quarta-feira, 9 de julho de 2014

De que nos serve Alemanha 7 x 1 Brasil ?

                                  

             Ao assistir a derrota de Portugal por 4 x 0 frente à Alemanha, me perguntei como uma seleção nacional se deixava esmagar com tanta facilidade, dando mais do que a impressão de que entre as duas seleções houvesse enorme disparidade técnica, e sim que pertencessem a mundos separados dos hiperdesenvolvidos e dos subdesenvolvidos.

             Mais tarde e graças sobretudo à Argélia, país que bem conheço e em que me foi dado enfrentar talvez o seu momento mais difícil, pude verificar ao acompanhar o jogo Alemanha x Argélia, quão essa diferença poderia ser enganosa.

            Em meu blog de 30 de junho de 2014, me reportei ao embate, pelas oitavas de final, entre Alemanha e Argélia, no Beira Rio. A esquadra germânica pisou no gramado gaúcho com a soberba de quem se apresta a cumprir partida pro-forma diante do modesto time argelino.

           Tal era igualmente a atitude do locutor da Globo, Alex Escobar, e do comentarista Júnior. A expectativa era de goleada – presente estava o rolo-compressor teutônico e como destroçara a seleção lusa. E as avaliações da equipe argelina se modulavam pelas facécias de Escobar e as piadinhas de Júnior.

          E, sem embargo, os gaúchos veriam a princípio com surpresa e, em seguida, com o prazer que se reserva ao bom combate, a peça que sem-cerimônias a equipe argelina começa a pregar aos  contrafeitos alemães.

         Não vamos pintar a realidade com tintas que ela não possui. A Argélia mostrou além de coragem e denodo, uma disposição tática que surpreendeu os alemães, que pensavam estar ali para cumprir apenas um compromisso do torneio, e de cambulhada esmagar o time do Magreb, como procederam no que tange ao time de Cristiano Ronaldo.

         Menosprezar o adversário é  atitude perigosa, porque o tiro pode sair pela culatra. Se ao final os alemães prevaleceram, foi por 2 X 1, e precisaram de prorrogação para tanto.

         Como descrevi no meu blog de 30 de junho sobre essa partida, a seleção alemã não foi o esperado rolo compressor, porque carecia de defender-se dos continuados ataques pelas pontas dos argelinos. Esta Copa nos ensinou quão longe podem chegar seleções com jogadores modestos tecnicamente, mas com firme disposição tática e grande espírito de conjunto. Para isso, é necessário respeito ao adversário e a presença de técnicos competentes, que saibam montar esquemas defensivos e de ataque em condições de minimizar a prevalência em habilidade das equipes cabeças de chave e dispondo de elencos com craques dignos desse nome.

        Ao analisar a partida Alemanha x Argélia, não escatimei elogios ao esforço e à dedicação dos jogadores argelinos que, a despeito de não serem grandes craques, compensavam a deficiência com total entrega ao plano elaborado pelo orientador técnico.

        Por outro lado, a equipe da Costa Rica terminou invicta a sua participação, eis que foi derrotada apenas nos pênaltis.  A simpática seleção centro-americana mostrou igualmente o que vale a defesa bem estruturada, e um grande goleiro. Nesse sentido, Robben e outros luminares do time laranja correram muito, mas não lograram  marcar tentos no arco de Keylor Navas, considerado pela FIFA o melhor goleiro desta Copa.

       Essas considerações não são digitadas em vão. O comportamento do time brasileiro ontem no Mineirão foi acabrunhante. Desorganizado no ataque, mas sobretudo na defesa, reservou para a semifinal o que tinha de pior. Nós brasileiros, não queríamos ver que a seleção de Felipão não era a maravilha que o oba-oba de certa mídia e dos áulicos de plantão apregoavam.Não correspondia aos parâmetros de scratchs anteriores, como o de 2002, do penta.

       Infelizmente, a verdade sempre aparece, e muita vez da maneira mais brutal e acachapante. O rei Felipão não esperava por essa vergonhosa surpresa que nos veio da corte da granja Comary em Teresópolis.

       Para que serviram os fundos e todas as mesuras da mídia, com o arcipreste Galvão Bueno à frente? Há estranha maldição no que concerne à Copa das Confederações. Quem a arrebata, não leva o Mundial... E nós, desde o Itaquerão, com os xingamentos a Dilma Rousseff não queríamos talvez reconhecer que o time canarinho apresentava falhas preocupantes.

       Mal ou bem – e muito graças a Neymar e aos adversários – chegamos ao penúltimo degrau na nossa suposta ascensão para as delícias do Hexa. Vamos ter que pacientar no mínimo mais quatro anos para tentar afinal apoderar-nos desse número ordinal grego.

        Todavia, carecemos de respirar fundo, ignorar as provocações – que virão de cantos previsíveis -, e principiar, de verdade, uma reforma em nossas instâncias futebolísticas. Exportamos jogadores para todo o mundo, e esta nossa aptititude continua a refletir-se nas inúmeras seleções estrangeiras a que cedemos brasileiros natos para que reforcem os plantéis respectivos.  E os exemplos são tantos que não vale a pena deter-nos nesse campo tão visitado.

         Mas esta observação não é feita em vão. Não há nada com a qualidade técnica do jogador brasileiro.  Não é por aí que os nossos reformadores devem atuar.

         Precisamos evoluir, como disse Daniel Alves. Mas também carecemos de seriedade nesse aspecto, e poderíamos imitar o exemplo de tantas seleções que, a despeito de modestas, tiveram técnicos diligentes que fizeram o dever de casa e não saíram da Copa desonradas.

          Mas de nada valerá todo esse propósito se não for reformada a C.B.F. Desde que me entendo por gente ela pode mudar de nome, mas não de métodos.

          O Governo Dilma Rousseff faria alguma coisa em campo a que os brasileiros prezam tanto – e não somos pentacampeões mundiais por acaso – se agilizasse um processo sério e abrangente, sem oportunismo politicóide, que limpasse as Cavalariças de Augeas.

 

(Fontes subsidiárias: O Globo; Rede Globo)      

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