Feitos e dissabores de gospodin Putin
Muito se tem falado da
postura machista de Vladimir V. Putin e de seu vezo de aparecer a cavalo, com o
torso descoberto, ou de prestar-se a desforços atléticos (que podem, por vezes,
levá-lo ao hospital).
Já foi referido neste blog que se discerne nesse comportamento
imitação do ditador fascista italiano, Benito Mussolini, que apreciava ser
filmado, v.g. em um campo de trigo, colhendo as espigas de torso nu. Também não
era avesso a cavalgar um cavalo branco, com o mesmo tórax à mostra.
Por sua vez, o Primeiro Ministro australiano,
Tim Abott, que será o anfitrião na próxima reunião do grupo dos 20, prometeu
confrontar o presidente russo nessa oportunidade, a respeito do desastre com a
aeronave da Malaysian Airlines, causado por mísseis russos operados por
rebeldes na Ucrânia oriental.
Conforme assinala a CNN, Putin tem diminuído as suas idas ao
exterior depois da anexação da Crimeia. Esse ato imperialista criou-lhe
atmosfera internacional desfavorável, trazendo de volta ecos e lembranças de
antigas agressões, como aquelas que antecederam a segunda guerra mundial.
Por isso Putin tem espaçado as suas
viagens. Sabe que pode ter pela frente gente que lhe cobre satisfações do que
está fazendo contra a Ucrânia. A visão negativa que projeta pode ser igualmente
colhida no comentário da pré-candidata presidencial Hillary Clinton: “vejo um
frio calculador e antigo agente da KGB, que está disposto a enriquecer a si
próprio e a seus cupinchas”.
Os Protestos de Hong Kong
Conforme se tem noticiado, o movimento de protesto em
Hong Kong é um reflexo da origem dessa região administrativa chinesa. Dentro
das contradições da História, de um antigo ato de nu imperialismo – a época em
que as potências ocidentais na prática se partilharam as zonas de influência no
Império chinês – se passa agora a uma singular transformação.
Quando o Reino Unido firmou o documento em
que o velho enclave de Hong Kong voltava ao domínio chinês (1997), uma das condições estabelecidas era o
respeito por Beijing das peculiaridades do território, e notadamente de sua liberdade,
que tanto incomoda ao regime do burocratismo autoritário, que sucedeu a Deng
Xiaoping.
Como
se sabe, Deng preferiu a versão conservadora de Li Peng, ao invés da abertura
democrática de Zhao Ziyang (que morreu em prisão domiciliar). Sob a mancha do
massacre de 4 de junho de 1989, na praça de Tiananmen, o ancião Deng estendeu a
ditadura do Partido Comunista, em regime de capitalismo de estado. A corrupção
é a única liberdade que se permitem os gerarcas partidários, e não há nada mais
definidor de sua pobreza ideológica que a circunstância de ser o único regime
na Terra que mantém em masmorra o Prêmio
Nobel Liu Xiaobo.
Com toda a fraqueza do regime ditatorial,
Beijing não poderá concordar com eleição por sufrágio universal em 2017 do
líder da região administrativa de Hong Kong. Tal pleito só é aceitável para o
poder federal, se lhe for possível esvaziar a eleição, impondo a lista de
candidatos.
Daí a luta que se assiste em
Hong Kong. Se as multidões iniciais não mais se vêem, o confronto continua com algumas centenas ou
mesmo um milhar de manifestantes.
Contra os vários instrumentos
da repressão – bastões, gás de pimenta, e congêneres – as forças da dita ordem
procuram ‘limpar’ praças e logradouros da antiga colônia para o agrado do Líder
C.Y. Leung. Como Hong Kong funciona como uma espécie de janela democrática para
o Império do Meio, podemos ver, por especial cortesia do celular e do
jornalismo ocidental, que as trincheiras da liberdade têm sobre a força nua dos
brucutus da polícia do território a vantagem da inteligência e de sua irmã, a
inventiva. Não é que esses ridículos guarda-chuvas, tantas vezes inúteis nos
vendavais e nas tempestades, podem ser adversários temíveis para a tecnologia
macia da repressão?
É sem dúvida visão
equalizadora a sua súbita abertura, tapando as vistas dos policiais que pensam
avançar, enquanto estorvam e atrapalham as formações da repressão. É uma luta
renhida, essa das chamadas forças da ordem contra os magotes libertários.
Aquelas, bem comandadas, armadas e nutridas. Estas magras, irrequietas e imprevisíveis,
são guerreiras da liberdade.
Contra elas a batalha será
sempre desigual. Mas, cuidado, eis que na disparidade está também a sua força.
E por isso enquanto o
mundo for mundo, o Palácio as temerá sempre.
(Fonte:
CNN)
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