A batalha em Kobani
A luta nesta cidade síria, com população de maioria
curda, já se estende por quarenta dias. Submetida a contínuo bombardeio e cerco
do Isis, o movimento do islamismo
sunita absolutista, talvez o mais surpreendente é que Kobani não haja caído diante desta agressão, dada a indiferença
inicial do governo turco de Recep Erdogan.
Dada a pressão internacional, essa omissão turca na defesa da população de
Kobani (de maioria curda) só poderia levantar suspicácias sobre as reais
motivações do Presidente Erdogan.
É conhecida a maneira com que a minoria
curda é tratada pelos governos turcos e o de Erdogan – que já está há mais de
dez anos no poder – não difere desse modelo, apesar de propostas recentes de
melhores condições de vida para essa relevante minoria.
O número de mortes ascende a 815,
e não surpreende que a maior parte delas seja de curdos e de militantes do Isis.
Queda nas cotações
do petróleo
Os Estados Unidos se estão dissociando
da sua dependência do ouro negro externo, o que pode ser muito bom para Tio Sam, mas não o é para os grandes
produtores, como Rússia, Venezuela e Irã. Quanto à Arábia Saudita que é a maior
deles, talvez a sua longa permanência na dianteira e a sua aliança com
Washington, tendam a criar-lhe melhores condições de arrostar o desafio.
De o que essa queda significa para
Caracas, já se sabe pela nota de domingo passado.
A situação na Federação Russa de
Vladimir Putin de séria pode tornar-se dramática. Permito-me, a respeito, citar
o comentário de O Globo, publicado a
23 do corrente: A queda das cotações do barril de petróleo “põe em situação difícil países da petrocracia,
como Rússia, Venezuela e Irã, em que o poder é altamente dependente da receita
dos hidrocarbonetos.
“Os últimos indicadores
mostram que a economia russa estagnou ou mesmo se contraíu em setembro,
enquanto o rublo teve desvalorização recorde frente ao dólar e ao euro,
contribuindo para a elevação da inflação via encarecimento de produtos
importados. Dados oficiais mostram que a inflação ao consumidor atingiu taxa
anualizada de 8,3% no terceiro trimestre, a mais elevada do ano. Isto obrigaria
o banco central a considerar a quarta elevação dos juros neste ano. Apesar de dispor de amplo colchão de
reservas cambiais acumuladas durante o período de bonança, a queda na receita e
o efeito das sanções ocidentais, em função da questão ucraniana, criam situação
delicada para o Presidente Putin. A exportação de óleo e gás responde por
cerca de metade da receita do governo russo. A alternativa seria cortar gastos
ou aumentar impostos – o que desgastaria o Kremlin.
O risco é a Rússia se tornar mais
imprevisível em todos os sentidos.”
Por trás da factual frieza das
informações acima, que são um resumo bastante veraz da situação em que se meteu
a Rússia, percebe-se que a política imperialista de Vladimir V. Putin, se não
tem os dias contados, vê diminuído drasticamente o seu potencial de agressão,
eis que a situação econômico-financeira da Rússia não é mais comparável àquela
anterior, onde o seu caixa não apresentava a vulnerabilidade que a sensível
redução na potencialidade de sua economia não tem condições no momento de
contra-arrestar.
Se Petro Poroshenko, novel
presidente da Ucrânia, e seus aliados ocidentais tiverem juízo e habilidade, a
‘crise ucraniana’ poderia ser resolvida a contento para Kiev, batendo-se nos
instrumentos de ferro do Kremlin
enquanto estão maleáveis, e proporcionando-se uma saída honrosa para Putin. Até
mesmo a questão da Crimeia poderia ser deixada em suspenso, como aqueles
intrincados problemas internacionais que os negociadores internacionais
preferem por vezes deixar dormitando entre parênteses. Ao invés de o que pensam
alguns governantes, a agressão armada não é meio aceitável para a aquisição de
território. A esse respeito, é mais do que aconselhável a leitura da nossa
Constituição – inclusive para as autoridades brasileiras – eis que a República
Federativa do Brasil se rege nas suas relações internacionais, segundo o artigo
4º, dentre outros, pelos princípios da autodeterminação dos povos (III), de
não-intervenção (IV) e da solução pacífica dos conflitos (VII).
Nesse campo dos intentos de arrancar
nacos da Ucrânia oriental, a firmeza daquela região muito ganharia com maior
integração com o restante da Ucrânia, o que se poderia conseguir com progressos no campo da cidadania, no
combate à corrupção, e nas medidas tendentes a aumentar a coesão no tecido social ucraniano oriental.
Denúncia da VEJA. Repercussões.
O
ministro do Tribunal Superior Eleitoral Admar Gonzaga – que, como assinala a
Folha de S.Paulo (caderno Eleições, p. 5) foi advogado de Dilma durante a
campanha de 2010 – decidiu censurar
a revista VEJA impedindo-a de veicular publicidade em rádio, TV, outdoor e
internet de sua edição desta semana, além de conceder direito de resposta ao PT
contra a publicação. (O veto à publicidade foi determinado na sexta,24, a
pedido da campanha de Dilma. Já a concessão do direito de resposta foi decidida
em sessão extraordinária na noite de sábado, 25). Como se sabe, a decisão é liminar e tem
efeitos imediatos. Como ainda será julgada pela Corte – e será depois das
eleições de hoje domingo – a resposta deve ser publicada de imediato no site da
revista.)
De
que se trata? Segundo a VEJA, o doleiro Alberto Youssef disse à Polícia Federal
e ao Ministério Público que Dilma e o ex-presidente Lula da Silva tinham
conhecimento do esquema de corrupção na Petrobrás. Ambos negam e ameaçam ir à
Justiça contra a revista.
Assinale-se que para o ministro Admar Gonzaga, a publicidade da revista
transformou-se em “publicidade eleitoral” em favor do presidenciável Aécio
Neves.
A
respeito, o Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Domingos
Meirelles considerou inconstitucional a decisão do TSE de vetar a publicidade
da revista. Para ele, a intervenção,
além de extemporânea, “fere a liberdade de imprensa e agride o Estado de
Direito”.
Em comentário à parte, o caderno Eleições 2014 analisa
em coluna de Nelson de Sá a reação da Globo – e notadamente do Jornal Nacional – perante a reportagem
da Veja. Mantida em silêncio –
malgrado a sua divulgação geral pela mídia e a internet – pela Globo, através
de seus jornais de notícia, e pelo próprio Jornal Nacional - a maior rede televisiva do país mudou de
atitude com a pichação das paredes da Editora Abril, por um grupo de duzentas
pessoas que atacou o prédio da Abril.
Nesse contexto, durante o JN, foi afinal veiculada a denúncia da reportagem da revista Veja pela TV Globo:
“Segundo a ‘Veja’, durante
interrogatório na Polícia Federal, o doleiro Alberto Youssef, perguntado sobre
o nível de comprometimento de autoridades no esquema de corrupção na Petrobrás,
afirmou que o Planalto sabia de tudo. ‘Mas quem no Planalto?’, perguntou o delegado.
‘Lula e Dilma’, respondeu.”
Na sua análise do comportamento do Jornal Nacional e da própria Rede Globo, Nelson de Sá afirma: “Globo pautou sua cobertura pelo equilíbrio,
ou talvez medo.”
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo, CNN, New York Times )
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