segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Dilma contra Aécio


                               

         Marina volta a transformar-se em nota-de-pé-de-página de mais uma eleição geral. Se aumenta um tanto o seu total, passando para vinte e dois milhões de votos (21,3%), quando da vez anterior surpreendera com pouco mais de dezenove milhões (19,33%), desta feita, ao invés de surpresa, há desaponto e mesmo desânimo.  

          A curva da candidata do movimento do Passe Livre desta vez mais pareceu a de busca-pé em festa junina.  Sem lógica aparente elevou-se para depois cair.  E caíu bem, permitindo a ascensão de Aécio Neves, que permanecera quase todo o tempo nos baixios de suposta irrelevância.

          Marina mostrara força de início, mas ao lado da fraqueza aparente – que pela sua magreza chega a obscurecer os espetaculares resultados iniciais – no terço final da eleição, os seus erros deram as mãos à ínsita debilidade estrutural.

          Com um ridículo tempo de propaganda eleitoral (por volta de dois minutos) e não dispondo de estrutura de apoio confiável, Marina estava condenada a sangrar na parte final da contenda.

         Assustados com os seus totais iniciais – que a levavam a superar Dilma Rousseff no encontro projetado do segundo turno – Lula e os demais gerarcas do PT cuidaram de emagrecê-la através da artilharia pesada do marqueteiro João Santana.  Como até o primeiro filmete sobre o Banco Central, com os seus traços caricaturais e a deformação apresentada para consumo dos mais simples, nem isso motivou a concessão de direito de resposta pelo T.S.E., o estado-maior de Marina se transformou, por assim dizer, em estado-menor, renunciando à possibilidade de valer-se da Justiça para equiparar a batalha, que se tornara renhida só de um lado.

          Por outra parte, a memória de Eduardo Campos, só mereceria as honras devidas em Pernambuco, eis que alhures, o PSB é um pequeno partido, sem estrutura comparável aos gigantes PT e PSDB. Além de faltar-lhe o apoio formiguinha, pela ação dos respectivos afiliados, a apatia predominava, como o demonstraria o presidente-substituto do PSB, Roberto Amaral,  cujas preferências pelo PT são notórias.  Quando a candidata começou a despencar,  essa desenvoltura aumentou, até chegar à deselegância de não aparecer para a carreata final no Rio de Janeiro. Nesse momento, os dois carros do dito cortejo (na verdade  um, pois o outro era de apoio) rasgavam sanhudos o abandono da candidata – em que não viam mais ameaça pela evaporação dos apoios. 

           Assim, submetida a saraivada de críticas – o tempo do PT na propaganda do primeiro turno ascendia a cerca de dezesseis minutos – as verdades da campanha de Marina sofreram uma chuva de granizo perene, a ponto de sequer repontarem como dúvidas ou exageros, mas como esqueletos abandonados pelo caminho.

          Ricardo Noblat, esse grande nome do colunismo político, mostra, com a precisão habitual, os erros garrafais de Marina Silva: (1) publicação do programa  de governo sem que houvesse sido lido com rigor a versão final; (2) não abdicar da posição de manter-se distante de políticos  que julgara indignos de sua companhia.

          A intransigência, no capítulo, se mostrou desastrosa, como em afastar-se de Geraldo Alckmin, ora reeleito em primeiro turno.  E agora, José, que a festa acabou, de que serve o repúdio de importantes lideranças?

         Mais uma vez, Marina tem de apear do palanque e transformar-se em espectadora – por mais realce que haja recebido – de uma festa que não mais lhe pertence.

         Agora, só daqui a quatro anos...  Dilma está enfraquecida em relação a 2010. Os seus totais não são mais os mesmos, nem o PT de Lula – que elegia postes – logra confirmar valores como Eduardo Suplicy. É um partido que assistirá, desfalcado na sua bancada parlamentar e em algumas governanças, a festa da democracia que continua.

         Quem vencerá o embate entre Dilma e Aécio, é fato que só será descerrado no segundo turno. Ao contrário de 2010, quando havia poucas dúvidas sobre o potencial de ameaça de José Serra, ora desponta alguém com mais probabilidades de ameaçar a criatura de Lula.

          Para tanto, o ajudam o desgoverno de Dilma, dona Inflação, as contas que não batem, e o cansaço de muitos com os abusos e a arrogância petista.

          Se Aécio ganha ou não, é outra estória.  Mas não pensem que terão pela frente, com o PSDB de Aécio, a mesma frágil carniça de Marina e do PSB.

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S.Paulo )    

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