Para um estrangeiro, ignaro das questões americanas,
alguma coisa estaria errada com a presente polêmica nos Estados Unidos sobre o
Presidente Barack Obama.
Como a controvérsia é alimentada pelas
próximas eleições intermediárias (V. meu blog
de 7 do corrente, A próxima eleição americana), a perplexidade em certos
círculos tenderia a aumentar, porque o 44° presidente está na metade do segundo
e último mandato, e por conseguinte, constitucionalmente, não mais concorre a eleições
presidenciais na terra de Tio Sam.
Mas não é o que parece. O Partido
Republicano constrói agenda federal para essa eleição. Ela se concentra no
Presidente, apresentando um quadro sombrio para as relações de Washington com o
mundo, e para tanto são manipulados três tópicos: o problema do E.I. (estado
islâmico) ou Isis; as falhas do Serviço Secreto; e a epidemia do Ebola.
Qual é a lógica do GOP? Na verdade,
nenhuma. Não partícipe desses comícios, Obama e a sua suposta falta de
liderança serviria como tema comum para os republicanos tentarem a maioria no
Senado (a na Câmara, dadas as suas peculiaridades tratadas alhures, não é
imaginável, em condições normais, que possa ser por ora arrancada do GOP).
Por outro lado, posta de lado a Casa de
Representantes, estão abertas possibilidades seja de um Congresso
republicano, seja de os democratas manterem a maioria no Senado, como já aludi
no blog citado acima.
Diante de um presidente em fim de
mandato e impopular (as pesquisas lhe dão cerca de 40% de aceitação), esta carta é tentadora
para a oposição, sobretudo agora em que a chamada coalizão que apóia Obama e
ensejou grandes vitórias (2008, quando os democratas recuperaram estados há
muito perdidos) e também em 2012, no triunfo contra Mitt Romney. Essa dita
coalizão é formada por jovens, mulheres, negros, latinos (e outros segmentos,
em geral perseguidos pelas regrinhas do GOP
com vistas a dificultar-lhes a votação – idosos, interessados na reforma da
imigração, etc.).
Não se vá negar que a liderança de
Obama possa sofrer da ocasional displicência presidencial – o que decorreria de
uma postura intelectual, como, v.g.,
na entrada em vigor da reforma da saúde. Com as necessárias correções, no
entanto, o ACA (Lei da Reforma da
Saúde Custeável) ganhou as adesões previstas e vai bem, obrigado.
Quanto ao ISIS (Estado islâmico
radical), com a provocação das bárbaras
decapitações, e o perigo para o Iraque, o instrumento escolhido – o bombardeio
das bases radicais – se não atende aos falcões, representa um deterrente que,
mal ou bem, contém o avanço dos radicais. E nem se poderia esperar que Obama –
cuja carreira presidencial decolou com a oposição à guerra no Iraque – fosse
recorrer a nova intervenção terrestre de G.I.s
(infantaria) americanos.
No entanto, dada a oposição ao
Presidente extravasar republicanos e o grupo de extrema direita do Tea Party, compreende-se que os
candidatos democratas não estejam exatamente ansiosos, neste momento final da
campanha, por uma visita presidencial aos seus estados (excetuados aqueles azul
entranhado[1],
i.e., majoritariamente democratas, como New York , por exemplo).
( Fonte: The New York Times )
[1] É mais uma idiossincrasia
da Superpotência. Nos EUA, o Partido Democrata tem a cor azul, enquanto
o GOP é vermelho. Ora, no restante do mundo, o vermelho é associado com
a esquerda e o radicalismo. Que um estado vermelho seja na verdade republicano,
seria uma contradição no restante da Terra, mas não nos domínios de Tio Sam...
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