Ontem à tardinha, os filmes na tevê dos candidatos e
um evento em São Paulo, com a presença de Lula
da Silva e Dilma Rousseff
transmitiam aos eventuais espectadores imagens pressagas do fim próximo da
longa e acidentada campanha.
Mais do que isso, a divulgação das
prévias – os sólitos Datafolha e Ibope – escreviam nos ares o que se
intuía das cenas de evento político-eleitoral em São Paulo e das próprias
posturas corporais dos dois grandes rivais.
No meeting
na Paulicéia, lá estava a rouca voz do ex-presidente, decerto desrespeitando
todas as imagináveis recomendações de seus clínicos. Em ambiente eletrizado
pela longa, interminável e extenuante disputa, pairavam no ar mais do que premonições,
mas a certeza do triunfo ao alcance das mãos, que partilhavam o público
entusiasta, o tarimbado líder político e a própria objeto de tanta eufórica
certeza, que, empurrada pelas ondas inaferráveis levantadas e por fim
iluminadas por estranhas e envolventes visões, externava a sensação da próxima
conquista em patéticos pulinhos.
Para quem a visse, dir-se-ía que
experimentava alegria quase infantil diante da visão que, súbito, tomava conta
do ambiente, e a os muitos juntava, modestos, anônimos partidários, e os
figurões do palco, com a candidata à frente, todos envoltos por fenômeno tão ostensivo,
quanto indescritível.
Passados os dissabores, os contratempos,
as angústias e o enxame de dúvidas da longa caminhada, e de repente, já à vista
a data marcada do destino, pelos descaminhos de inauditas certezas, ali, no
grande espaço, a boa nova se espalha não se sabe bem de onde, mas soprando aos
ouvidos de maiores e menores, com os métodos de sempre, mas trazendo com ela a
envolvente sensação que tomam por visão
esplendorosa.
À alegria de uns será necessário, quase
imprescindível, o desalento de outros. Quem as desenha emprega mais as ambíguas
tintas da insinuação, do que os riscos pesados da certeza. E, sem embargo, o
personagem da banda oposta mostrará um diverso traço, sem o vinco das certezas
bem-aventuradas, mas o véu, tão discreto quanto manifesto, de um sopitado
desalento, que lhe vem empurrado por ondas premonitórias, tão arredias quanto as
outras são escancaradas.
Para ela – e seus campeões, com o velho, encanecido guia por
diante – a força reencontrada, na dura senda de árdua empresa; para ele, o esperançoso desafiante do
poder estabelecido, a perversa, subdolosa certeza da inútil caminhada, que o
destino escreve à sua volta, mas com caridosa crueldade deixa no ar, sem que ninguém
se disponha a quebrar-lhe o encanto.
( Fonte: Rede Globo )
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