domingo, 5 de outubro de 2014

Colcha de Retalhos B 38

                                     

A  Intrujice das Pesquisas   

 

               Em pais onde a burocracia é rainha,  a cadência e a frequência das pesquisas eleitorais está ultrapassando os limites do bom senso. Não faz sentido que se permita a divulgação de pesquisas a horas do início da votação. Estarrece que o legislador – tão minucioso nas regras a serem observadas no período pré-eleitoral e durante o próprio dia da eleição – possa  permitir tal contrassenso. Qual o escopo  de que, a horas da abertura da votação, se divulgue o resultado do pleito, com as colocações dos candidatos ? Será que não lhe passa pela cabeça a possibilidade de apresentar resultados que, sob pretexto de antecipar notícias, venham a  interferir com a evolução da eleição ?

                É de estranhar que o legislador não tenha presente medida de elementar prudência. Trazer-se a farra das pesquisas à soleira da eleição é correr o risco de trazer a conhecimento público um elemento estranho, que pela excessiva cercania possa influenciar  a decisão pessoal de cada eleitor. Não surpreende, por conseguinte, o exemplo de muitos países que suspendem as pesquisas, em espécie de profilática quarentena da população, de modo a evitar tentativas conscientes ou não de influenciar-lhe o sufrágio.

                Há um momento em que essa hiper-atuação das agências de pesquisa deve deter-se, e permitir ao eleitor a pausa de que carece para chegar a uma decisão, a qual não deve sofrer interferências de ultimíssima hora.

                Por um prazo de 48 horas ou de 72 horas antes da eleição,  deve ser sustada essa obsessiva intromissão das agências de pesquisa. Depois da gritaria dos cabos eleitorais, dos impropérios nos debates, dos comentários de gregos e troianos, o silêncio é auspicioso, na medida em que se fez a pausa de reflexão, a qual proporcionará a cada um, livre de interferências de toda a ordem, aquele espaço de tempo que se abre, livre das cacofonias circundantes, para que o eleitor possa decidir, sem mais intrusões, nem marquetagens, nem pesquisas. O voto soberano do eleitor é uma decisão individual, livre de quaisquer interferências, e, portanto  voluntária e exclusiva.

               Para não conspurcar esse momento sagrado, pelo qual tanta gente tem lutado, e tem mesmo, de forma corajosa e consciente, se mostrado disposta a pôr a própria vida no altar da democracia, não permitamos essas interferências de ultimíssima hora, que se podem prestar a fins inconfessáveis.  Depois de toda a algazarra, todos os ruídos incômodos ou não, da campanha, que se proporcione ao eleitor o benefício do silêncio na antecâmera da votação.

                Em certos momentos, deve metafórica mas também legalmente surgir na legislação aquele último anteparo à sacra liberdade da escolha do voto.

                Recordam-se da intervenção de Juan Carlos cortando as interrupções contínuas de Hugo Chávez, com a frase “Por que não te calas?”

               É o que a mídia e as agências de pesquisa devem fazer num prazo decente antes dessa grande festa da democracia.  É o silêncio de que sairá uma decisão livre de interferências de toda a ordem.

              Respeitemos esse momento.

 

Os candidatos nanicos

 

        Excluídos os candidatos propriamente ditos – aqueles com real possibilidade de eleição (reporto-me a Dilma, Marina e Aécio) – há dois tipos de candidatos: os que chamaria menores, pois têm algum peso político mas nenhuma chance de eleição(v.g., Pastor Everaldo (PSC), Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV); e, por fim, os nanicos, que se subdividem em tradicionais  (Levy Fidelix –PRTB, e Eymael – PSDC), assim como ideológicos de esquerda extra-parlamentar:  Mauro Iasi – PCB, Rui Costa Pereira – PCO, e Zé Maria – PSTU.

       Nesse contexto, o Pastor Everaldo logrou ter entrevista – reservada em geral para os candidatos com reais possibilidades – no Jornal Nacional da Rede Globo, o que não é pouco para que oscila em torno de 1% de preferências.

       No quadro dos debates (Bandeirantes, SBP, Record e Globo) participam além da trinca de candidatos dos principais partidos, os menores, com representação no Congresso  (Pastor Everaldo, Luciana Genro e Eduardo Jorge, assim como mais um nanico tradicional, José Levy Fidelix da Cruz, mineiro de Mutum).  Nesse cômputo ficou de fora, personagem de eleições anteriores, José Maria Eymael, do PSDC – gaúcho de Porto Alegre, e constituinte de 1988, assim como a esquerda extra-parlamentar, com Mauro Iasi (PCB), Rui Costa (PCO) e Zé Maria (PSTU).  A esse respeito, o leitor se lembrará que Lindberg Farias já foi integrante do PSTU, dele saindo presumivelmente pela barreira da legenda (ao não lograr a quota necessária para a eleição).

        Quanto a Levy Fidelix, teve dois momentos de notoriedade nos debate, e em ordem crescente: no da Bandeirantes, verberou pergunta de jornalista em que era, incidentalmente, apresentado como detentor de legenda de aluguel, e ganhou atenções negativas nacionais, ao fazer observação de índole homofóbica no debate da Record. Por conta disso, teve outros minutos extra de ulterior notoriedade, ao ser questionado, de forma incisiva, por Eduardo Jorge e Luciana Genro.  Ganhou caricaturas de Chico Caruso em O Globo e terá julgado marcar posição, não pedindo desculpas.

       Sem embargo, Levy Fidelix está submetido a  procedimento do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, acionado por representação de Comissão especial da OAB. Janot verificará se Fidelix cometeu crime de homofobia na sua intervenção no debate da Record, e, em consequência, deveria ter cassada a sua candidatura à presidência.

 

Ratos e Ratazanas em Ipanema!

 

         Há algum tempo  observo nas emissões do televisor uma fragmentação da imagem... A princípio,são flashes rápidos e difíceis de notar. Com o correr dos dias , o fenômeno  foi piorando, a ponto de, por vezes, não ser mais possível distinguir o personagem ou a pessoa que está na tela.

        As primeiras reclamações para o serviço de manutenção foram recebidas com o usual ceticismo dos atendentes. As instruções de desligar o codificador, contar até dez e religá-lo não funcionaram.  Depois, com a boa vontade que caracteriza os serviços de atendimento e reparação, prometeram passar no dia seguinte, entre oito e meio-dia.

            Na manhã seguinte, como não apareceu   ninguém, os atendentes da Net me disseram ao telefone que a ‘reparação’ tinha sido feito à distância, pela própria central.  Cometi o erro de acreditar.

            E não é que na hora do debate da Globo, ao ligar a tevê, verificamos consternados que a coisa havia piorado e muito! Agora não eram mais pequenos quadradinhos travessos, mas toda a tela que virara uma espécie de pintura experimental, como se tivesse chamado o Vick Muniz para a apresentação. Além de não se distinguir coisa nenhuma, tampouco o áudio funcionava !

             Ao final, após o enésimo telefonema, acabei por ser informado que a central já mandara pessoal para Ipanema, e que suspeitavam o problema (que afetava não mais a minha modesta residência, mas o bairro) fosse geral.

             No dia seguinte, graças ao nosso porteiro – que, segundo me ensinou a experiência são as únicas pessoas que informam corretamente sobre esse gênero de problema – soube que os ratos (e ratazanas) que infestam pelo visto o subsolo de Ipanema eram os culpados. Atacaram os cabos do serviço e as transmissões só foram restabelecidas com as devidas substituições[1]!

             Não sei se é a relativa cercania do temível Tatuzão, essa criatura germânica encarregada da abertura dos túneis do metrô, que é causa desses ataques dos ratos e ratazanas. De qualquer forma,  serão as  invasões da tecnologia nos porões das grandes cidades – quiçá no passado o espaço fosse mais tranquilo e os ratos não sofressem ataques de nervos como em filme de Almodobar -  que estarão levando esses não tão simpáticos roedores a investir contra serviços essenciais ao homem da atualidade, como é o da televisão a cabo ?

 

 (Fontes: O  Globo, Site de O Globo, Folha de S. Paulo)



[1] O aparecimento posterior dos temíveis quadradinhos talvez indique que nem todos os cabos atacados pelos ratos & ratazanas foram substituídos.  

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