, quanto chocarreiro, carregado a uma vez de gélidas, por vezes tenteantes imagens, mas que para ele ignaro que é  da realidade que reputa agressivamente desimportante, pouco mais de que fantasias sem sentido de um baile que nunca termina, a não ser no mudo momento de movimento que não tem pé nem cabeça, se porventura excluirmos do infeliz a presença que pode diluir-se nos ecos do lancinante, de o que está desprovido de senso, de o que assusta e afaga, afirma peremptório sem saber que não é, nem será entendido;  e por isso, minha gente desses Brasis, se aferra de forma incongruente, temeroso que é das iniciativas terminais - àquelas que usavam ter começo, meio e fim - e que por isso se apega, contra tudo e quase todos, a um retiro fora do tempo, nesses dias de fés implantadas por decreto, enquanto a voz e a vez da velha mas ainda vigorosa (porque veraz) Igreja ecoa muito além do borgo mal-sinado, na inamovível certeza dos santos e das revelações, porque a Voz pode às vezes fraca parecer mas há de mover montanhas, enquanto o Tempo e o seu  Supremo Senhor irão aos poucos varrendo o que é falso, o que mendaz e enganoso brilha, e ,
por isso, tende não raro a ser confundido com as falsas mensagens que se vestem com os trajes fátuos e brilhosos, de tudo aquilo que vai passar - e mais depressa de que muitos ousam pensar...

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