Putin e a tragédia do Voo MH17
É difícil que a esta altura ainda se mantenha o
simulacro de que a Rússia de Putin e a sua intervenção na Ucrânia oriental seja
uma simples hipótese de investigação nas causas do abatimento por míssil do voo
da Malaysian Airlines MH17. Esse brutal atentado matou 298 inocentes, dos quais 193 holandeses (a KLM, linha aérea daquele pais, tem nessa linha acordo com a
Malaysian).
Dirigindo-se a quem se supõe
tenha muita responsabilidade nessa desgraça, o Primeiro Ministro da Holanda, Mark
Rutte declarou por telefone a Vladimir Putin que ele tem a última
chance de demonstrar que leva a sério os trabalhos de resgate e recuperação dos
corpos das vítimas.
“Você tem uma última chance
para mostrar o que significa a palavra ajuda” disse Rutte a Putin, na que ele
definiu como uma “conversa telefônica intensa” com o Presidente russo.
Antes, em telefonema da
Chanceler Angela Merkel, Putin concordou em que se abra investigação
internacional, sob os auspícios da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI).
Até o momento, os milicianos
que controlam a área em que caíram os restos mortais dos passageiros, bem como
os destroços da aeronave e tudo o mais que possa interessar no que concerne à
definição das responsabilidades neste mega-crime têm dado mostras grosseiras de
sua colateral aparente responsabilidade.
Não facilitam – muito pelo
contrário – os exames – que constituem rotina em tal ‘acidente’. Os monitores
da OSCE já conhecem a laia desses
milicianos – e é indicação de sua coragem e determinação que voltem a áreas
infelizmente dominadas por essa escória.
Além de saquearem como
predadores as posses dos infelizes que o míssil Buk abateu – computadores portáteis e demais pertences dos
passageiros – os milicianos acossam quem cumpre o seu dever, vedando acesso a
determinados setores do sítio de Grabova.
Muita vez se lê ou se ouve a
assertiva de que a fonte jornalística não pode asseverar a eventual
conformidade aos fatos das declarações de testemunhas – e me reporto, como é
óbvio, não a quem procura dificultar e afastar os técnicos empenhados na
vistoria do desastre. Pois, se para algo
servem os indícios, vedar acesso, dificultá-lo ou restringi-lo a áreas
determinadas, é comportamento inaceitável e que implica em intento de ocultar
ou impossibilitar à fiscalização de determinar as causas desse ‘acidente’
aéreo. O ditado ‘quem não deve, não teme’
realça aspecto importante das tentativas de negar acesso à verdade dos fatos.
Por isso, que é relevante
enfatizar pela sua pertinência e determinação o telefonema do Primeiro Ministro
Mark Rutte que confrontou o todo poderoso Vladimir Putin, Presidente de todas
as Rússias, vincando com a energia dos que abraçam as causas justas a
responsabilidade do Senhor do Kremlin em fazer com que os milicianos
pró-Rússia, movimento criado para desestabilizar a Ucrânia, ajudem os esforços
internacionais nos trabalhos de resgate e recuperação dos corpos das vítimas do
voo MH17 da Malaysian Airlines.
Há muitos elementos que
comprovam a entrada na Ucrânia oriental de três sistemas de mísseis guiados por
radar Buk-1 ou AS-11. Eles provieram da Rússia, e foram acompanhados por
cidadãos (técnicos) russos. Ainda nesse sentido, o Primeiro Ministro ucraniano,
Arseniy Yatsenyuk declarou à imprensa alemã que a queda do avião é obra de especialistas,
e não de um bando de ‘gorilas bêbados’, e nesse contexto, Yatsenyuk voltou a
acusar a Rússia.
Estimulado pela fácil conquista
da Criméia, a que facilitou em demasia o fato de o governo federal da Ucrânia
estar então na prática acéfalo, Vladimir V. Putin terá julgado que a porteira
continuava aberta para a sua política de duas caras. Por um lado, com o biombo
do Ministro do Exterior, Sergei Lavrov, se comprometendo em Genebra com acordos
que rasgaria logo adiante, sem esquecer a cortina do oficialismo a apregoar
repensamentos e supostas boas intenções. E por outro lado – e aí está de volta
a velha KGB – deixa, na prática, sair dos porões da clandestinidade os não-tão
embuçados agentes do velho imperialismo russo.
