quarta-feira, 30 de julho de 2014

Como nos tempos de Saddam Hussein


                       

       Lembram-se de Saddam Hussein?  Foi transformado em bode expiatório por Dick Cheney[1], Don Rumsfeld[2] e George Bush[3]. Como tem sido analisado extensamente pelos observadores, sob pretexto de que o Iraque detinha armas de destruição em massa (WMD), o ditador do Iraque se tornou a presa da vez. A par das alegações dos neoconservadores – implantar a democracia no Médio Oriente – o objetivo apregoado era castigar Saddam por sua suposta ligação com a Al Qaida de Osama bin  Laden.

       A guerra, nos planos do especialista Rumsfeld, seria rápida – como fora  previsto para tantas outras no passado (e o exemplo da desastrosa Iª Guerra Mundial logo se apresenta) – e por isso não se cuidou nem de blindagem das tropas, nem de prever ocupação prolongada. Hoje sabemos como terminou, com a aventura iraquiana considerada, com seus bilhões de dólares desperdiçados, a causa de o que os analistas denominam como o início do declínio da superpotência.

        No entanto, esse senhor com que se foi mexer – e que seria depois preso, julgado e enforcado pelo estamento xiita que o sucedeu no poder – tinha um costume. Não gostava de mensageiros que lhe trouxessem más notícias.

        Embora se tenha ridiculizado esta sua veneta – que tinha trágicas consequências para os seus portadores -  forçoso será reconhecer que, sem chegar aos extremos do ditador, a irritação com o vetor da novidade é característica comum a muitos governantes.

        A análise do Santander, segundo assinala oportunamente Alexandre Schwartsman, “nada trouxe de controverso”. A própria Folha notou que “as ações de empresas estatais dispararam na BM&FBovespa e impulsionaram o principal índice da Bolsa brasileira nesta sexta-feira (18), após pesquisa Datafolha ter apresentado empate técnico entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB)”. (...) “Desde que começaram a ser divulgadas pesquisas apontando perda de espaço da presidente (...) o mercado de ações  nacional, que caía e acentuava queda(...) mudou de tendência.”

         Schwartsman sublinha a respeito que “o tal mercado pode ter as preferências ideológicas que quiser, mas, na hora de comprar ou vender uma ação, o que menos interessa é a ideologia; é sempre a perspectiva de lucro que move esses agentes. Posto de outra forma, ninguém rasga dinheiro em nome de suas convicções políticas.”

             E para completar o que embasa a comunicação, o colunista observa: “Bancos têm um dever fiduciário com seus clientes: não podem omitir ou distorcer informações relevantes para sua tomada de decisão.”

             Por sua vez, O Globo dá à questão a sua manchete principal, e o que estampa me parece revelador sobre o caráter um tanto abjeto da atitude do Banco, assim como da prepotência do Planalto: “Depois do Santander – BANCOS FARÃO ANÁLISES MAIS CONSERVADORAS – Instituições Financeiras já temem sofrer represálias do Planalto – Funcionária foi demitida após ser responsabilizada pelo envio, a 40 mil correntistas, de documento que associava a subida de Dilma nas pesquisas à queda da Bolsa”.

              A esse respeito, “O economista-chefe da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira Vale, chamou a reação do PT de ‘postura bolivariana’ ”.     

               A atitude do governo de dona Dilma, além das características acima referidas, sublinha  desconforto com a notícia e as suas implicações. A exemplo do primarismo de Saddam – que confundia o pobre mensageiro com a sua missão de transmitir a notícia - o poder petista no caso briga com a informação. Se o que se transmite corresponda à verdade, isso não interessa! O que vem ao caso – para ela e sua corte – é o emprego da censura, ou de procedimentos similares, dentro do princípio dos regimes autoritários:

                Se os fatos são negativos, com a breca os fatos!                   

 

(Fontes: Alexandre Schwartsman, Folha de S. Paulo, O Globo)



[1] Richard Cheney, Vice-presidente dos Estados Unidos (2001-2009).
[2] Donald  Rumsfeld, Secretário da Defesa (2001-2006).
[3] George W. Bush, 43º  Presidente dos EUA (2001-2009).

Nenhum comentário: