segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Do artigo "Pró corrupção", da Cantanhêde


                     
       Será sempre um prazer ler Eliane Cantanhêde?  Eu, na minha modesta posição de blogueiro respondo com um tranquilo sim, porque no Estadão tenho a oportunidade de ouvir essa voz que, se não está no deserto, não se ouvem nem lêem tantas assim, com a sua percepção, franqueza, habilidade (eis que os aspectos negativos devem ser expostos,  mas com a segurança de quem os entende em todas as suas conexões) e a coragem sem estardalhaço, dir-se-ía até discreta por vezes, mas ao cabo firme, como as assertivas que discrepam das várias colunas de tantos outros diários...
          A Cantanhêde não a conheço nem de vista, nem de chapéu, se a antiga frase é ainda cabível,  mas tenho de longe lhe seguido o percurso, hoje no Estadão. Outro jornalão de São Paulo, que ainda está muito vivo e em outra posição - o que é deveras produtivo, se se tiver presente o choque e o entrechoque das ideias,  já há algum tempo, a ela que não por prêmio pretendia, pensou que teria chegado o tempo de dar oportunidade a outrem, e cometeu para muitos - entre os quais esse modesto leitor - o erro  de prescindir de seus serviços tão profissionais, quanto do respectivo conhecimento e vivência política.
             Não trepidando em dispensar-lhe os serviços profissionais, ainda que assinala-dos por capacidade, coragem e convicção, sem o querer, a Folha proporcionou as necessárias condições para que a Cantanhêde luzisse com o seu tino profissional nas páginas de O Estado de S. Paulo. 
               Graças, dessarte, à capacidade da jornalista, os leitores do Estadão encontram nos comentários sobre Política observações tão oportunas, quanto apropriadas, que não raro surpreendem não pela sua existência quanto pela circunstância de omissões que, na pressa com que muitos acompanham a imprensa, pode levá-lo àquela homenagem, na aparência singela, e que é feita àqueles trabalhos  que mais dizem de o quanto  neles esteja escrito. Nesse contexto, cabe menção especial à sua coluna sobre Impessoalidade, um tema difícil e delicado, porém tratado com maestria por essa grande profissional da imprensa.
                  Outra coluna sua lembra a música de Chico Buarque de Hollanda, e as pedras jogadas na Geni. Mas a sua postura - e não poderia deixar de sê-lo - é em defesa do herói da véspera.  E se permitem, cabe transcrever algumas linhas da coluna desta sexta: " (o) derrotado nesses três exemplos é sempre Sérgio Moro, que deixou de ser superministro e troféu. Perdeu o Coaf, fundamental contra a lavagem de dinheiro, perdeu o direito de nomear metade dos integrantes do Cade, vê o presidente metendo a mão na PF, e, em vez de aprovar  seu pacote anticorrupção e anticrime, tem de engolir goela abaixo o oposto: a lei do abuso, com alta carga de subjetividade."
                     Ao final, a propósito dessa estranha revirada, a colunista se pergunta: "Por que agora  e tâo rápido? E por que engavetar as dez medidas contra a corrupção, depois o pacote Moro e colocar no lugar justamente o oposto? A resposta é clara: a gangorra inverteu. A Lava-Jato perdeu fôlego, as forças inimigas dela se fortaleceram. Não se combate a corrupção, combate-se quem e o que combate a corrupção. Isso pode sair muito caro, inclusive internacionalmente."

( Fonte: coluna da Cantanhêde no Estado de S. Paulo, a 16 de agosto corrente )



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