Ao ensejo da presente eleição, é natural que surjam as
teorias mais diversas na tentativa de explicar os rumos do eleitorado
brasileiro.
Agride, no entanto, ao bom senso que
se procure rotular as manifestações de junho de 2013 como um fenômeno
“esquisito e inconsistente”.
Por que o cientista social da UFMG Fabio Wanderley dos Reis investe
contra as passeatas do passe-livre de junho de 2013 ? Com efeito, não considera
ele uma contradição a possível continuidade do governo petista em tempos de
pedidos por mudança, como nas citadas manifestações de junho de 2013.
Chamá-lo de fenômeno “esquisito e
inconsistente” é uma agressão não só ao bom senso, mas também semelha indicar total
desconhecimento de sua repercussão em grande parte das principais cidades
brasileiras, além do desafio que colocou para as autoridades executivas e
legislativas. Estas, por sua vez, temerosas diante de seus questionamentos e
cobranças, não duvidaram da seriedade de
suas colocações.
Atarantada pelo desafio, a Presidenta
foi a São Paulo consultar o seu guru a respeito da reforma política e de nova
Constituição. O Congresso achou necessário retirar das gavetas as emendas aos
respectivos regimentos, suprimindo restrições corporativas à votação da perda
do mandato por infringir o decoro parlamentar, para tanto abolindo o voto
secreto.
Esse movimento “esquisito e
inconsistente” provocou forte reação da força pública em São Paulo. Com os
habituais excessos na repressão, jornalistas sofreram lesões corporais, a
começar pelo emprego abusivo da violência, com tiros de balas de borracha, que
lesionaram a visão de jornalista da Folha de S. Paulo, que ali estava no
exercício de suas funções constitucionais de informar a sociedade.
Ainda é cedo para que se disponha de
estudo abrangente do sentir e das consequências das passeatas pacíficas do
movimento de junho na Paulicéia, que a exemplo de tantas outras manifestações
populares de lá oriundas se estenderia a inúmeras cidades brasileiras, enfatizando a respectiva
oportunidade e pertinência no momento nacional.
Na verdade, o imediatismo de sua
difusão mostrou o quanto de autêntico, apropriado e necessário havia nessas
passeatas de gente jovem. E uma de suas características mais relevantes está na
recusa de serem instrumentalizadas pelas ávidas bandeiras dos partidos
políticos. O caráter apartidário do movimento, que lhe evidencia a força e
abrangência, é também sinalização do desprestígio desses partidos, os quais
mergulhando no toma lá – dá cá de suas disputas, perderam a conexão com a
realidade nacional e suas prioridades.
Não são muitos os movimentos no
passado que pensaram o Brasil de forma tão funda e autêntica. A maneira com que
as passeatas de junho repercutiram nesses brasis é a prova mais cabal de que
elas nada tem de “esquisito e inconsistente”. Ainda hoje elas ecoam e demandam
respeito.
( Fonte subsidiária:
O Globo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário