sexta-feira, 21 de junho de 2019

Culpada a Rússia pela queda do vôo MH 17 na Ucrânia ?


        

      A Holanda e a Austrália responsabilizaram a Rússia pelo desastre com o vôo  MH17 da Malaysian Airlines, que caíu  a 17 de julho de 2014, em planície no leste da Ucrânia, então zona de conflito entre o Exército ucraniano e os separatistas pró-Russia, estipendiados pelo governo russo de Vladimir Putin.
          A equipe de  Investigação Conjunta (JIT) indiciou ontem três russos e um ucraniano por envolvimento na queda do vôo MH17.  Nesse sentido, o promotor-chefe holandês, Fred Westerbeke, e o chefe da polícia, Wilbert Paulissen, anunciaram que serão emitidas ordens de detenção internacional para os russos Sergei Dubinski, Oleg Pulatov e Igor Girkin, assim como para o ucraniano Leonid Kharchenko.
            Nesse sentido, será feito pedido oficial à Russia para que sejam interrogados os suspeitos, a título de assistência legal ao processo judicial.  Infelizmente, no entanto, as constituições tanto da  Federação Russa, quanto da Ucrânia proíbem a entrega dos respectivos nacionais a países estran-geiros, para serem julgados.
            Tanto a Holanda, quanto a Austrália responsabilizaram a Rússia  pela queda do avião da Malaysian Airlines, pois uma brigada russa forneceu o sistema que lançou o míssil BUK, que causou a tragédia, uma das maiores na história da aviação comercial, eis que morreram 298 pessoas, sendo 193 de nacionalidade holandesa.
             Os acusados dessa catástrofe aérea  muito provavelmente só poderão ser julga-dos à revelia, pois não é nada provável que o governo da Rússia  autorize a entrega dos suspeitos, segundo a já citada equipe de Investigação Conjunta.
               Mas a investigação do grupo Bellingcat, que analisou 150 mil diálogos telefônicos entregues pelos serviços de segurança da Ucrânia, e publicou a dezenove de junho corrente um novo e atualizado relatório, no qual são identificados, com nome, sobrenome e fotografia, oito pessoas, que são agentes russos e insurgentes ucranianos, que estão envolvidos nesta tragédia da aviação civil internacional, certamente um dos maiores desastres da aeronáutica, provocado, com dolo evidente, pelos ditos agentes da Rússia.

                 Naquele fatídico dezessete de julho de 2014 o aludido vôo - que fazia a rota entre Amsterdam e Kuala Lumpur - foi estúpida e brutalmente abatido por um míssil terra-ar BUK, de fabricação russa. Passados quase cinco anos dessa hecatombe na aviação civil internacional,  por mais de um punhado de anos muitos dos cadáveres de passageiros inocentes terão jazido naqueles desolados espaços, na vã espera que as autoridades fizessem as necessárias diligências para que lhes fosse dado, como a todos os mortais, sepultura digna nos seus respectivos países.  Pois não seria nas estepes da Ucrânia, um país pacífico que ainda hoje luta pelo respeito e preservação da própria independência, objeto que é de ataques, dirigidos ou estipendiados pelo Kremlin, que seria o local apropriado, na sua quase desolação, para abrigar tantas vítimas inocentes de um hediondo crime de guerra. Não faz muito, decerto, que a Federação Russa cometeu outra agressão  contra a Ucrânia, a quem gospodin Vladimir Putin, senhor de todas as Rússias, mandou que lhe fosse arrebatada a península da Crimeia, por uma força que apesar de não ter sinais nacionais nos respectivos uniformes, não disfarçava qual era o poder que a encarregara dessa execrável tarefa.       

