O Presidente Barack Obama, após examinar a
inteligência levantada pelos serviços americanos, reportou-se em entrevista na
Casa Branca ao papel desempenhado pelo Kremlin em armar os rebeldes na Ucrânia
oriental.
Os últimos acontecimentos, que
acarretaram a derrubada de um voo da linha aérea Malaysian Airlines, e centenas de
mortos civis, constituem um “ultraje de proporções indizíveis”.
O presidente americano disse que os
separatistas foram armados e treinados com base em apoio russo. “Aeronaves que voam
a grande altura não podem ser abatidas sem treinamento e equipamento
sofisticado, e isso está vindo da Rússia.”
Obama acusou Putin de estar empenhado
em uma guerra por procuração (proxy war), o que está levando à tragédia. “Ele
dispõe de grande controle sobre a situação, e por enquanto ele não o tem
exercido (no sentido de evitar tais desastres)”.
Em declarações que provocariam
vômitos em Gastão, personagem do saudoso Henfil, Vladimir Putin encareceu
conversas: “Todas as partes no conflito devem cessar a luta e começar
negociações de paz. É com grande preocupação e tristeza que nós estamos
observando o que sucede na Ucrânia oriental. É horrível, é uma tragédia.”
Diante do cinismo, a reação pode ser
de impotência, ao deparar-se que a mentira e a injustiça prevaleceram. Se na
invasão da Criméia, e posterior anexação – que contou inclusive nas Nações
Unidas com o voto inconstitucional da antidiplomacia de Dilma Rousseff, que
envergonha o Brasil e é achincalhe à nossa tradição diplomática – Putin parece
ter logrado êxito no seu desrespeito ao direito internacional, e aos pacta sunt servanda[1] com desgaste
menor, o sucesso imperialista o fez enveredar por empresa muito mais complexa.
A revolta na Ucrânia oriental, insuflada por
Moscou, e alimentada com armamentos e iteradas ameaças de invasão de tropas (os
quarenta mil) que estão na cabeceira da linha férrea que vai de Kharkov a
Luhansk e Donetsk, é um jogo perigoso, dada a extensão da área, e a disposição
de boa parte da população contrária a esse gênero de aventura.
Utilizando-se de tática que julga
sofisticada – fez inclusive transitar por círculos a eles próximos que não mais
se dispunha a apoiar os rebeldes pró-Rússia – gospodin Putin continua a
praticar o que nega, vale dizer a armar os rebeldes e a intervir para o
agravamento da situação.
De certa maneira, o silêncio
internacional que o circunda, em termos de manifestações de apoio veio a ser reforçado
por um sobrevivente da guerra fria, Fidel Castro, que julgou oportuno
manifestar-se a favor do movimento rebelde pró-Rússia, acusando a Ucrânia da derrubada do avião, e descrevendo, em artigo no 'Granma', o incidente como "provocação insólita".
Por fim, o comportamento dos
separatistas que guardam o sítio do desastre mostra claramente temerem os
resultados de uma investigação séria e independente. Se permitiram a entrada na
área na sexta-feira de algumas equipes para coletar os corpos, a Organização da
Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) revelou que rebeldes armados impediram
os seus monitores de terem pleno acesso ao sítio, de modo a garantir caminho
seguro para a investigação e operações
de recuperar os destroços do desastre.
Está mais de acordo com o comportamento desses
milicianos a serviço de Moscou – e as detenções ilegais dos inspetores da OSCE
já o demonstraram sobejamente em passado recente – que um rebelde chegou a
atirar para o ar, na saída dos monitores.
O porta-voz da OSCE, Michael
Bociurkiw, acrescentou que os cadáveres começam a inchar.
Eles são no terreno de girassóis
as provas que clamam contra o ultraje sofrido, e pedem justiça.
(Fonte: The New York Times)
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