sábado, 3 de agosto de 2019

Opinião de Salvador Nogueira


                                  
        Da coluna de Salvador Nogueira, julgo relevante registrar -lhe o parecer no caso do episódio do INPE.  "É assustador  quando o 'bullying' vira política de estado. Não há outra maneira de definir a decisão do presidente de exonerar o diretor do INPE, Ricardo Galvão. Mas fica também a lição que se aprende na escola: não podemos  nos deixar intimidar pelos valentões.
          "Nem percamos tempo fingindo que foi o ministro Marcos Pontes quem tomou a decisão, porque o único papel dele no episódio, lamentavelmente, foi de capacho, subserviente aos desígnios farsescos que reinam no andar de cima. (...) A diferença dessa para outras frituras, foi a altivez e a convicção do friturado. O diretor do Inpe perdeu zero segundos se perguntando se deveria aguentar calado às ofensas ou responder à altura o valentão da escola, alçado ao cargo mais importante do país, de onde se julga, de forma ilusória, supremo.
             "Galvão optou pelo caminho da ciência, pautado pelas boas práticas que trouxeram  uma sequência exponencial de progressos para a civilização. Fez a defesa técnica e moral de seu trabalho e de sua instituição, e chamou a atitude do presidente que nenhum dicionário reprovaria: pusilânime e covarde.
             "Essa foi a novidade. Alguém topou enfrentar o valentão.
              " O desfecho era mais do que previsível. Num sinal de que ainda resta alguma civilidade (e a luta é diária para não nos desapegarmos dela) terminou apenas exonerado. Noutros tempos, poderia ter sido pior.
                 " Fica o exemplo a ser seguido, não só pelos servidores do Inpe, mas por todos os cientistas do Brasil. É um pedido: não abandonem a verdade dos fatos em nome de conveniências, quaisquer que sejam.
                   "Fingir que fatos e dados não existem, que estão errados, ou que são fabricados, não resolverá o problema do desmate, das mudanças climáticas, do desemprego, da fome, de massacres indígenas ou de qual-quer outra chaga sócio-ambiental. O único caminho para políticas públicas eficientes é o que passa pelo diagnóstico correto dos problemas. Numa democracia de verdade, isso necessariamente se faz diante dos olhos da sociedade. (...)
                     "Este foi apenas mais um round na luta exaustiva contra o obscurantismo (que ocupou o Planalto, mas vai além dele). Haverá outros.
                       "Que os próximos sejam enfrentados com a mesma altivez com que Galvão, em nome da verdade, encarou o bullying do presidente."

( Fonte: Folha de S. Paulo )

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