terça-feira, 7 de outubro de 2014

A Próxima Eleição Americana

                           

           As próximas eleições nos Estados Unidos - as chamadas intermediárias -  estão programadas para a terça-feira, 4 de novembro. Serão as últimas eleições sob a presidência de Barack Obama, e se destinam à renovação da Casa de Representantes – onde os deputados têm mandato de apenas dois anos – e de um terço do Senado.

           Na tradição estadunidense, o presidente em segundo mandato, salvo em raríssimos casos, é mandatário politicamente fraco. Acresce notar que a popularidade do 44º presidente anda nos baixios, com pesquisas que o coloca com cerca de 40% de aprovação. E em termos de política exterior, 37% aprovariam e 57 % desaprovariam. Não será por outra razão que os representantes democratas evitam agora aparecer em fotos a seu lado se Obama aparece no seu estado.

           Quanto às duas casas do Congresso, desde o shellacking (tunda) de 2010, o GOP mantém férreo domínio sobre a Câmara de Representantes. Este tema já foi estudado neste blog e, infelizmente,  não parecem haver condições nas próximas eleições para que o quadro mude.  O que temos, como se sabe, na Câmara de Deputados é que lá a maioria republicana decorre de gerrymandering em muitos estados, por força da maioria obtida pela landslide (avalanche) de 2010 (consequência da inexperiência e falta de comunicação de Obama), que deu a muitos estados a possibilidade de refazer o mapa distrital para fins eleitorais, seguindo os ditames do governador Gerry, de Massachusetts, que iniciou tal prática em 1812.  No caso se privilegia os republicanos, e estando marcadas as cartas, o GOP manterá a maioria na Câmara, assegurando, portanto, a paralisia governamental, inviabilizando reformas importantes, como a da imigração, que foi compromisso do Presidente.

             Para que se tenha ideia do ‘cochilo’ de Obama, a eleição de 2010 ‘deu’ aos republicanos as governanças e as câmaras  de doze estados, anteriormente dominadas pelos democratas. Através das maiorias então obtidas foi possível criar condições para tornar perene (ou pelo menos decenal) o domínio republicano sobre estados antes com viés progressista e democrata.

            Em artigo para The New York Review, Elizabeth Drew, com a sua habitual competência, descreve o quadro para as eleições intermediárias. Dado o estado de coisas na Câmara, e a extrema dificuldade de mudar a relação de forças em situação normal (e ainda mais sob presidente com baixa popularidade e em fim de mandato), as vistas dos observadores se dirigem naturalmente para o Senado. Fala-se muito na paralisia dentro do Beltway[1], mas a situação teria sido ainda mais grave se os republicanos tivessem maioria também no Senado, o que não ocorreu até agora, nos dois mandatos de Obama.

            Na mídia há restrições a Obama, que pareceria um líder fraco e indeciso. Muita vez teve de recuar em relação a afirmativas peremptórias. Existe, v.g., a assertiva da ‘linha vermelha’ do uso de armas químicas contra Assad.  É conhecido o suposto desafio do presidente da Síria à advertência de Obama, o que se cita amiúde como comprobatório de sua fraqueza como líder.

             E. Drew mostra, no entanto, que não é bem assim. Obama decidiu então submeter ao Congresso o pedido de autorização para bombardear a Síria. Presume-se que a solicitação era feita na presunção de que o Congresso a denegaria. O resultado, contudo, foi além da expectativa. Obama aceitou uma oferta de Vladimir Putin para negociar a remoção do armamento químico da Síria. Assim, resolveu-se a questão, semelhando que a sua ameaça havia sido mais crível para o ditador sírio do que para os seus críticos em Washington.

                Quanto aos governos estaduais, o prognóstico da politóloga Drew assinala que, se o predomínio republicano deve continuar,  algumas das 29 governanças do GOP podem ir para os democratas. Um governador democrata, Pat Quinn, do Illinois atravessa séria crise política. Nos estados democratas que passaram para o GOP em 2010, há governadores republicanos que poderiam ser vencidos: Scott Walker, do Wisconsin, está fragilizado, e dois outros – Tom Corbett, na Pennsylvania, e Paul Le Page, no Maine – parecem encaminhar-se para derrotas certas. E, por fim, o ferreamente conservador Sam Brownback, do Kansas, por inúmeros erros políticos, deverá, pela sua eventual derrota, confirmar que o país não está preparado  para ser governado por uma política arquiconservadora.

                 Por fim, quanto ao Senado, as perspectivas não são das melhores.  O que favorece de início o GOP é que a matemática favorece os republicanos:  21 cadeiras, hoje ocupadas por  democratas, e que estão em jogo novembro próximo, a maior parte delas que pendem para os republicanos, enquanto as quinze ocupadas por republicanos, quase todas estão em estados sob controle do GOP.

                  Mas algumas disputam contam mais do que as outras. O líder da minoria no Senado, Mitch McConnell (o que afirmou, lembram-se, que Obama seria presidente de um só mandato) está metido em séria luta contra Alison Lundergan Grimes,  e a sua popularidade no estado do Kentucky chegou a um mínimo histórico.

                      Os republicanos para recuperar a maioria no Senado tem que ganhar uma vantagem de seis cadeiras. Três delas, segundo os institutos de pesquisa, já estariam perdidas pelos democratas: Dakota do Sul, Virgínia ocidental e Montana. Nas outras sete disputas apertadas, as avaliações ainda variam, e a situação de quatro democratas - Mark Pryor (Arkansas), Mary Landrieu (Lousiana), Mark Udall (Colorado) e Mark Begich (Alasca) – parece ter melhorado.

                      No sul, há ainda disputa que poderia favorecer os democratas. Uma cadeira vaga, antes ocupada por republicano, poderia ser arrebatada por Michelle Nunn, filha do popular ex-senador Sam Nunn. Mas ela tem pela frente outro representante da aristocracia política no estado da Georgia, David Perdue.

                      Como a batalha política não está decidida, o GOP voltou a recorrer a aprovar leis nas suas câmaras estaduais de dúbia constitucionalidade, que objetivam sobretudo tornar o voto mais difícil para as minorias e  outros grupos que em geral votam com os democratas.

                       Até o presente, têm dominado a temática desta eleição intermediária os temas locais. A impopularidade de Barack Obama é um fator a ser computado, mas no entender da avaliação da experiente observadora Elizabeth Drew, se as condições da eleição parecem adversas para os democratas, o fato ou não de conseguirem “evitar a perda do controle de metade do Congresso continua a depender deles mesmos e de seus partidários”.         

 

(Fonte: ‘Obama e a próxima eleição’, por Elizabeth Drew, em The New York Review, 25 de setembro de 2014)



[1] O Cinturão estradal dentro do qual se encontra a capital e os principais órgãos do governo.

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