sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Cresce na Inglaterra a união contra o diktat de Johnson


               
        Segundo a prestigiosa revista Economist, deve ser combatido o estratagema planejado pelo premier Boris Johnson para impedir que os membros do Parlamento britânico desviem o país do rumo inconsequente que ele estabelecera para deixar a UE, com ou sem acordo, a 31 de outubro.  A revista reconhece como tecnicamente legais tais ações, mas elas estendem os limites das convenções da Constituição: a rationale dele lhe expõe a fraqueza, eis que sendo fraco por demais para convencer o Parlamento em uma votação, a alternativa para Johnson é fechá-lo e, em consequência, silenciar o Parlamento... Parece muito lógico, portanto, que numa democracia representativa, essa tática crie um perigoso precedente.

           Para o Economist, ainda não é tarde demais para que os deputados consigam frustrar os planos de Johnson, desde que se organizem.  Pois é enganoso o senso de inevitabilidade quanto a não-acordo, sentido este que é diligentemente cultivado pelos radicais da linha dura que aconselham Johnson. Como se verifica, a própria União Européia é contra tal resultado; a maioria dos britânicos se opõe a isso; o próprio Parlamento já votara contra a idéia, no tempo de Theresa May.
                  Na atualidade, porém, os parlamentares  porventura  determinados a interromper o curso dessa proposta do Não acordo estão divididos e sem um foco e um líder confiável.  No entanto, quando voltarem aos trabalhos na próxima semana, na única brecha ora disponível, eles terão a fugaz oportunidade de  evitar essa calamidade nacional indesejável.  As ações do premier Johnson na corrente semana deixaram claro que eles precisam  aproveitá-la.
                     Dada a complexidade envolvida pela negociação do backstop (mecanismo que impede a criação de uma fronteira entre as duas Irlandas - a católica, independente e a protestante, inglesa) essa mesma complexidade poderia ser instrumentalizada para inviabilizar qualquer acordo, como aconteceu com a promessa de Theresa May...
                        Por isso, para o Economist, diante do escasso tempo restante e de sua complexidade, os parlamentares rebeldes deveriam estar prontos para usar sua arma de último recurso: expulsar Johnson do cargo, com um voto de desconfiança. Deve-se, de resto, ter presente que o premier atualmente dispõe de uma maioria ativa de apenas um voto... Há problemas, no entanto, quanto a confiabilidade de seu substituto mais provável, i.e., Jeremy Corbyn, o líder trabalhista de esquerda, que assusta a revista Economist, ou então, uma figura mais neutra...
  
                            Para o Economist, se as várias facções que se opõem ao não-acordo não chegarem a um acerto, Johnson vencerá.   Mas a revista ainda dispõe de um argumento forte: se os opositores careciam de um motivo para deixar de lado as respectivas diferenças,  Johnson acabou de lhes dar um. Pois, o Primeiro Ministro se mostrou disposto a reprimir  a democracia parlamentar para alcançar os seus objetivos. 
                       Em tal contexto, parece difícil, arriscado mesmo, vacilar nesta hora, pois se não fôr agora, então quando ?  

( Fontes: O Estado de S. Paulo, que reproduz a revista Economist. )

Nenhum comentário: