Após o balde de água fria da derrota da seleção por um humilhante sete
a um, a Presidenta, em entrevista à CNN,
defendeu uma ‘renovação’ do futebol no Brasil.
Declarou ainda não crer que o fim da Copa resulte em piora do humor
nacional.
Não ficou claro, no entanto, como entende se
deva viabilizar a referida renovação.
Essa necessidade se afigura óbvia e, por isso, carece de ser desenvolvida. Nesse sentido, em meu blog de nove de julho “De que
nos serve Alemanha 7 x 1 Brasil ?”
escrevi: “O Governo Dilma Rousseff faria alguma coisa em campo a que os
brasileiros prezam tanto – e não somos pentacampeões mundiais por acaso – se
utilizasse um processo sério e abrangente, sem oportunismo politicóide, que
limpasse as Cavalariças de Áugeas”
A renovação se impõe, mas de nada
servirá que a Presidente se restrinja a levantar essa bola – uma imagem
futebolista que semelha apropriada – e fique nisso mesmo. As instâncias e os
paredros de nosso futebol mostram sobejamente que não partirá deles qualquer
real iniciativa neste sentido.
Eles têm que ser induzidos a tratarem
da questão, pois o nosso futebol sofre de muitos problemas. O Governo federal
não desconhece, decerto, as disposições impostas pela FIFA, para garantir a autonomia de CBF e congêneres. Por isso, o processo tem de ser implementado de
forma abrangente, com a participação das instâncias competentes, mas igualmente
com o imperativo de maior adequação dos torneios à participação dos atletas
(como de resto vem sendo reivindicado pelos jogadores e desatendido pela CBF).
Nesse contexto, a intervenção do
Ministro Aldo Rebelo considera que a derrota na Copa mostra ser preciso ‘mudar
a estrutura do futebol brasileiro’. Para tanto, defende a intervenção estatal. Nesse sentido, propõe que o Estado ‘sugira
projetos de lei e faça pressão sobre os dirigentes’.
No meu entender, ao invés de
verticalismos, caberia criar um grupo de trabalho com pessoal sério e
competente, que inclua não só representantes da CBF e das federações, mas
também dos jogadores, assim como participação de profissionais de imprensa
especializados.
Não se ignora que a FIFA proíbe a interferência dos governos
nas federações nacionais. No entanto, os gerarcas da Fifa não trepidaram em
pressionar o governo brasileiro – e de forma por vezes até vulgar e chula –
quando se tratou de agilizar a feitura dos estádios e infraestrutura correlata
para garantir a realização no Brasil da Copa.
Por isso, há limite para tais
interferências. O Brasil é o celeiro do futebol mundial, e qualquer torneio
tende a ser prova indireta disso pelo comparecimento de craques brasileiros
miraculosamente transformados em uma pluralidade de nacionalidades.
Dada a qualidade relativa desses
reforços – em geral tais ‘naturalizações’ trazem para outros scratches jogadores que não teriam
qualidade comparativa aos integrantes da seleção nacional brasileira – há
poucos exemplos de que o Brasil venha a ser prejudicado com essa ‘exportação’
por debaixo do pano.
Espero, por conseguinte, que a
intervenção da Presidente Dilma Rousseff seja a ponta de uma intenção de
realmente contribuir para que as instâncias, a estrutura, o material humano
disponível – que é de alta qualidade – venham a dispor de dirigentes e de meios
materiais que efetivamente valorizem o nosso jogador, cuja qualidade fala por
si só.
Talvez se haja esquecido, mas é
importante lembrar que a conquista de nosso primeiro título mundial na Suécia
muito se deveu à contribuição de Paulo
Machado de Carvalho, que, com apoio do governo Juscelino Kubitschek,
estruturou a nossa seleção e participação.
Será dessa maneira, com atuação
efetiva e responsável, que se criarão as condições de grandes êxitos e
conquistas futuras.
Ou será que continuaremos a
confiar naqueles que quando o céu se enfarrusca e as coisas no campo vão mal,
tratam de se pôr ao largo e escapar de fininho?
(Fontes: Folha
de S. Paulo, O Globo)
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