domingo, 1 de novembro de 2015

Por que não se muda o Brasil ?


                                   
        No passado, éramos conhecidos como a terra do café, carnaval e futebol... No entanto, um ensaísta de nomeada, Edward W.Said,[1] em um de seus livros nos comparou à Nigéria, como a nondescript  country, um país falto de características marcantes.

        Desde que colocou essas palavras no papel, já terá transcorrido decerto um bom tempo.

        Mais tarde, veio a época do acróstico dos Bric, uma criação em 2001 de Jim O'Neill. Esse acrônimo é reunião de quatro países (Brasil, Rússia, Índia e China), a que se agregou depois a União Sul-Africana.

        Na época, não havia muitas dúvidas sobre as perspectivas da RPC (que já é, de resto, a segunda potência mundial e que caminha para ser a primeira, ultrapassando os Estados Unidos), e as três outras, cresciam de modo marcante. A África do Sul seria uma adição mais política do que econômica aos Bric.

        Nesta década, porém, o ritmo mudou, notadamente para Brasil e  Federação Russa. O crescimento desta última tem sofrido por conta da crise do petróleo, cuja cotação vem baixando de forma pronunciada.  A crise econômica do Brasil tem como bem sabemos uma causa principal que é o desgoverno de Dilma Rousseff. Não nos tem favorecido igualmente a queda no mercado das commodities (entra século, sai século continuamos um país cuja economia se funda precipuamente nos produtos de base).

        Colocado diante da debilidade atual dos Brics, o inventor desse acrônimo partiu para o outro, os chamados Mint:  México, Indonésia, Nigéria e Turquia. O futuro do mundo estaria então com a hortelã e não mais com os tijolos (brick) ?

        Como idéia - e o quarteto inicial realmente inspirava respeito, a começar pela China, já a segunda potência econômica no mundo e runner-up (rival) da superpotência. Os outros países também apresentavam crescimento respeitável, e tinham todos o tamanho de grandes nações.

        Poder-se-á dizer o mesmo de Mint?   De todos é o México que melhor impressiona, mas não são pequenos os seus problemas, notadamente o da corrupção rampante no Estado e a concomitante presença do narcotráfico, que tem hoje seja talvez ainda maior do que tinha na Colômbia de Pablo Escobar o tráfico de drogas.

         Por outro lado, a Nigéria é o país de maior potencialidade no continente africano, mas enquanto o Estado não tiver força, e a corrupção não for a mola desse grande conglomerado de tribos, pode-se dizer que o seu crescimento ordenado se afigura economicamente possível ?

        Tampouco Indonésia e Turquia se afiguram hoje com PIB e credibilidade para subir nesse pedestal. Dessarte,  o mint semelha para mim mais uma bolação inteligente, do que uma previsão de presença futura entre os realmente grandes na economia mundial.

        De qualquer forma, a economia brasileira e a sua insegura posição atual se deve ao desastroso governo de Dilma Rousseff, que não só nos trouxe de volta a inflação (acima de dez por cento), quanto a mega-confusão que instalou na economia, partindo para inversões altamente onerosas (bolsa-família - a ponto de o relator do Congresso propor um corte de dez bilhões de reais), além de outros programas ultra-concessivos (desonerações fiscais para favorecer a indústria automobilística, que é estrangeira), a par de orçamento que registra um buraco de cento e vinte bilhões de reais.

      Parece que a solução encontrada para esse problema será ver-se livre do chamado ajuste fiscal. Junto com ele, como se fosse água de barrela, tudo indica que vá junto o Ministro Joaquim Levy. Sendo o único que inspira confiança ao mercado, a sua demissão, se não acrescenta muito à situação atual (dado o desgoverno de Dilma, a sua grande fraqueza e consequente possibilidade de queda através do impeachment), dá um basta para as perspectivas de recuperação. A única previsível seria a substituituição de Dilma por Michel Temer, o atual vice, e que de forma sempre mais visível se posiciona como a solução natural.

      O que restaria determinar, se o PT e Dilma forem por água abaixo, é como ficará a governabilidade e a consequente capacidade de enxugar o orçamento, de forma a recuperar de algum modo o equilíbrio fiscal. Não será tarefa fácil, pela grande presença de dona Corrupção nas bancadas, e a consequente demagogia que só sabe fabricar déficits (como se tem visto nos repetidos fracassos das tentativas de Dilma - que criou a confusão - e Levy, que não a criou e é a sua antítese, mas que fala outra linguagem que um Congresso demagógico e alienado, que talvez nem se convença quando a previdência falir).

       A crise não governa e tampouco deixa governar. Enquanto permanecer formalmente no Planalto a Administração Dilma Rousseff todos os planos para enxugar a economia e arrumar a casa fazem parte da terra da Cuccagna. É um país maravilhoso - segundo os italianos. O problema com ele é que só existe na imaginação delirante dos senhores legisladores, muitos deles sob a batuta de dona Corrupção.

        Fora um deus ex-machina que instaure a ordem e os bons costumes (o progresso, mesmo na bandeira, ficaria mais difícil), as perspectivas são negras. Ora, a esperança de uma recuperação está na mudança de governo. No entanto, como o impeachment é refém de um presidente de Câmara com problemas sérios de corrupção   (conforme atestado pelo Ministério Público da União e a população em geral), como é que ficamos nós, senhores brasileiros? Pois decerto não é possivel esperar algo de quem criou toda essa confusão, e que está por ora no poleiro do Planalto, supostamente encarregada do governo de Pindorama?

        Haverá um outro país em que uma autoridade com crimes já configurados, e formalmente acusada pelo M.P.U., continua a deter a chave do processo de impeachment ? Como se fala de um contubérnio entre a autoridade ameaçada de impeachment e aquela que tem a chave da abertura do processo, como é que ficamos, senhores congressistas? Comprovada a falta de isenção de quem tem a chave do cofrinho - eis que abrir o processo, seria, no seu entender, assinar a própria perdição - estamos diante de uma situação trágica, mas que deve poder ser resolvida ! Ou não é ??

 

(  Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo, VEJA )




[1] Edward D. Said, (1935-2003) Intelectual palestino, radicou-se nos Estados Unidos, onde foi professor universitário. Bateu-se pela causa de sua terra natal, e foi autor de numerosas obras, entre quais, Orientalismo.

Nenhum comentário: