domingo, 22 de novembro de 2015

Vale a pena repensar o Brasil ?


                                  
         Infelizmente, essa pergunta nada tem de retórica.  Nos últimos tempos, o Brasil parece  um cemitério de oportunidades perdidas.

         Peço a boa vontade do leitor.  A eleição de Lula, em 2002, dera a impressão a muitos de que o país afinal se encontrara, e que a escolha do torneiro-mecânico e dirigente sindical que se transformara em líder partidário introduzia uma nova era na política nacional.

         Passados pouco mais de dez anos, perdura o motivo de regozijo e a generalizada impressão de que a governabilidade se alargou, e as velhas elites encontram afinal um novo representante, que trazia um sopro de democracia não mais confinado à turma do topo ?

          Nem o mais entusiasmado admirador de Lula ousaria responder afirmativamente a tal pergunta.

          Dentre todas as desilusões que trouxe o avatar de Lula, operário, por fim na presidência da república, é que este senhor, além das obrigações que incumbem àqueles que chegam aonde ele chegou, não tinha diante da massa popular que o elegeu o direito de agir de forma tão decepcionante e tão contrária às esperanças que motivara. Aquele que ascendera ao Palácio do Planalto como o corifeu da revolução democrática não tardou muito em transformar-se num arremedo dos coronelões a que supostamente viera não só suceder, mas aposentar dentro do novo Brasil.

          Na verdade, apesar de  não ter pendor pela leitura, como declara, se não leu, alguém o terá inteirado das oportunidades que o poder pelo voto lhe escancarava. Penso, a propósito, na sua continuação através da chamada mulher do Lula.

           Na terra dos caciques, e vindo do Nordeste, não surpreende que pensasse em governar através de preposto, como fazem tantos coronéis. No entanto, nesse espaço político, as coisas lhe sairam mal, porque a sua chefa de gabinete tinha idéias muito próprias que se provaram desastrosas para a economia brasileira.

           Mas voltemos ao começo. Se Dilma se provou incapaz no plano político, para tal há punições determinadas. Se os erros foram de gestão, os castigos têm de necessariamente sê-lo da mesma ordem. Para isso existe o impeachment, e a petição de autoria do Dr. Hélio Bicudo está parada na Câmara por condicionamentos fora da política. A esperança de muitos é que essa 'montagem' esteja por desmanchar-se, para que as famosas pedaladas fiscais venham a receber o julgamento e a punição que fazem por merecer.

            Dilma, ao que tudo indica, deverá receber o 'castigo' que já fez por merecer, por esse desgoverno, que tem trazido, a par da inflação de dois dígitos, tamanho desemprego, e tanto retrocesso na esfera econômica.

            Por outro lado, o caso de Luiz Inácio Lula da Silva é bem diverso. A sua eleição, em 2002, foi saudada com grande regozijo e não menor esperança. A grande maioria de seus eleitores pensava que punha no Palácio do Planalto um verdadeiro líder na travessia política do Brasil. Alguém que traria mais justiça e equilíbrio social, alguém que viera da pobreza e que a transcendera, ao superar-lhe as barreiras sociais. A simbologia sócio-política de sua progressão, de operário a presidente, parecia aos seus eleitores uma caução de justiça e equidade na presidência da república.

              Por isso que o desconforto e a desilusão tendem a pesar forte, diante de o que hoje se sabe, e pior, diante de o que se imagina possa revestir o que poderia ser uma grande conquista, tanto social, quanto política.

              Nesse contexto, é interessante citar um longo e informativo trecho de reportagem da revista VEJA. "Nestor Cerveró negocia um acordo de delação premiada há quatro meses. O Ministério Público resiste a fechá-lo por entender que o ex-diretor  tem pouco a acrescentar às informações já colhidas pelos investigadores. Assustado com a prisão, o candidato a delator tem refeito depoimentos, acrescentado dados e ampliado os limites de sua memória, inicialmente bem seletiva, a fim de convencer as autoridades a topar  a colaboração. Caso isso ocorra, ele precisa provar o que disse, ou não terá direito à redução de pena.

"O Ministério Público tem sido rigoroso com Cerveró por dois motivos. Um deles decorre do entendimento de que alguns operadores e coadjuvantes do roubo bilionário à Petrobrás têm de ser condenados a penas exemplares. O outro está relacionado ao fato de o quebra-cabeça do petrolão estar praticamente montado. Já se sabe que o governo do PT criou o maior esquema de corrupção da história do país para financiar suas campanhas eleitorais e comprar o apoio de partidos e parlamentares. Já se sabe que essa engrenagem enriqueceu funcionários da estatal, lobistas e empresários à custa do contribuinte.  Já se sabe que as maiores empreiteiras do país fizeram favores pessoais a políticos poderosos, como o próprio Lula, que teve um sítio e um apartamento reformados pela OAS e faturou milhões de reais dando palestras às mesmas empreiteiras  que desviaram dinheiro da estatal e financiaram clandestinamente sua campanha eleitoral."

                Duas colunas apresentam, na vertical, o quadro sinótico da organização criminosa que é investigada pela Operação Lava-Jato. É interessante examiná-lo: abaixo da misteriosa (?) figura do Chefão, representada por uma sombra, estão quatro figuras no primeiro escalão: João Vaccari (preso), José Dirceu (preso), José Carlos Bumlai (o Amigo de Lula - investigado), Antonio Palocci (investigado). Abaixo, em planos sucessivos, Edson Lobão (investigado) e José Sergio Gabrielli (investigado); a seguir, a trinca dos corruptos:  Renato Duque (preso), Nestor Cerveró (preso) e Paulo Roberto Costa (preso). Abaixo o quarteto dos corruptores, todos presos: Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro (OAS), Ricardo Pessoa (UTC) e Otavio Azevedo (ex-presidente da Andrade Gutierrez). Por último, os partidos receptores: PT, PMDB e Partido Progressista (PP)

                                                                              (a continuar)

( Fonte:  VEJA )        

Nenhum comentário: