Há duas tendências na presente disputa eleitoral que, na verdade, são
formas alternativas da mesma realidade, a qual se deriva de uma escolha da
campanha de Dilma Rousseff.
No
primeiro turno, assistiu-se à impiedosa desconstrução de Marina Silva, que
mereceu da equipe da Presidenta a
dúbia homenagem de ser individuada como a mais temível ameaça à sua pretendida
reeleição.
Para não descer a detalhes, o que
seria um tanto chover no molhado, não se poupou à inesperada aparição do
fantasma de sua candidatura – que tinham acreditado exorcizado na recusa pelo
Tribunal Superior Eleitoral da legenda da Rede
Sustentabilidade – toda a artilharia que julgavam cabível no espaço da
propaganda política.
Não dispondo Marina de forte e
confiável estrutura partidária a respaldá-la, pelas limitações do PSB, a popularidade e a consequente
recepção reservada à ex-vice de Eduardo
Campos pôde ser – na definição da candidata - atacada por uma saraivada de mentiras. O êxito dessa investida sem
escrúpulos seria tanto maior pela falta de respostas oportunas, que dissipassem
a falsa realidade resultante de tais mentiras.
Dentro de seus escassos meios, a
campanha de Marina tentara responder a um filmeco sobre o significado da
concessão de autonomia ao Banco Central. Como a instância do TSE se recusasse a
conceder-lhe direito de resposta – na prática mostrar para o eleitor que a
autonomia do Banco Central não iria tirar a comida da mesa dos pobres -, dado o
caráter mendaz da propaganda de Dilma de que era denegada a indispensável
correção, afigura-se mais do que compreensível que a justiça eleitoral cerrava
a porta das correções à propaganda da Presidenta, por mais que ela se afastasse
da realidade.
Nesse contexto, semelha de muita
oportunidade transcrever o que afirmou Míriam Leitão, na sua coluna de oito do
corrente : “Há campanhas que deseducam o país, que está construindo sua
democracia. Há muito do que nos orgulhar dos últimos trinta anos de construção
democrática, mas o marketing usado por Fernando Collor contra Lula e por Dilma contra Marina são os pontos mais
feios das nossas campanhas presidenciais.”
No embate do segundo turno, Dilma
Rousseff está experimentando outra realidade, vale dizer o que tende a
acontecer se esgrimir contra o adversário Aécio Neves argumentos contestáveis
ou deturpadas realidades. Como o seu rival dispõe de larga estrutura
partidária, não está indefeso, como era o caso da rival Marina que de
vanguardeira nas prévias iniciais caíu pelo caminho, menos pelas próprias
assertivas, do que pelas ‘mentiras’ como ela mesmo assinalou propaladas pela
organização que respaldava a Presidenta.
Por isso, o último debate no SBT
não saíu exatamente como o desejava o campo de Dilma. Se ela foi a nocaute ou
não – como o assevera Ricardo Noblat – é um elemento a ser verificado, mas a
sua afirmação em debate anterior de que não tinha nenhum parente empregado, a menção
de Igor Rousseff, irmão de Dilma, funcionário-fantasma na gestão do amigo
Pimentel na prefeitura de Belo Horizonte responde a increpações anteriores
sobre a irmã de Aécio Neves.
Ao cabo de inúmeras baixarias,
a acusação a um morto – o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra – de que recebera
propina do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa (o ‘Paulinho’ de Lula),
recebeu de Aécio a resposta de que a própria Dilma dava com isso credibilidade
às denúncias do delator.
Não é necessário ser harúspice para prever que nas próximas
eleições esses ataques e essas mentiras serão coibidos pela legislação
eleitoral. O que interessa ao Povo brasileiro será julgar os candidatos pelas
suas propostas, e não pelas mentiras e calúnias do campo adversário. O velho conselho de D. Basilio – da peça ‘Figaro’,
de Beaumarchais – “Caluniai, caluniai porque sempre fica alguma coisa!” – é
mais do que hora de mandá-lo para a lata de lixo da História.
(Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo, Beaumarchais).
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