quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Enigma das duas Copas

                                   

     A última Copa do Mundo, que seria para nós a do Hexa e virou a do Nada, representa para os brasileiros um falso enigma ou realmente é mistério que clama por ser decifrado?

     Pois na Taça das Confederações, a nossa seleção atuou com uma desenvoltura e aplicação tática, que jamais foi entrevista na medíocre campanha deste Mundial.

    No torneio anterior, havia aplicação e empenho que não foram vistos aparecer nas pálidas atuações da Copa.  A começar pela abertura com a Croácia, o bisonho gol-contra de Marcelo já indicava outra postura, que pouco ou nada tinha a ver com as alegres, desenvoltas jogadas do certâmen das Confederações.

     No torneio anterior, as atuações da seleção mostraram o entrelaçamento de conjunto e individualismo. Nesta Copa, os lampejos do craque Neymar, enquanto foram permitidos pelas covardes botinadas  (sem falar da acintosa falta do joelhaço) tiveram brilho muito menor do que os precedentes. Então, contra o México, quem se esqueceu do drible magistral na passagem entre dois defensores, concluído com chute tão belo, quanto indefensável?

      Se os nossos plantéis das Confederações e do Mundial não diferem muito entre si, a distinção está no espírito, no ânimo e, sobretudo, na aplicação, que se faltaram agora, gritaram presente! no torneio de Brasília.

       O que se fez do conjunto e do empenho das Confederações, em que o nosso escrete enfrentou com êxito a campeã mundial, a Espanha, que naquela época reinava quase invencível, nada tendo a ver com a sua posterior e decepcionante participação nesta Copa ?

       Em Brasília, a seleção mostrara  empenho tático e de conjunto que sumiu  no Mundial, quase a merecer cartazes clamando pela sua volta, por desaparecido, a ela que a cada partida mais se desagregava e se mediocrizava?

       A criminosa falta de Zúñiga que um estranho árbitro espanhol sequer viu, e tampouco dona Fifa cuidaria de punir, configurou o que se pareceria com a caricatura de imaginária perseguição da entidade de Herr Blatter, como se o Hexa representasse algo a ser inviabilizado. Não sou adepto de teorias conspiratórias, posto que o comportamento desses senhores, afastando nossos jogadores por motivos risíveis de matches decisivos até que alimentaria tais explicações.

          E tudo viria a terminar no que Felipão e a sua comissão técnica denominariam de apagão. Como inerme ou ultrapassado animal, a seleção permitiu a humilhação dos sete a um. Saindo da Copa imitamos Portugal, que a começara perdendo de quatro a zero para a Alemanha...

          Tanta falta de aplicação, em que aparecemos como equipe bisonha de roça, impotente diante de irresistível adversário, e transformamos a própria área em linha de passe dos adversários, que marcavam à vontade diante de atarantados defensores, e de um goleiro transformado em caricatura do Júlio Cesar que se redimira da falha de Brasil x Holanda, na África do Sul ?

          Que tem isso a ver com as atuações pregressas da Taça das Confederações?

          O próprio Felipão, como pugilista que trôpego se levanta depois de beijar a lona, e escapar zonzo do nocaute, não soube infundir a seus pupilos o espírito de luta e aplicação que presidira às partidas no torneio anterior.

          Privados de Neymar, pela deslealdade do foul, o scratch não era mais a seleção que costurou cinco estrelas na malha amarelinha.  Sequer imitamos a Argélia, que, se não tem jogadores à altura dos brasileiros, soube enfrentar com engenho a máquina alemã, reduzida a zero a zero no tempo regulamentar, e a um suado 2x1 na prorrogação.  E qual foi a fórmula mágica argelina: inventiva e denodo (através de seguidos ataques pelas pontas), a par de cuidado defensivo. O que se viu: uma Alemanha esbaforida e atrapalhada, desequilibrada pelas investidas dos modestos argelinos, e incapaz no tempo regulamentar de marcar um solitário gol diante de defensores aplicados, que não abriram as portas da área como se fora salão de festas.

         Fala-se que a seleção canarinho tropeçou e caíu porque não seguiu os novos preceitos que outros times neste mundial adotaram. E, no entanto, mais do que esse sopro de técnicas e táticas mais apuradas e avançadas, o que faltou à seleção foi sobretudo a alegre inventiva do futebol brasileiro, que, a exemplo do funcionário relapso   que se ausenta do trabalho, deixando apenas a própria camisa pendurada (como o casaco das repartições burocráticas), e desapareceu com o seu engenho e arte a que no passado nos acostumara.

        Sem querer, Felipão imitou Dunga, e fez prevalecer na seleção a mediocridade e a falta de aplicação, entrosamento e originalidade. Para lograr tal reversão, sequer careceu de mudar de jogadores. Disso, Fred pode constituir exemplo, posto que não seja o único. Pois certamente o oportunista centroavante das Confederações, que até deitado marcava, o que tem a ver com o apagado Fred deste Mundial?

        Além disso, em termos de escalação, esquecemos o meio-campo, na pessoa do armador.  Ganso, depois de longa pausa, vinha mostrando atuação que já nos indicava estar recuperando a antiga forma. Também Cacá seria deixado de lado.  Felipão decretou que, ao invés de armadores, a seleção se serviria dos chutões dos beques e volantes – e aconteceu o espetáculo previsível! Até mesmo a fraca equipe dos Camarões nos dificultaria a caminhada, e a razão estava na falta de ligação entre defesa e ataque...

 

( Fontes subsidiárias:  O Globo,  Folha de S. Paulo )

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