Como os meus
leitores terão presente, a falta de
manutenção e de conservação do ambiente - tanto natural, quanto artificial - é
uma das características que marcam o meio ambiente do Rio de Janeiro.
É a triste regra de uma
sucessão de administrações que tenham a ver com a
tão louvada Cidade Maravilhosa.
Gaúcho,
por circunstâncias familiares que se relacionam a um desastre aeronáutico a que
já me referi por muitas vezes, e ainda criança vim para a então Capital
federal, e aqui cheguei, como era costume na época, por compreensíveis
contingências de transporte de bagagem, em navio da Costeira, em fins da
década de quarenta. Estávamos, então, na presidência do general Eurico Gaspar
Dutra.
Era
um outro Rio de Janeiro o que o aluno de Admissão encontrou quando chegou à
Capital Federal. Levado pela mãe, ou por meus tios, visitei a muitos museus,
como o Imperial da Quinta da Boa Vista. Recordo-me do quanto este impressionou
ao menino, pelos tesouros que ele encerrava, muitos desses chegados por
intermédio de nosso último Imperador. Pois foi pelo gritante desleixo das
"chamadas autoridades competentes" que se permitiu que esse
repositório, invejado por tantos países, fosse largado à criminosa negligência
de gerações de políticos, que condenaria aquela jóia à fogueira não de
vaidades, mas de falta de qualquer sentido de humana carência em preservar o
que nos foi legado pelo Império e as primeiras Repúblicas. Nesse caso do museu,
esqueceu-se de providenciar a correta manutenção do ar condicionado...
Já, outrossim, mencionei
neste blog os meus passeios pela baía
de Guanabara na lancha de meus tios Adolpho e Lucy. Era uma lancha com beliches
e cabine para o marinheiro que a manobrava. Na proa, tinha um espaço amplo,
para trans- formá-la em uma espécie de solarium,
no caso de mar calmo que ensejasse aos passageiros tomarem banho de sol.
Existia também cabine para os passageiros repousarem nos beliches, e um aviso
que mostrava o humor preferido do meu tio Adolpho. Nele se avisava aos
passageiros que o comandante da lancha estava autorizado a celebrar casamentos,
com a ressalva, porém, que tais
matrimônios só eram válidos dentro da lancha...
Tio Adolpho gostava
desse tipo de humor, e os seus olhos brilhavam quase com a malícia de uma
criança quando mostrava o dito aviso, e em especial a algum casalzinho que
convidara para o passeio na Baía.
Apreciava muito a
oportunidade de tomar um banho de mar perto da fortaleza da Laje. Naquela época, a água da baía era límpida, e
em nada se parecia com o que é hoje.
Infelizmente, o passar dos anos e a incúria das administrações
posteriores transformaram a famosa baía
da Guanabara em uma superfície que deve ser vista de longe, pois a qualidade da
água para o banho de mar decaíu muito, chegando mesmo a ser dito que qualquer
mergulho, qualquer contado direto com a água que o desleixo de muitas
prefeituras ribeirinhas que não cuidam da sanitização dos próprios esgotos
transformara o que era uma piscina
natural a que se sentia grande prazer em nadar, boiar e mergulhar naquelas
águas pristinas, em uma experiência a ser evitada de toda maneira.
Outro espaço carioca que se tem
deteriorado bastante é a Lagoa Rodrigo
de Freitas. Hoje, raras são as pessoas
que - excluídas as competições aquáticas abertas a disputas para a
classificação olímpica - nessa superfície se aventuram. Correm rumores sobre a
existência de esgotos clandestinos que despejam na bela lagoa as águas negras
de prédios e outras construções da vizinhança. Será por isso que as raias dessa
Lagoa só são utilizadas por disputas de canoagem e de certamens de remo, com
todas as suas variações em termos de número das respectivas equipes.
Por isso,
não é incomum o fenômeno do morticínio de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas, o
que é atribuído a ocasionais deficiências na oxigenação da água, de que
participa como eventual suspeito um canal aberto na praia do Leblon, e cujo
eventual assoreamento tende a contribuir para o morticínio do pescado, o que incomoda
bastante a vizinhança da Lagoa, pelo cheiro que provoca. De paso,
se diga que é um fenômeno raro, mas que pelo seu caráter agressivo, em termos
de mau cheiro, constitui uma espécie de
ameaça que pode dissuadir eventuais moradores.
Por fim, recente matéria do jornal O
Globo sinaliza que a água turva da Rodrigo de Freitas esconde um perigo
invisível aos olhos. Com efeito, um estudo de UFRJ, que fez testes com
sedimentos depositados no fundo, mostra que a quantidade de metais pesados aumentou, afetando microcrustáceos e
ouriços-do-mar, base da cadeia alimentar.
A pesquisa, publicada no mês passado, na revista acadêmica "Environmental
Pollution", comparou amostras coletadas antes e depois das Olimpíadas e
revela que os índices de cádmio, cobre e níquel cresceram depois dos jogos. A
presença de zinco, chumbo e cromo também foi avaliada. Níquel e cromo são os
únicos metais que não passara do "nível 1", estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiene
(Conama), como limite para baixa probabilidade de efeitos adversos ao
ecossistema. Os demais, porém, estão
acima. Embora não hajam atingido o nível
2, que indica altos riscos ao ambiente marinho,os testes com microcrustáceos e
ouriços do mar mostraram alta
toxicidade, segundo a autora da pesquisa, a engenheira ambiental Mariana
Vezzone, que coletou as amostras em 2015 e 2017. No entanto, a especialista
Mariana frisa: "Não podemos nos esquecer da presença natural dos metais. O
zinco, por exemplo, é essencial, mas numa concentração muito baixa. Em níveis
altos, é danoso. Já o chumbo é tóxico, e
não precisamos dele em nenhuma concentração."
(
Fontes : O Globo; vivência carioca )