Causas da 1ª Guerra Mundial (contd.)
O cortejo real passou por casas e lojas adornadas
com bandeiras preta e amarela dos Habsbourg, e vermelha e amarela da
Bosnia. No caminho do Arquiduque estava Muhamed
Mehmedbasich, natural de Sarajevo, que tomara posição na ponte Cumurija. O
primeiro elo da cadeia conspiratória sentia crescer-lhe a volta a tensão com os
aplausos para o Príncipe. A bomba que deveria lançar na direção do carro, para
que explodisse carecia que a capa de percussão fosse quebrada. A ação produzia
um estalo forte, e a partir de tal instante, o engenho precisava ser jogado
sobre o alvo, porque iria explodir de qualquer modo. Muhamed conseguiu retirar
o que recobria o artefato, mas por razão não determinada – o medo de um
polícia, o peso da responsabilidade e o próprio risco – não arremessou a bomba.
Mais adiante estava o
bósnio-sérvio Nedeljko Cabrinovich,
que se postara na calçada da margem do rio. Foi o primeiro assassino a entrar
em ação, jogando a bomba com o detonador já acionado na direção da viatura. O
guarda-costa do arquiduque, Conde Harrach, interpretou o barulho como se um
pneu houvesse estourado, mas o motorista divisou a bomba que vinha na direção
do carro e teve o reflexo de pisar no acelerador. Não se sabe se o Arquiduque
logrou afastar o engenho ou se este bateu no tecido dobrado do teto do
compartimento de passageiros, e se apartou do alvo, caindo por baixo do
seguinte carro do cortejo. A explosão abriu cratera na rua e feriu a vários
agentes que o veículo transportava.
O arquiduque respondeu ao atentado com surpreendente
sangue-frio. Olhando em volta, viu que o terceiro veículo estava desabilitado.
Havia muita poeira e fumaça no ar, e o barulho da explosão perdurava. Uma lasca de vidro cortara a face de Sophie,
mas era o único ferimento do casal. Havia feridos no terceiro carro, e o que
mais sofrera era o assistente do general Potiorek, o Coronel Erik von
Merizzi. Ele estava consciente, mas
sangrava muito na cabeça. Alguns populares também haviam sido feridos.
Alguém com experiência de
segurança, teria organizado a saída imediato do teatro da ação, porque, naquele
momento, seria impossível determinar se
o atentado contra o príncipe tinha outros elementos. Ao invés de abandonar
prontamente a área, o Arquiduque cuidou de providenciar tratamento para os
feridos, e em seguida mandou que o comboio fosse até a Prefeitura no centro da
cidade e de lá voltasse pelo mesmo bulevar do Cais Appel, de modo que o casal
pudesse visitar os feridos no hospital. Sem dar tento ao que o bom senso e a
prudência recomendavam, Francisco Ferdinando julgou que se tratava de um louco,
que estava sozinho.
Aos solavancos, e não
sabendo o que lhes esperava, o cortejo retomou o mesmo caminho. Os demais
membros da conjura continuaram nos seus postos. O arquiduque lhes dava assim a
oportunidade de concluir a sua macabra missão. Vaso Cubrilovich, o mais jovem dos terroristas, não sacou o
revólver porque no último momento viu que a duquesa estava ao lado de Francisco
Ferdinando. “Tive pena dela”, declarou depois.
O seguinte, Cvijetko Popovich,
também falhou, imobilizado pelo medo: ‘perdi a coragem quando no último instante
enxerguei o Arquiduque’. Quando soube da bomba de Cabrinovich, correu para a
sede Prosvjeta (sociedade cultural sérvia) e escondeu a sua bomba por trás de
uma caixa no porão.
O único que não perdeu a calma foi Gavrilo
Princip. De início pensou que o complô tivera êxito. Correu para o posto de Cabrinovich, e viu que estava
sendo levado pelos seus captores, demonstrando o extremo desconforto provocado
pelo veneno que ingerira. ‘Logo vi que tinha falhado, e que não tinha conseguido
envenenar-se. Resolvi então liquidá-lo, mas nesse momento os carros passaram.’
