C.Y. Leung, o Líder de Hong
Kong exigiu a liberação das ruas do centro para esta manhã, seis de
outubro.
Aumenta, no entanto, a incerteza
quanto ao que está por trás da exigência. Se se trata de um apelo pro-forma, talhado para não desagradar o
governo central de Beijing, ou se é para valer. Como será implementado é outra
questão, eis que há claros limites para o que a mídia possa chamar de ultimatum.
De qualquer forma, posto que se indique já
perceber-se sensível diminuição no
número de manifestantes da ocupação do centro de Hong Kong, ainda ali permanece
multidão considerável.
Essa ocupação de área central de Hong
Kong já principia a impingir à paciência de atividades que se vêem frustradas
pelas dificuldades na circulação. Esta
exasperação de certos segmentos bem poderia ser o motor de série de investidas
por pessoal de meia idade, que tem atacado grupos de manifestantes, recorrendo
inclusive à violência (restringida, no entanto, a ameaças verbais e empurrões).
Aplicar-se-ía aqui também um critério seletivo. Os valentões escolhem alvos
mais débeis, enquanto vociferam que assim não dá mais e que precisam continuar
a trabalhar. Daí, a sentida urgência de desimpedir a circulação e desembaraçar
os locais públicos.
O cerco dos edifícios governamentais,
se não foi levantado, apresenta pontos em que a ocupação dos logradouros se
reduziu um pouco. Assim, foi reaberta
rua adjacente à sede do gabinete de Leung, embora cerca de quarenta
manifestantes continuem sentados perto
da sede governamental de Hong Kong.
O chamado diálogo com Leung segue aos arrancos, por
duas razões principais: não há lideres incontestes do movimento que eclodira
espontaneamente, quando se soube que Beijing decidira endurecer as instruções
quanto à designação do comitê para escolher os nomes que concorrerão para Lider
da Região administrativa de Hong Kong, em 2017.
Por outro lado, o diálogo com o
Líder Leung procede aos trancos e barrancos, de uma parte pelo diálogo de
surdos com o representante de Beijing, que não admite negociar sobre a
disposição das autoridades federais em alterar o disposto sobre a eleição em
2017. Havia o entendimento que
representantes de Hong Kong poderiam concorrer livremente para a escolha
soberana da população de um novo Líder.
A vazada determinação de Beijing de transformar esse voto universal em
jogo de cartas marcadas (somente pessoas que tivessem o nihil obstat[1] da
capital chinesa poderiam concorrer) revoltou a população de Hong Kong.
Como se sabe, o território da antiga
colônia de Sua Majestade fora reunido à RPC após negociação com o Reino Unido.
No processo, foram inseridas cláusulas para preservar o respeito às
particularidades observadas na antiga Colônia, e em especial a democracia. Daí,
a fórmula de um país e dois sistemas, que Beijing quer, na prática, esvaziar, e
que os manifestantes lutam por manter.
Os manifestantes de Hong Kong
integram um movimento de muitas cabeças. Se o governo de C.Y. Leung reclama da
falta de um líder com que negociar – o que pode ser apenas uma desculpa,
atendida a circunstância de que para Beijing a flexibilidade da Administração
Regional é apenas uma ficção. A metrópole se fundamenta em uma postura
autoritária, que não convive com o dissenso. Como todos os regimes que se
apoiam no fuzil e no autoritarismo, para eles a democracia é uma espécie de
câncer que, por mais localizada que esteja, sempre representará para as
ditaduras sejam militares, ideológicas ou burocráticas uma séria ameaça.
Basta ver para sentir o seu
temor com esse tipo de desafio a enormidade que o regime burocrático chinês dispende em segurança
política e correlatos. Não é por acaso que a situação de Liu Xiaobo, Prêmio Nobel
da Paz, confere à República Popular da China o dúbio galardão de ser o único
país do planeta a manter o recipiendário de tal prêmio enfurnado em
masmorra.
Frustrando esperanças vãs, Xi
Jinping, o novo líder do regime burocrático da RPC, não quer correr riscos.
Os sistemas fechados representam viveiros preciosos para a luxuriante
corrupção. Zhao Ziyang, Secretário-Geral do Partido estava convencido de
que a corrupção prevalente só seria dominada através da democracia. Pena que
não conseguiu convencer o Supremo Líder Deng Xiaoping, e por isso Zhao
perderia todos os cargos e terminaria a vida em prisão domiciliar. Por ser muito popular, foi transformado em
uma não-pessoa na China, até sua morte em 2005.
O regime vigente na China é um
amálgama de abertura econômica controlada, com autoritarismo burocrático. A sua
preocupação não é a ideologia, mas sim a manutenção do poder. Será tendo isso
presente que se esforçam em evitar a sorte de Cixi, na grafia moderna, Ts’e-hi,
a Imperatriz Viúva[2], regime que teria feito, supostamente
em demasia, reformas e concedido liberdades, e por isso – e dentro dessa visão
distorcida - teria acabado vítima de seu próprio liberalismo...
(Fontes: The New York Times, O Globo, The New York
Review, Enciclopédia Delta-Larousse)
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