As próximas eleições nos Estados Unidos - as chamadas
intermediárias - estão programadas para a
terça-feira, 4 de novembro. Serão as últimas eleições sob a presidência de Barack Obama, e se destinam à renovação
da Casa de Representantes – onde os deputados têm mandato de apenas dois anos –
e de um terço do Senado.
Na tradição estadunidense, o
presidente em segundo mandato, salvo em raríssimos casos, é mandatário politicamente
fraco. Acresce notar que a popularidade do 44º presidente anda nos baixios, com
pesquisas que o coloca com cerca de 40% de aprovação. E em termos de política
exterior, 37% aprovariam e 57 % desaprovariam. Não será por outra razão que os
representantes democratas evitam agora aparecer em fotos a seu lado se Obama
aparece no seu estado.
Quanto às duas casas do Congresso,
desde o shellacking (tunda) de 2010,
o GOP mantém férreo domínio sobre a
Câmara de Representantes. Este tema já foi estudado neste blog e, infelizmente, não
parecem haver condições nas próximas eleições para que o quadro mude. O que temos, como se sabe, na Câmara de
Deputados é que lá a maioria republicana decorre de gerrymandering em muitos estados, por força da maioria obtida pela landslide (avalanche) de 2010
(consequência da inexperiência e falta de comunicação de Obama), que deu a
muitos estados a possibilidade de refazer o mapa distrital para fins
eleitorais, seguindo os ditames do governador
Gerry, de Massachusetts, que iniciou tal prática em 1812. No caso se privilegia os republicanos, e
estando marcadas as cartas, o GOP
manterá a maioria na Câmara, assegurando, portanto, a paralisia governamental,
inviabilizando reformas importantes, como a da imigração, que foi compromisso
do Presidente.
Para que se tenha ideia do
‘cochilo’ de Obama, a eleição de 2010 ‘deu’ aos republicanos as governanças e
as câmaras de doze estados, anteriormente
dominadas pelos democratas. Através das maiorias então obtidas foi possível
criar condições para tornar perene (ou pelo menos decenal) o domínio
republicano sobre estados antes com viés progressista e democrata.
Em artigo para The New York Review, Elizabeth
Drew, com a sua habitual competência, descreve o quadro para as eleições
intermediárias. Dado o estado de coisas na Câmara, e a extrema dificuldade de
mudar a relação de forças em situação normal (e ainda mais sob presidente com
baixa popularidade e em fim de mandato), as vistas dos observadores se dirigem
naturalmente para o Senado. Fala-se muito na paralisia dentro do Beltway[1],
mas a situação teria sido ainda mais grave se os republicanos tivessem maioria
também no Senado, o que não ocorreu até agora, nos dois mandatos de Obama.
Na mídia há restrições a Obama, que
pareceria um líder fraco e indeciso. Muita vez teve de recuar em relação a
afirmativas peremptórias. Existe, v.g., a assertiva da ‘linha vermelha’ do uso
de armas químicas contra Assad. É
conhecido o suposto desafio do presidente da Síria à advertência de Obama, o
que se cita amiúde como comprobatório de sua fraqueza como líder.
E. Drew mostra, no entanto, que
não é bem assim. Obama decidiu então submeter ao Congresso o pedido de
autorização para bombardear a Síria. Presume-se que a solicitação era feita na
presunção de que o Congresso a denegaria. O resultado, contudo, foi além da
expectativa. Obama aceitou uma oferta de Vladimir Putin para negociar a remoção
do armamento químico da Síria. Assim, resolveu-se a questão, semelhando que a
sua ameaça havia sido mais crível para o ditador sírio do que para os seus
críticos em Washington.
Quanto aos governos estaduais,
o prognóstico da politóloga Drew assinala que, se o predomínio republicano deve
continuar, algumas das 29 governanças do
GOP podem ir para os democratas. Um governador democrata, Pat Quinn, do
Illinois atravessa séria crise política. Nos estados democratas que passaram
para o GOP em 2010, há governadores republicanos que poderiam ser vencidos:
Scott Walker, do Wisconsin, está fragilizado, e dois outros – Tom Corbett, na
Pennsylvania, e Paul Le Page, no Maine – parecem encaminhar-se para derrotas
certas. E, por fim, o ferreamente conservador Sam Brownback, do Kansas, por
inúmeros erros políticos, deverá, pela sua eventual derrota, confirmar que o
país não está preparado para ser
governado por uma política arquiconservadora.
Por fim, quanto ao Senado, as
perspectivas não são das melhores. O que
favorece de início o GOP é que a
matemática favorece os republicanos: 21
cadeiras, hoje ocupadas por democratas,
e que estão em jogo novembro próximo, a maior parte delas que pendem para os
republicanos, enquanto as quinze ocupadas por republicanos, quase todas estão
em estados sob controle do GOP.
Mas algumas disputam contam
mais do que as outras. O líder da minoria no Senado, Mitch McConnell (o que afirmou, lembram-se, que Obama seria
presidente de um só mandato) está metido em séria luta contra Alison Lundergan Grimes, e a sua popularidade no estado do Kentucky
chegou a um mínimo histórico.
Os republicanos para
recuperar a maioria no Senado tem que ganhar uma vantagem de seis cadeiras.
Três delas, segundo os institutos de pesquisa, já estariam perdidas pelos
democratas: Dakota do Sul, Virgínia ocidental e Montana. Nas outras sete
disputas apertadas, as avaliações ainda variam, e a situação de quatro
democratas - Mark Pryor (Arkansas), Mary Landrieu (Lousiana), Mark Udall
(Colorado) e Mark Begich (Alasca) – parece ter melhorado.
No sul, há ainda disputa
que poderia favorecer os democratas. Uma cadeira vaga, antes ocupada por
republicano, poderia ser arrebatada por Michelle Nunn, filha do popular
ex-senador Sam Nunn. Mas ela tem pela frente outro representante da
aristocracia política no estado da Georgia, David Perdue.
Como a batalha política
não está decidida, o GOP voltou a
recorrer a aprovar leis nas suas câmaras estaduais de dúbia
constitucionalidade, que objetivam sobretudo tornar o voto mais difícil para as
minorias e outros grupos que em geral
votam com os democratas.
Até o presente, têm
dominado a temática desta eleição intermediária os temas locais. A
impopularidade de Barack Obama é um fator a ser computado, mas no entender da
avaliação da experiente observadora Elizabeth Drew, se as condições da eleição
parecem adversas para os democratas, o fato ou não de conseguirem “evitar a
perda do controle de metade do Congresso continua a depender deles mesmos e de
seus partidários”.
(Fonte: ‘Obama e a próxima eleição’, por Elizabeth Drew, em The New York
Review, 25 de setembro de 2014)
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