Pensou então voltar à sua missão, mas os carros passaram depressa demais. Pode,
no entanto, ver o Arquiduque com a nitidez que o seu capacete adornado de penas
verdes de avestruz lhe conferia. O restante conspirador, Trifko Grabez, havia
deixado o seu posto à procura de Princip. Quando o cortejo passou tampouco
lançou a bomba, pretextando depois que a multidão lhe impedira de retirar o artefato
debaixo de seu abrigo.
Como o cortejo chegou até a sede da
prefeitura sem qualquer outro incidente, podia até pensar-se que o Arquiduque
estava certo em manter o programa. Ali haveria pequena cerimônia, em que o
casal seria saudado pelo prefeito Fehim Effendi Curcic. Tudo saíra errado, e
Curcic sabia que a sua inócua saudação se tornara inadequada. Nervoso, resolveu
ir em frente. Quando Curcic disse que os
cidadãos de Sarajevo saudavam Sua Alteza da forma mais entusiasta e com a mais
cordial das boas-vindas, Francisco Ferdinando o interrompeu colérico:
“Venho aqui como seu hóspede e seu povo me recebe com bombas!” Seguiu-se horrorizado silêncio, enquanto
Sophie sussurrava no ouvido do marido. Este, recuperando a calma, disse :
“Muito bem. O senhor pode continuar.”
Quando Sua Senhoria
Curcic concluiu a saudação, o príncipe falou de improviso, eis que as folhas
com o seu discurso estavam manchadas do sangue do oficial que viajara no
terceiro carro. Terminadas as falas, o casal se separou por alguns minutos. O
arquiduque aproveitou para ditar telegrama para o Imperador, dizendo que o
casal estava bem, e que lhes estavam sendo mostradas as salas de recepção da
Prefeitura. Então pareceu que o choque da manhã se fazia afinal sentir. Segundo
testemunha local, ele passara a falar numa voz esquisita e fina.
Perguntado pelo
Arquiduque se um outro ataque seria provável, o Governador Potiorek respondeu
que lamentavelmente, a despeito de todas as medidas, não era possível excluir a
possibilidade. No entanto, o Arquiduque modificou a proposta de sair logo da
cidade, ou então ir para o palácio do governador, de onde rumariam para a gare
Bistrik, de onde o casal viajaria para Viena. Antes disso, o Arquiduque queria visitar no hospital o
ajudante de ordem de Potiorek, ferido no atentado da manhã.
Por sua vez, a
esposa Sophie preferiu acompanhar o marido até o hospital, ao invés de seguir seu
programa. Na confusão, tinham esquecido de avisar aos motoristas a mudança no
itinerário. Por isso, ao passarem pelo bazar, o veículo guia dobrou à direita,
justamente na rua Francisco José que, pelo ajuntamento e a possível presença de
outro assassino, o governador optara por
não utilizar. Ao ver que entravam no
caminho errado, Potiorek repreendeu o chofer: “Este não é o caminho! Nós
devemos tomar o Cais Appel !" Por isso o motor foi desligado, e o carro – que
não dispunha de marcha à ré – foi lentamente empurrado para trás, na direção da
via principal.
Chegara a hora de Gavrilo Princip. Ele se
tinha posicionado em frente de loja no lado direito da rua Francisco José. Como
o carro do casal real estava quase parado, ele logo ficou bastante próximo do
coupé Graef und Stift. Não
conseguindo retirar a bomba que tinha amarrada na cintura,puxou o revolver. No
estribo esquerdo, o Conde Harrach olhava
horrorizado o quadro. No carro, Potiorek vive a mesma experiência de irrealidade
da cena: ao ouvir os dois tiros ele encara o assassino, mas não vê fumaça
nem centelhas dos tiros. Os tiros têm ruído abafado, como se viessem de
longe. A princípio, ambos pensam que o
terrorista haja errado, porque o casal permanece sentado nos respectivos assentos.
Na verdade,
Gavrilo Princip – que quase foi linchado pela multidão – acertara o alvo.
Embora aparentassem estarem incólumes, o casal sofrera ferimentos letais: o
primeiro tiro atravessou a porta do carro e penetra no abdômen da Duquesa,
cortando-lhe a artéria do estômago; e o segundo disparo atinge o Arquiduque no
pescoço, rasgando-lhe a jugular.
Enquanto o carro
vai em disparada para o Konak (o palácio do governador), Sophie foi resvalando
até que o seu rosto fique entre os joelhos do marido. O governador pensa de
início que ela tenha desmaiado.
Por sua vez, o
Conde Harrach, que se segura no estribo, logra evitar que o Arquiduque
caía para a frente, ao segurá-lo pelo colarinho do uniforme. Nesse instante, ouviu na débil voz
de Francisco Ferdinando palavras que depois ressoariam por todo o
império: ‘Sophie, Sophie, não morre, fique viva por nossos filhos !’
Então, o capacete
de plumas verdes de avestruz cae de sua cabeça. Neste momento, Harrach lhe pergunta se
sente dor, e o arquiduque repete, por mais de uma vez, em sussurro ‘Não é nada!’, até que venha a perder a consciência.
Transportados
para o Palácio Konak, Sophie chega morta. Por sua vez, o Arquiduque está
comatoso. Seu valete, o Conde Morsey, veio correndo, desde a cena do crime até
o palácio do governador. Colocado o príncipe em quarto do primeiro andar, Morsey tenta
facilitar-lhe a respiração, cortando a frente de seu uniforme. O sangue retido
mancha os punhos amarelos do uniforme do valete. Ajoelhado ao lado da cama,
ele pergunta se teria mensagem para os filhos. Não há resposta. Seus
lábios já se enrijecem. Em poucos instantes a morte do herdeiro aparente da Coroa austro-hungárica é
constatada. Passavam alguns minutos das onze da manhã.
(a continuar no próximo domingo)
Justiça e Imprensa na prisão de Sininho
e mais 22 ativistas
Excetuada a censura
inconstitucional e a plena validade do direito internacional humanitário entre nós, não é meu feitio ocupar-me de questões afeitas
à magistratura e ao direito em geral. Bacharel pela Faculdade Nacional de
Direito da Universidade do Brasil, em dezembro de 1960, segui o Instituto Rio
Branco e a carreira diplomática. Mas não esqueci as lições e o exemplo de
Hermes Lima, Hahnemann Guimarães, Oscar Stevenson e Haroldo Valadão.
Tenho acompanhado a
odisseia do grupo de que Elisa Quadros, a Sininho, é a figura mais conhecida. No
momento, cinco ativistas permanecem presos em Gericinó e outros dezoito serão
procurados pela polícia.
A imprensa tem sido
bastante discreta no que tange a essas prisões. As notícias são enfurnadas nas
páginas internas dos jornais, e salvo erro ou omissão não topei com editoriais
sobre o assunto.
Não obstante, como a
democracia que pretendemos ser, me parece questão que merece atenção e debate. Valendo-se
de sua prerrogativa constitucional, os deputados Jean Wyllys, Chico Alencar e
Ivan Valente, todos do PSOL, e Jandira Feghali (PCdoB) entraram nesta
quarta-feira com uma reclamação disciplinar contra o magistrado Flavio
Itabaiana. Consoante nota de O Globo, eles alegam que o citado magistrado agiu
com arbitrariedade e abusou do poder, ao determinar os mandados de prisão
temporária, na semana passada.
Ontem, dia dezoito de
julho, consoante a citada notícia de O Globo, o juiz se pronunciou, por meio de
nota, rebatendo as críticas e afirmando que os parlamentares deveriam se
dedicar a agir em “prol do povo brasileiro”.
Data vênia, a mim
semelha que esses deputados, ao defenderem os ativistas presos, estão agindo em
prol do Povo brasileiro. Como Sobral Pinto não está mais entre nós, é
importante que os aludidos parlamentares se empenhem na defesa de cidadãos
brasileiros.
Ontem, a menos de
duas horas depois de o Desembargador Siro Darlan, da 7ª Câmara Criminal, ter
determinado a soltura dos últimos cinco presos, o juiz Flavio Itabaiana,
da 27 ª Vara Criminal, decretou a prisão
preventiva de 23 pessoas do grupo investigado – prisão essa que pode perdurar
até o julgamento.
Na sua decisão, como
reporta O Globo, o juiz Flávio Itabaiana disse que decretou a prisão preventiva
para a garantia da ordem pública e qualificou o grupo como perigoso. Segundo o
magistrado essa periculosidade se evidencia por “terem forte atuação na
organização e prática de atos de violência nas manifestações populares, o que
se pode verificar pela prova produzida em sede policial”.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, The New York
Times; Christopher Clark (The Sleepwalkers)
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