quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Diário da Mídia (XXV)

                                          

Demagogia tem pernas curtas



       A demagógica concessão pela Presidenta Dilma Rousseff de 20% de redução média nas contas de luz foi uma medida precipitada, com benefícios de fôlego curto (válidos até no máximo fins de 2015), e que, feitos os cômputos, custará a bagatela de R$ 61 bilhões aos cofres públicos.

        Resultado de uma certa  irreflexão, esse recurso que, na verdade, constitui subsídio,  deveria ter sido evitado, sobretudo pelo que implicaria o gesto em custos posteriores, além de ulterior pressão inflacionária.

        Os chamados preços administrados a que recorre amiúde a ‘economista’ Dilma na verdade constituem mais um complicador  do que  solução dos problemas fiscais. Por outro lado, cumpriria evitar os fatores embutidos de inflação que é mais uma vez o caso.



Quem demitiu Paulo Roberto Costa?

 

       \Paulo Roberto Costa, caro leitor, é o delator premiado da Petrobrás.  Diretor da nossa infeliz Petróleo Brasileiro S.A., indicação política ao que tudo indica do P.P.,  Costa participou de várias reuniões com o Presidente Lula da Silva, que o chamava de ‘Paulinho’.  Que assuntos eram objeto de tais reuniões entre funcionário categorizado, mas não o presidente da empresa, e a máxima autoridade da República, não está esclarecido.

        Uma coisa, no entanto, já se esclareceu. Toda vez que se falava sobre o delator premiado e a dinheirama que desviara da Petrobrás,  a Presidenta se apressava em declarar que foi ela quem demitiu o diretor Paulo Roberto Costa.

         No entanto, essa dílmica verdade fica para lá de duvidosa, ao verificar-se, em ata da Petrobrás, que, a folhas tantas, Paulo Roberto decidiu exonerar-se... Pois não é que ata da Petrobrás afiança que o indigitado renunciou, e ainda por cima faz elogios ao industrioso diretor...

         Essas verdades passadas adiante ao sabor das circunstâncias me parecem reminiscentes do famoso filme “Quem matou Liberty Valance”. No caso do clássico de John Ford, atribuíu-se a morte  do bandido ao pacato advogado que, na verdade, foi apenas  favorecido pela fortuna. Quem matara o facínora fora outro pistoleiro. Nesse caso, a versão suplantou o fato...

 

O Aparelhamento Petista dos Órgãos Estatais

     
      Como Pindorama é um país implacável, em que todos os faltosos são e serão castigados,  não surpreende  que os Correios tenham atuado nas Minas Gerais de forma excessivamente desenvolta.

           Não há de esquecer-se que foi dos correios que repontou a maior crise de corrupção neste país, com o que mais tarde evoluiria – melhor seria, involuiria – para o magno escândalo do Mensalão.  Quem se terá olvidado da imagem de diretor petebista dos Correios, aceitando uma propina de três mil reais, com um displicente peteleco?

          Pois não é que agora decidiram por um uso ‘político’ dos Correios nas Minas Gerais?  E a fonte, pasmem, é um deputado estadual do PT. Segundo este senhor Durval Angelo, Dilma só chegou aos 40% das intenções de voto no Estado das Minas Gerais porque “tem dedo dos petistas nos Correios”.

          Também o candidato do Partido dos Trabalhadores, Fernando Pimentel, deve estar agradecido aos Correios por liderar as pesquisas para o Governo do Estado. Segundo acusou Aécio Neves, o PT orquestrou  uma ação (dentro dos Correios) para que o material de campanha dele e do candidato tucano ao governo mineiro, Pimenta da Veiga, não fosse entregue a eleitores.

          Marina Silva serviu-se de mais este episódio de aparelhamento de órgãos oficiais para criticar o Governo Dilma Rousseff: “A reeleição é uma chaga no nosso país.  Ela começou de forma errada, com compra de votos, inaugurando o mensalão no Congresso Nacional. É uma prática que faz com que os governantes, em vez de pensar no interesse da população,  façam de tudo para se reeleger,  não importam os meios. Cria uma situação de aparelhamento, de uso político das instituições  públicas, de  confusão  entre o partido e o governo, entre o Governo e o Estado.”

           Por sua vez, Dilma não perdeu tempo meditando sobre as implicações éticas de mais este escândalo.  Preferiu classificar a acusação  de que sua campanha teria feito uso eleitoral da estrutura dos Correios   como “um absurdo”. E Sua Excelência acrescentou: “Vocês acreditam nisso? Estamos vivendo um momento eleitoral, e a situação fica um pouco nervosa. Isso é um absurdo” repetiu a Presidenta. Para ela já está tudo esclarecido...

 

Marina será culpada do derretimento de seus votos?

 

              Vitimizar a vítima é um procedimento usual, pelo menos no que tange a certas explicações da liquefação do total de votos – segundo indicado pelas pesquisas – da candidata Marina Silva.

               A crer-se nesta explicação, os votos favoráveis a Marina se estariam evaporando, porque ela não dispõe de base partidária sólida.  Implicita, a crítica de que ela deveria ter dispensado mais atenção para o problema.

               Na verdade, não é bem assim. Marina e a sua Rede de Sustentabilidade foi barrada pelo TSE, com o único voto favorável do Ministro Gilmar Mendes. Uma estranha contestação das assinaturas em cartórios do ABC paulista – área em que é muito forte um partido político interessado diretamente no resultado da avaliação pelo TSE – provocou a negativa do máximo órgão da judicatura eleitoral. Será que esqueceram que foi por isso que Eduardo Campos abriu o PSB para a desvalida Marina, a ela oferecendo o lugar de vice na chapa presidencial?

              Dessarte, sem grande base partidária, o PSB não dispõe de uma estrutura de prefeitos e autoridades locais para divulgar a boa nova, e reforçar o apoio dado a Marina, numa primeira e espontânea reação. Por isso, agora os seus totais se estaria liquefazendo...

              Culpar-se a vítima é sempre mais cômodo, mas raramente essa dúbia ‘explicação’ acoberta mais coisas do que expõe.

              Marina é vitima de concertada campanha da candidata à reeleição, campanha essa baseada em “mentiras” (como afirma Marina Silva).  Também no que tange aos efeitos da prometida autonomia do Banco Central como uma das causas, poupem-me, por favor, esse ataque ao bom senso. A campanha de Marina solicitou direito de resposta ao filmete de João Santana, o que lhe foi denegado, por uma confusa explicação jurídica, que na verdade resultou em ganho de  quem espalha tosca e despropositada má-fé.

               Que a campanha de Dilma se esteja prevalecendo da fraqueza de Marina, isso pode compreender-se, mas não justificar-se, eis que há uma afronta à igualdade de direitos entre candidatos (e candidatas) que está sendo desrespeitada aqui e da maneira mais afrontosa.

               Mas não venham por favor em tentar culpar a vítima pelo que ela está sofrendo... Mais do que uma agressão à Marina Silva, assistimos ao desrespeito da ordem constitucional e do direito de cada candidato (e candidata) a ter as suas razões devidamente pesadas e o seu constitucional direito de resposta assegurado.

 

( Fontes:  O Globo,  Folha de S. Paulo )   

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