sábado, 11 de outubro de 2014

Obama e as próximas eleições

                              

        Para um estrangeiro, ignaro das questões americanas, alguma coisa estaria errada com a presente polêmica nos Estados Unidos sobre o Presidente Barack Obama.

        Como a controvérsia é alimentada pelas próximas eleições intermediárias (V. meu blog de 7 do corrente, A próxima eleição americana), a perplexidade em certos círculos tenderia a aumentar, porque o 44° presidente está na metade do segundo e último mandato, e por conseguinte, constitucionalmente, não mais concorre a eleições presidenciais na terra de Tio Sam.

        Mas não é o que parece. O Partido Republicano constrói agenda federal para essa eleição. Ela se concentra no Presidente, apresentando um quadro sombrio para as relações de Washington com o mundo, e para tanto são manipulados três tópicos: o problema do E.I. (estado islâmico) ou Isis; as falhas do Serviço Secreto; e a epidemia do Ebola.

        Qual é a lógica do GOP? Na verdade, nenhuma. Não partícipe desses comícios, Obama e a sua suposta falta de liderança serviria como tema comum para os republicanos tentarem a maioria no Senado (a na Câmara, dadas as suas peculiaridades tratadas alhures, não é imaginável, em condições normais, que possa ser por ora arrancada do GOP).

        Por outro lado, posta de lado a Casa de Representantes,  estão abertas  possibilidades seja de um Congresso republicano, seja de os democratas manterem a maioria no Senado, como já aludi no blog citado acima.

        Diante de um presidente em fim de mandato e impopular (as pesquisas lhe dão cerca de  40% de aceitação), esta carta é tentadora para a oposição, sobretudo agora em que a chamada coalizão que apóia Obama e ensejou grandes vitórias (2008, quando os democratas recuperaram estados há muito perdidos) e também em 2012, no triunfo contra Mitt Romney. Essa dita coalizão é formada por jovens, mulheres, negros, latinos (e outros segmentos, em geral perseguidos pelas regrinhas do GOP com vistas a dificultar-lhes a votação – idosos, interessados na reforma da imigração, etc.).

         Não se vá negar que a liderança de Obama possa sofrer da ocasional displicência presidencial – o que decorreria de uma postura intelectual, como, v.g., na entrada em vigor da reforma da saúde. Com as necessárias correções, no entanto, o ACA (Lei da Reforma da Saúde Custeável) ganhou as adesões previstas e vai bem, obrigado.

            Quanto ao ISIS (Estado islâmico radical), com a provocação  das bárbaras decapitações, e o perigo para o Iraque, o instrumento escolhido – o bombardeio das bases radicais – se não atende aos falcões, representa um deterrente que, mal ou bem, contém o avanço dos radicais. E nem se poderia esperar que Obama – cuja carreira presidencial decolou com a oposição à guerra no Iraque – fosse recorrer a nova intervenção terrestre de G.I.s (infantaria) americanos.

             No entanto, dada a oposição ao Presidente extravasar republicanos e o grupo de extrema direita do Tea Party, compreende-se que os candidatos democratas não estejam exatamente ansiosos, neste momento final da campanha, por uma visita presidencial aos seus estados (excetuados aqueles azul entranhado[1], i.e., majoritariamente democratas, como New York , por exemplo).

 

( Fonte:  The New York Times )



[1] É mais uma idiossincrasia da Superpotência. Nos EUA, o Partido Democrata tem a cor azul, enquanto o GOP é vermelho. Ora, no restante do mundo, o vermelho é associado com a esquerda e o radicalismo. Que um estado vermelho seja na verdade republicano, seria uma contradição no restante da Terra, mas não nos domínios de Tio Sam...

Nenhum comentário: