O rancor não é sentimento cristão. Essa reação costuma
aninhar-se em corações pequenos, talvez mesquinhos. Decerto é humana, mas em
geral costuma arreganhar os dentes
quando o suposto causador do agravo ou dano se acha na planície, e não estaria
mais em condições de causar maior dano ao ofendido.
Não conheço pessoalmente o
ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal. Primeiro negro a integrar a nossa
mais alta Corte, teve soberba atuação no caso da Ação Penal 470, o famoso
Mensalão. Estudou a fundo a questão,
dominou as intricâncias do processo e adotou teoria inovadora para levar a cabo
este marco na jurisprudência do Brasil.
Tal parecer altamente favorável ao
Ministro Joaquim Barbosa lhe é atribuído por Mestre Joaquim Falcão.
Julgo, outrossim, oportuna a
iniciativa do Presidente Luiz Inacio Lula da Silva em indicar-lhe o nome para o
Supremo.
Desde muito, o Brasil carece de que o
negro seja chamado a desempenhar trabalhos também nos altos cargos da
República.
Mas afora o conhecimento, a missão
levada a termo, e o desempenho sobranceiro à testa do Supremo a que ascendeu ao
tocar-lhe a vez, o Ministro Joaquim Barbosa pode frequentar locais públicos,
aonde encontrará mostras de respeito e admiração que não são votadas com
igual unanimidade junto a personalidades de outros grupos que atuem na área jurídica.
Ao contrário de muitos, a cor da pele
representou para Joaquim Barbosa fonte nem sempre de lembranças prazerosas. Ao
tentar por exemplo ingressar na carreira diplomática, a sua pretensão foi
denegada de forma sinuosa e pouco clara, eis que o reprovaram em função de
entrevista da qual o ministério não guardou qualquer documentação.
Não negarei, por isso, que Joaquim
Barbosa seja, por vezes, pouco diplomático. A vida, no entanto, se lhe
proporcionou – e por mérito próprio – ser ministro do Supremo e notabilizar-se
na condução de grande e relevante
processo, também lhe terá apresentado obstáculos – que são desafortunadamente
comuns para muitos de seus compatriotas. Não há negar também que a sua natureza,
pelas pedras no caminho, pode induzi-lo
a reações havidas como fortes e quiçá ríspidas por muitos daqueles que, por
motivos profissionais ou não, com ele privaram ou eventualmente discordaram de suas
decisões.
Quando alguém volta à planície,
será por acaso ocasião de valer-se de privilégios corporativos e que tendem,
justa ou injustamente, a ser confundidos com ataques furtivos, e assim tentar
golpeá-lo por rancores antes sopitados, e que de uma forma um tanto mofina
– reminiscente das antigas inacessíveis corporações que a Revolução Francesa
varreu – deseja negar a licença que lhe é devida pelos estudos e exames
prestados?
É ato no mínimo discutível, que,
SMJ, não dignifica quem dele pretende valer-se. Sejamos generosos e não
instrumentalizemos esses expedientes menores, que se alimentam de um prato frio
sem muitas calorias.
Respeitemos o direito ao
trabalho. Joaquim Barbosa, associando-se à grei dos advogados, está disposto
pelo visto a labutar na planície jurídica. Nessa convivência poderá até fazer
novos amigos e respeitar outros colegas.
É o conselho de quem não pretende
ingressar na OAB, apesar de haver concluído o curso da velha Faculdade Nacional
de Direito, na Moncorvo filho, nos idos de dezembro de 1960.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
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