Na mais acirrada e apertada disputa da história pela
presidência da república, sob a Constituição de cinco de outubro de 1988, Dilma
Rousseff (PT) obteve 51,64 % dos votos válidos – 54,501 milhões de eleitores – e Aécio Neves (PSDB) colheu 48, 36% dos sufrágios,
seja, 51,041 milhões de eleitores.
Com isso, o Partido dos Trabalhadores deverá
estender a manutenção do poder por dezesseis anos. Não é coisa de somenos, eis
que a caneta petista continuará na silenciosa mas abrangente tarefa de
aparelhamento do Estado.
Tão longa extensão do mando começa a colocá-lo
na esfera do antigo Partido Revolucionário Institucional (PRI) do México. Decerto, as condições são diversas e a democracia
tem sido, como regra, aqui respeitada. No entanto, o número de pessoas que
dependem de tal supremacia tende a crescer seja de modo natural, seja de forma
vegetativa.
Esse predomínio, pela sua inchação, pode
constituir um desafio embutido à própria instituição democrática.
Em tal sentido, as tendências
autoritárias de alas do PT se farão sentir, e a presidente Dilma Rousseff
carece de mostrar à sociedade que não é pelas vias enganosas de rolos
compressores e de pressões de segmentos não comprometidos com a equidade da
democracia que se logrará continuar no silente trabalho democrático, em que o
respeito aos direitos e, em especial, ao espírito da Constituição Cidadã se
afirme na política.
Teria preferido que a presidente-eleita
houvesse demonstrado grandeza ao estender a mão para o seu rival. Se ele
cumpriu a norma não-escrita da boa convivência democrática, não se diminuiria,
como vencedora de uma porfia renhida, mas de resultado indiscutível, se
correspondesse ao gesto do adversário que foi também ator da disputa ‘mais
apertada da história’, e que colheu a preferência de quase metade do corpo
eleitoral brasileiro.
Com efeito, não se apequenaria se
mostrasse a nobreza de aceitar o cumprimento e de criar condições para que
continue o diálogo democrático. Afinal de contas, por trás da gritaria da
militância, persiste a presença de uma quase metade da Nação que optou pelo estandarte
rival.
A função precípua das lideranças inclui,
uma vez contados os sufrágios e sacramentada a lisura respectiva, mostrar que
por cima das rivalidades sectárias está o interesse do Brasil.
Nunca é tarde para um gesto largo e sobranceiro,
em que a Nação esteja acima das quizílias partidárias.
Não será desembrulhando um velho pacote
de reforma política decorrente do movimento de junho de 2013, com incluso
plebiscito – ambos já superados por decisões do Congresso – que se adiantará a
questão do entendimento nacional.
Como a palavra indica, ele não decorre de
decisões de Palácio, mas sim de amplo diálogo, que pressupõe a participação
daqueles que são os seus dois principais atores.
Não estão lá por acaso, mas por magna
conjunção de votos (cerca de 105,5 milhões).
A democracia também está aí. Afinal, que
mal faz conversar com a outra metade ?
(Fontes subsidiárias: Site de O Globo, Rede Globo, Folha de S. Paulo)
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