quarta-feira, 23 de julho de 2014

Diário da Mídia (XX)


                           

Dunga e a Imprensa
   

        Difícil não estar de acordo com Fernando Calazans. A escolha de Dunga vai ao arrepio de tudo o que se antecipava, depois dos sete a um, de renovação na seleção. E como não frisar que em instante quando se espera novos ventos em nosso futebol, não há jeito de ‘esquecer o risco, o perigo, a insensatez da escolha da CBF (e não só em relação a Dunga, mas ao coordenador Gilmar Rinaldi também).

 

O gol da Copa 

          Também concordo com a opinião de Calazans sobre qual o mais bonito gol da Copa. A cabeçada de van Persie é incomparável, não só pela sua beleza, mas igualmente por seu caráter único.

           Através dos anos, será quase impossível repetir esse feito, único na plasticidade, acrobacia e originalidade. Pela sua grandeza não pode ser comparado ao tento de James Rodriguez, que é decerto um belo gol, mas sem a excepcionalidade do de van Persie.

 

As prisões dos ativistas         

            A propósito de revelações na imprensa e decisões judiciais sobre Sininho e o grupo de ativistas, uma passeata de protesto agitou faixas que levantam o problema dos prisioneiros políticos.

           Provoca certo desconforto essa atmosfera de denúncias na imprensa e na mídia em geral, com base em investigações policiais sobre os alegados planos dos ativistas, de que Elisa Quadros, a Sininho, constitui um dos pontos focais  de agregação.

           Como disse em nota recente, pergunto-me o que faria Sobral Pinto nessa questão. Não se pode nunca esquecer que todos são inocentes até que tenham a condenação passada em julgado.

           Inquieta-me, nesse contexto, a desenvoltura com que a mídia agita acusações da polícia, sem que se disponha de acesso ao indispensável contraditório.

           Essa atmosfera de denúncias e até de ocorrências em que a deputada do PSOL Janira Rocha é acusada de ajudar a advogada Eloisa Samy, suspeita de violência em protestos, me semelha ir muito além da serenidade e da compreensão que se deve ter com pessoa que, tangida por instâncias judiciais, procura o abrigo do direito de asilo.

           Nada mais reprovável do que a histeria e o clima de denuncismo que ora surgem, e que não caracterizam a democracia.  Nesse regime que é o pior de todos (com exceção dos demais, como o qualificou magistralmente Winston Churchill), não se deve prejulgar e nem perseguir sem culpa judicialmente comprovada.

           A pressa na animadversão àqueles que ousam defender os perseguidos é preocupante indício da formação de atmosfera que não é conducente a  juízo imparcial e equilibrado dos eventuais suspeitos. Dar assistência a perseguidos sem culpa formada – como o fizeram os deputados  Chico Alencar, Jean Wyllys, Ivan Valente, Janira Rocha (todos do PSOL) e Jandira Feghali (PCdoB) – é dar prova de espírito democrático e de respeito pela justiça.

 

(Fonte:  O Globo)

Um comentário:

Mauro disse...

Esse argumento implica em negar a legitimidade da polícia e do judiciário para exercer seus mandatos, e impedir a sociedade de se proteger contra quem lhe nega legitimidade. Esse é o caminho que realmente leva ao caos. De um lado está a institucionalidade, usando os instrumentos legais que tem. Do outro estão os que não hesitam em usar a violência para fazer valer suas vontades. Que todos se digam inocentes é do jogo, mas alçar a voz dos acusados ao mesmo nível da polícia e do juiz, e defende-los em flagrante arrepio das provas é loucura. O fato de diversos ativistas terem sido presos em flagrante parece não causar espécie em ninguém, já que tudo é parte de um grande complô. O fato de que esse debate esteja ocorrendo com seriedade mostra que quem quer o caos está vencendo. Um estrangeiro desavisado poderia pensar que se está lutando contra uma feroz ditadura.