quinta-feira, 20 de junho de 2019

Onyx perde a articulação política


                                            
         Depois de sucessivas derrotas no Congresso, e a pressão do Ministério da Economia por mudanças, o presidente Bolsonaro decidiu mexer na articulação política. Ela passou das mãos do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e vai para o recém-chegado  Luiz Eduardo Ramos, general  da ativa, nomeado para a Secretaria de Governo.
             Como assinala o Estado de S. Paulo, ao contrário de alterações recentes feitas na equipe,  o presidente Jair Bolsonaro foi cuidadoso ao esvaziar os poderes de Onyx, seu aliado da primeira hora.  Ao mesmo tempo em que retirou dele a articulação política, deu ao ministro da Casa Civil a coordenação do Plano de Parceria de Investimentos (PPI), programa responsável pelas concessões de infraestrutura e por tocar privatizações.
               As alterações, feitas por meio de uma Medida Provisória, acontecem após a demissão do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo. A  saída do militar, na última semana, fez aumentar a disputa pelo espólio da poderosa pasta, que é igualmente responsável por toda a verba de comunicação do Governo.
                Malgrado as instâncias do Ministro Paulo Guedes, que chegou a brigar nos bastidores pelo PPI, o presidente, no entanto, preferiu repassá-la a Onyx, Sem embargo, a Casa Civil perdeu ainda a subsecretaria de assuntos jurídicos. Com isso, a nova função do ministro Lorenzoni será mais burocrática, eis que as decisões estratégicas do PPI dependem de um conselho de ministros.
                  Deve notar-se que as críticas do Congresso ao trabalho de Onyx Lorenzoni eram compartilhadas por muitos de seus colegas de trabalho.  Nesse contexto, interlocutores do ministro Paulo Guedes, da Economia,  se queixavam de ele ter que assumir a articulação política da reforma da Previdência diante das falhas do Ministro.
                 Logo após o anúncio, Onyx foi prontamente para a residência do Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) que não se manifestou sobre a mudança. Por outro lado, correligionários do ministro tentaram minimizar o esvaziamento da Casa Civil, sob o argumento de que  o PPI é "poderosíssimo", como resumiu Maia a aliados.
                  Tal foi na essência o mesmo argumento empregado pelo líder do DEM na Câmara, o deputado Elmar Nascimento (BA), que chegou a afirmar que  a troca na articulação política "não faz diferença nenhuma".  Essa mesma tônica - em suma que Onyx continua prestigiado - vem sendo usada pelos próceres do DEM e do PSL. Assim, em entrevista a Globo News, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) disse que o general Ramos (oficial da ativa que vem de ser nomeado para a Secretaria de Governo) tem o "perfil ideal" para a articulação política com o governo, posto que  Onyx esteja fortalecido com a função burocrática que  recebeu.
                       A par disso, esse discurso não convenceu outros parlamentares, em especial os  dos partidos do Centrão, que tem reclamado bastante quanto à maneira com que são tratados pelo Planalto.
                         A articulação política do Governo Bolsonaro tem sido bastante sofrível. Com efeito, o novo Governo tem acumulado derrotas no Congresso  que colocaram em xeque a governabilidade e diminuíram o poder da caneta do Presidente.  Da flexibilização à posse e ao porte de armas, derrubados anteontem no Senado, à volta do Coaf ao Ministério da Economia, parlamentares sob a influência do Centrão tem tolhido a atuação do novel Governo de Bolsonaro.
                           Acumulam-se medidas que estão na contramão da orientação da nova Administração.  Assim, a Câmara tornou impositiva a execução de emendas de bancadas estaduais, o que complica claramente o quadro fiscal, e o Senado impôs novo rito de tramitação para as medidas provisórias, o que tenderá a exigir trabalhosa negociação de parte do Executivo.
                              E os sinais de que tal orientação negativa continue não faltam.  Dessarte, ao rejeitar a flexibilização do porte de armas, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou que a "raiz da decisão" era  o Congresso avisar ao Planalto que o presidente "não pode continuar governando" pelo poder da caneta.
                               Novas derrotas estão no radar, segundo assinala o artigo do Estado, que é assinado por Eliane Cantanhêde, Anne Warth e Mariana Haubert. Essa reação congressual, como assinalado pela Cantanhêde, como as alterações propostas pelo presidente (fim da multa para quem transporta crianças sem o uso de cadeirinhas próprias). Também correm risco parte do pacote anticrime do Ministro Sérgio Moro, em que ficariam de fora o excludente de ilicitude e a prisão em segunda instância.
                                 Quanto a ser derrubada a prisão em segunda instância, ela é, não obstante, necessária - como já o determinaram campanhas passadas, diante do abuso de que criminosos já sentenciados se venham a valer de sucessivos recursos para postergar sentenças, ao arrepio do sentimento popular.  No entanto, o que se deve evitar é que tais medidas possam ser implementadas sem a adequada campanha de conscientização da população. Não há dúvida que à população civil revolta a indústria do recurso, como já foi demonstrado no passado pelo abuso de tais recursos, máxime em casos de manifesta culpabilidade do réu.                        


(Fontes: O Estado de S. Paulo e  O Globo )

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