O cerco do Ocidente à
Rússia é uma reação que pela aparente lentidão poderia suscitar dúvidas
quanto à firmeza de sua implementação.
Dada a crescente participação de Moscou
na guerra da Ucrânia – o que está na contramão de seus compromissos e
declarações – as medidas tomadas até agora pelo Ocidente, à primeira vista, não
estariam correspondendo à expectativa.
Ao invés de o que fez esperar, depois
de série de declarações através da mídia que se propunham, na verdade, a
confundir o adversário, o Kremlin não
diminuiu em nada o seu envolvimento no conflito após a queda do voo MH 17 da
Malaysian Airlines.
Muito pelo contrário, há demasiados
sinais de maior envolvimento na guerra civil ucraniana, que incluem lançamento de mísseis de território russo para
alvos na área de soberania de Kiev, assim como amplo apoio às milícias
separatistas pró-Rússia, indo até a intervenções pontuais para auxiliar àquelas
que esteja em dificuldade nos combates em torno da bacia de Donetz.
Diante desse quadro preocupante,
realizou-se nesta segunda-feira 28 de julho vídeo-conferência de que
participaram os chefes de governo Barack Obama, pelos Estados Unidos, David Cameron (Reino Unido),
François Hollande (França), Angela Merkel (Alemanha) e Matteo Renzi (Itália,
empossado a 22 de fevereiro último). Por outro lado, está prevista para esta
terça-feira reunião da União Europeia, para considerar sanções a serem
aplicadas no quadro comunitário. Como há diversos membros da U.E. que recebem a
energia russa (gás), a previsão de aplicação de eventuais sanções fica assaz condicionada
às relações de dependência envolvidas por tais transações.
As sanções a serem aplicadas vão além
daquelas pontuais, que individuam pessoas com carteiras de investimento na área
em apreço, e que se suspeite tenham envolvimento com a ação de apoio às
intervenções da Rússia na conflagração.
Nesse contexto, será dada precedência às áreas financeira, energética e
de defesa da Federação Russa.
A economia russa se ressente por ora
de estagnação. Nesse contexto, a relação custo-benefício deve substituir-se à
incapacidade do país agredido de reagir, dada a disparidade material de forças.
É oportuno, por conseguinte, fazê-la sentir na carne os efeitos de sua agressiva
política imperialista na área vizinha – e a anexação da Criméia, feita contra todas
as normas do direito público, é prova cabal dessa lamentável tentativa (e
infelizmente por ora bem-sucedida) de reversão nas relações internacionais,
trazendo de volta uma negra página de tropelias e violências que se pensava
superada no campo do direito das gentes. Se encarecido o preço a pagar pela voluntária
e criminosa transgressão, crescem as possibilidades de que tal potência
renuncie a essas medidas, se a relação custo-benefício se tornar demasiado
gravosa, e com consequências que podem ir muito além dos eventuais ganhos
auferidos por essas incursões que são reminiscentes de um passado predatório
sem qualquer outra lei que a do mais forte.
(Fonte: The New York Times)
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