Marina volta a transformar-se em nota-de-pé-de-página de
mais uma eleição geral. Se aumenta um tanto o seu total, passando para vinte e dois milhões de votos (21,3%), quando da vez anterior surpreendera com pouco
mais de dezenove milhões (19,33%), desta feita, ao invés de surpresa, há desaponto
e mesmo desânimo.
A curva da candidata do movimento do Passe Livre desta vez mais
pareceu a de busca-pé em festa junina.
Sem lógica aparente elevou-se para depois cair. E caíu bem, permitindo a ascensão de Aécio
Neves, que permanecera quase todo o tempo nos baixios de suposta
irrelevância.
Marina mostrara força de início, mas
ao lado da fraqueza aparente – que pela sua magreza chega a obscurecer os espetaculares
resultados iniciais – no terço final da eleição, os seus erros deram as mãos à ínsita
debilidade estrutural.
Com um ridículo tempo de propaganda
eleitoral (por volta de dois minutos) e não dispondo de estrutura de apoio
confiável, Marina estava condenada a sangrar na parte final da contenda.
Assustados com os seus totais iniciais
– que a levavam a superar Dilma Rousseff
no encontro projetado do segundo turno – Lula e os demais gerarcas do PT cuidaram de emagrecê-la através da
artilharia pesada do marqueteiro João
Santana. Como até o primeiro filmete
sobre o Banco Central, com os seus traços caricaturais e a deformação
apresentada para consumo dos mais simples, nem isso motivou a concessão de
direito de resposta pelo T.S.E., o estado-maior de Marina se transformou, por
assim dizer, em estado-menor, renunciando à possibilidade de valer-se da
Justiça para equiparar a batalha, que se tornara renhida só de um lado.
Por outra parte, a memória de Eduardo Campos, só mereceria as honras
devidas em Pernambuco, eis que alhures, o PSB é um pequeno partido, sem
estrutura comparável aos gigantes PT e PSDB. Além de faltar-lhe
o apoio formiguinha, pela ação dos
respectivos afiliados, a apatia predominava, como o demonstraria o
presidente-substituto do PSB, Roberto
Amaral, cujas preferências pelo PT
são notórias. Quando a candidata começou
a despencar, essa desenvoltura aumentou,
até chegar à deselegância de não aparecer para a carreata final no Rio de Janeiro.
Nesse momento, os dois carros do dito cortejo (na verdade um, pois o outro era de apoio) rasgavam
sanhudos o abandono da candidata – em que não viam mais ameaça pela evaporação
dos apoios.
Assim, submetida a saraivada de
críticas – o tempo do PT na
propaganda do primeiro turno ascendia a cerca de dezesseis minutos – as verdades
da campanha de Marina sofreram uma chuva de granizo perene, a ponto de sequer
repontarem como dúvidas ou exageros, mas como esqueletos abandonados pelo
caminho.
Ricardo Noblat, esse grande nome do
colunismo político, mostra, com a precisão habitual, os erros garrafais de
Marina Silva: (1) publicação do programa
de governo sem que houvesse sido lido com rigor a versão final; (2) não
abdicar da posição de manter-se distante de políticos que julgara indignos de sua companhia.
A intransigência, no capítulo, se
mostrou desastrosa, como em afastar-se de Geraldo Alckmin, ora reeleito em
primeiro turno. E agora, José, que a
festa acabou, de que serve o repúdio de importantes lideranças?
Mais uma vez, Marina tem de apear do
palanque e transformar-se em espectadora – por mais realce que haja recebido –
de uma festa que não mais lhe pertence.
Agora, só daqui a quatro anos... Dilma está enfraquecida em relação a 2010. Os
seus totais não são mais os mesmos, nem o PT de Lula – que elegia postes –
logra confirmar valores como Eduardo Suplicy. É um partido que assistirá,
desfalcado na sua bancada parlamentar e em algumas governanças, a festa da
democracia que continua.
Quem vencerá o embate entre Dilma e
Aécio, é fato que só será descerrado no segundo turno. Ao contrário de 2010,
quando havia poucas dúvidas sobre o potencial de ameaça de José Serra, ora
desponta alguém com mais probabilidades de ameaçar a criatura de Lula.
Para tanto, o ajudam o desgoverno
de Dilma, dona Inflação, as
contas que não batem, e o cansaço de muitos com os abusos e a arrogância
petista.
Se
Aécio ganha ou não, é outra estória. Mas
não pensem que terão pela frente, com o PSDB de Aécio, a mesma frágil carniça
de Marina e do PSB.
( Fontes: O
Globo, Folha de S.Paulo )
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