                      Infelizmente, as realidades da política e do direito internacional não permitem que tais horrendas infrações ao direito das gentes sejam julgadas tanto com presteza, quanto no lugar adequado.  Por isso, aqueles que são indiretamente responsá-veis  por esse mega-desastre aéreo  - e aqui cabe a frase célebre de Virgilio, na Eneida - horresco referens [1]- descuidaram, por desatenção ou negligência,  ao tornar realidade esse  brutal acidente aéreo - que espero ainda não haja resultado de um dolo específico, mas sim de eventual culpa, provocada por ocasional desatenção,   - uma consequência direta de confiar-se tais máquinas bélicas que podem causar tantas mortes a agentes a que não deveriam ser confiadas, tanto no seu menosprezo pelo direito de todos, quanto na respectiva incapacidade de aquilatar a enormidade dos mega-crimes que eventual imprudência de que lhe sejam entregues armas tão sofisticadas e, em consequência de demasiado alta periculosidade, para que venham a ser cometidas a autoridades de menor hierarquia.

                            Como encontrar soluções para que tais tragédias - fruto legítimo da húbris criminosa e de negligência que vai muito além das humanas precauções - possam ser evitadas, poupando a todos e, em especial, à gente de boa vontade, que se criem condições materiais com a necessária eficácia para que se possa varrer da História tais hecatombes, ao estabelecer-se a necessária, imprescindível transparência para que não mais venham a concretizar-se tais matanças, que devem envergonhar a todos aqueles que, direta ou indiretamente, hajam eventualmente contribuído, por imperícia ou negligência, a que se formem as condições materiais necessárias para que elas surjam  e eventualmente atuem para que tais tragédias se materializem, em áreas ou mesmo países de que as possíveis e ignaras vítimas  nada saibam. Tais imprecisões, tais longínquos conflitos que, de repente, por artes do demônio, venham a transformar-se  em fontes de lágrimas, fundo desespero,  e de tantas suspicácias a respeito daqueles infelizes, pacíficos seres humanos, que mal descortinavam a sorte madrasta que muito abaixo das nuvens e das extensas planícies, lhes estava sendo preparada, a eles,  humanos seres do planeta Terra que apenas pretendiam viajar, ou por causa de entes queridos, ou de belezas naturais que desejavam conhecer, e que viessem a serem colhidos por um mensageiro da fatalidade, que provinha de ignotas estepes, pois seja dito uma vez mais, que eles nada sabiam sobre o que haveria naquela terra, que, de repente, se tornaria brutalmente relevante e, por isso, implicada na tragédia aérea, sem que nenhum dos 298 passageiros sequer pensasse na absurda hipótese daquele vôo, de  que thanatos  se apossara da cabine de comando, de repente a magra  assumisse os controles e sobretudo os descontroles, com o geral desespero, por ventura fulmíneo, diante do súbito, irresistível mergulho que poria fim àquele congraçamento de vontades, ilusões, antecipações e até tímidas esperanças, eis que, em questão de minuto, quiçá segundos, a aeronave despencaria na queda sempre vertiginosa, até lenta e soturnamente transformar-se em notícia, nas terras longínquas e tão caras a todos aqueles que a tinham embarcado, com a alegria esperançosa que acompanha a qualquer  viajante. Pois todos esses infelizes - duzentos e noventa e oito deles - seriam colhidos por outra travessia, que no seu fatal e enlouquecido despencar  de forma quase instantânea se tornasse a causa de que todos aqueles seres humanos viajassem com a rapidez da fatalidade inexorável não mais para a destinação marcada em seus bilhetes, e sim para o chão de  nação  a que nunca realmente conheceriam, para a terra agreste e dura daquele país, a que tinham sobrevoado mas que de cujo destino nada conheciam  para um país de que nada sabiam, inda que para eles todos, velhos, homens, mulheres e crianças, iria transformar-se no incerto e brutal choque com aquela terra ignota que no baque surdo se torna a precária nuvem de poeira que, por escassos minutos,  vai vestir  a provisória sepultura de  terminal e adversa fatalidade, como se a natureza daquelas paragens solitárias aos poucos se recompusesse s daquela brutal intromissão.

( Fontes: O Estado de S. Paulo; Virgílio, Carlos Drummond de Andrade, Neville Chamberlain.)


[1] sinto horror ao relatar (Eneida)

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