domingo, 29 de novembro de 2015

Colcha de Retalhos C 46

                                 
A Corrupção

 
         Mais uma vez,  pode verificar-se o quanto o povo é capaz de identificar quais são os grandes problemas nacionais, assim como colocá-los dentro da real dimensão de sua gravidade.

         Não surpreende, portanto, que a ultimíssima pesquisa do Datafolha venha a identificar a corrupção como o maior problema do país.

         Desde algum tempo, se difunde a impressão de que a sensação entre  certo e  errado perdeu  sua antiga nitidez, e se torna para muitos um condicionamento circunstancial que depende não de conceitos nítidos e imutáveis, mas de eventual tendência de valer-se de oportunidades em que avulte a sensação/impressão de que é grande a possibilidade de levar vantagem, pela falta ou fraqueza dos eventuais empecilhos concretos, éticos e  morais.

         Esta situação social é produto decerto de muitos fatores. Já no século passado, a chamada lei de Gerson - sempre que possível, levar vantagem em tudo - é uma decorrência do famigerado jeitinho brasileiro, que acompanha   nossa sociedade  desde o século XIX pelo menos. Isto se vê na expressão para inglês ver, que é uma descrição de nosso povo na época do Império, para caracterizar  a  atitude das autoridades ao lidar com visitas de súditos da Coroa britânica,   a fim  de que tivessem impressão favorável da terra brasileira.

           Por que  analisar essa atitude tendente a montar pavilhões Poniatowski para que o visitante de Sua Majestade Britânica (ou autoridade estrangeira que nos visitasse ex officio) viesse a nos julgar melhor?

           Será complexo de inferioridade o chamado jeitinho brasileiro?

           Essa fraqueza em termos éticos, essa atitude que escolhe o certo não porque ele seja preferível em termos absolutos, mas pela simples razão de estabelecer a barra ética mais alto (ou no nível que se presume seja o do visitante),  decorre  de relação de conveniência momentânea, em que se monta um pavilhão para inglês ver, ou se adotam medidas extraordinárias, não porque se acha que devam ser sempre estabelecidas, mas pela simples razão de tapear o estrangeiro e montar um panorama Poniatowski pelo tempo (em geral curto) em que é necessário.

           Assim , temos o reforço do policiamento - que chega a intensivo - durante os certamens internacionais que sediamos, a adoção de medidas preventivas que afastam  os indesejáveis ou os fora da lei dos locais frequentados por visitantes e turistas.

            Esta reação é típica do ad hoc brasileiro. Não é que ele não seja para valer. Nós brasileiros bem sabemos o seu prazo de validade, que costuma ser curtíssimo (enquanto o grande espetáculo estiver em andamento e nos poucos dias em que os turistas/visitantes devam ir embora).

            Mutatis mutandis, ele parte sempre da necessidade de infundir a boa (enganosa) impressão. A autoridade age sempre dentro dos estreitos limites de um brevíssimo prazo de validade.

             Medidas mais permanentes, tomadas a partir de um bom exemplo - qual a visita multitudinária do estrangeiro - serão sempre evitadas, talvez porque a autoridade não pense que o local mereça um tratamento - como diria alguém torcido pelo circuito Elizabeth Arden - de Primeiro Mundo em caráter permanente. Tudo para o local - que aliás paga os impostos - será contingente, isto é, dependerá de circunstâncias que são tristemente alheias à sua vontade.

             Nesse contexto, tenho um exemplo que me ficou, incômodo, na memória. Lembram-se da famosa tomada do Alemão, ocorrida há alguns anos atrás, e que foi operação a exigir o apoio das Forças Armadas (inclusive com blindados próprios)?  No oba-oba das autoridades, inclusive do Governador a alçar bandeiras comemorativas, ao final saíu  daquela imensa favela um tropel de uns trezentos bandidos, que fugiram pela estrada de terra, que liga aquelas terras antes fora do controle das autoridades, com a cidade do Rio de Janeiro. A ocasião foi filmada para que ficasse na memória coletiva. Houve até comemoração. No entanto, na cabeça de muitos passou a ideia de por que   não prender aquela gente que apenas escapava de situação adversa, mas que decerto não mudaria de hábitos no futuro. Nada foi feito, além do filme para divulgação dessa vitória de Pirro...

  
Outros dados da Pesquisa Datafolha

 
                Dentre os entrevistados no último Datafolha,  47% afirmou que não votaria de maneira alguma em Lula, se ele sair candidato em 2018.

                Os registros do Instituto assinalam que apenas Ulysses Guimarães, em todo o histórico do Datafolha, assinalou registro maior de rejeição:  52% de rejeição, em 1989, quando foi candidato pelo PMDB.

                Vê-se quanto pode ser injusta uma rejeição. Ulysses decerto pagava o preço da baixa popularidade de  José Sarney, o então presidente.

                 Quanto ao Congresso, 81% dos consultados é de parecer que o mandato de Eduardo Cunha deveria ser cassado.

                  É igualmente alto o índice de desaprovação do Congresso que está em 53% (era 42% em junho).

                  Para 65% dos eleitores, o Congresso deveria abrir processo de impeachment contra Dilma.

 
 
Posição da Presidenta no Datafolha

 
            
                 A melhora de Dilma Rousseff nas pesquisas  continua na faixa terminal, por assim dizer.

                  Atualmente, os que acham seu governo ruim ou péssimo são 67% (eram 71% em agosto). Os que julgam regular são hoje 22% (eram 20% em agosto).

                  Por fim, o acham Ótimo/Bom agora  10%, quando eram em agosto 8%             

                  Ainda quanto à Dilma a maioria é favorável a que renuncie (62%).

                  É interessante, de resto, a posição popular quanto à abertura do processo de afastamento (Sim 65% e Não 30%) . Ela deveria renunciar? (62% Sim, e 34%, Não)

                  No entanto, o povo consultado, 56% não acha que ela será afastada, e 36% pensa que ela será afastada.

 

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo;  O Globo )

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