quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Itália: a esquerda volta ao poder


                                   

         Ainda que em coalizão, o Partido Democrático, em acordo costurado por Matteo Renzi, formou aliança com o Movimento 5 Estrelas (M5S) , de Luigi  Di Maio. É um retorno ao poder do atual Partido Democrático, pois na verdade se trata do antigo Partido Comunista Italiano (PCI). Não sei apenas se a sede desse avatar do antigo PC continua a situar-se nelle Botteghe Oscure.

            Do outro lado, dando o número necessário para uma governança estável, se acha Luigi di Maio, o líder do Movimento Cinco Estrelas.

             "Castigado" por haver forçado a queda do gabinete anterior, Matteo Salvini, da Liga, de extrema direita, configura na realidade o perdedor da crise, por ele mesmo criada, embalado que foi em falsas presunções de que poderia instrumentalizar a popularidade obtida pelo estilo autoritário de governança com a promoção a Primeiro Ministro, como se para tanto bastasse a proibição na prática de a Itália dar guarida às centenas de africanos, que recorrem a forçar a sua admissão na península, ao fugirem de nações fracassadas como a atual Líbia e outras terras, assoladas por crises, que tornam a saída do desespero através de precárias embarcações no mar Mediterrâneo a sua única esperança.

                   Na sua primeira refrega política - em que postulava formar gabinete sob sua direção - Salvini falhou miseravelmente, ao exagerar nas próprias ambições e personalizar a ânsia psicológica  de assumir a chefia - emulando o exemplo de seu idolatrado Duce, a par de  provocar pesado prejuízo à Nação italiana com o seu açodado egoismo político.
  
                 O irônico de tudo isso é que o neo-fascista Matteo Salvini vê no poder uma criatura de que pensara dele livrar-se com facilidade. Na verdade, Giuseppe Conte, jurista e professor universitário, apesar de não ter força política própria, mostra possuir habilidade suficiente para ora ser reconduzido à posição de chefe de governo.

                      Com efeito, ele será chamado pelo Presidente Sergio Mattarella,  que o encarregará de formar o Conte 2.  O PD - ex PCI - fez questão de sublinhar que o novo mandato de Conte não tem relação com o anterior. É um desafio, disse Nicola Zingaretti, lider do PD.  Na realidade, mesmo sem poder próprio,  Conte já mostrara que tem habilidade política para sobreviver com seu novo gabinete em Palazzo Chiggi. A esse propósito, contudo, configura um senhor repto lograr conciliar os dois partidos, ambos ditos de esquerda, mas os ex-comunistas têm várias querelas contra o Movi-mento Cinco Estrelas e exigirá muita habilidade do professor Conte em conciliar essas duas facções cujas relações até o presente mostram muitos choques e poucas concordâncias.

                       A politica de imigração italiana também deve sofrer alguma modificação, com menos 
rigidez, e mais habilidade de Conte, para lidar com o desafio das embarcações de resgate que se sucedem no Mediterrâneo, tangidas pela miséria africana e a crise que assola muitos países africanos,  que um dia terá de forçosamente predispor o Ocidente em uma possível conferência pan-africana a criar condições para que a África volte, dentro do respeito aos direitos humanos, a estabelecer novas bases para que o porvir passe a refletir a potencialidade da economia de muitos daqueles países,  hoje vítimas, em triste número, de governantes corruptos, incompetentes ou mesmo de conflitos fratricidas.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )  

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