terça-feira, 29 de julho de 2014

Sanções contra a Rússia


                                        

        O cerco do Ocidente à  Rússia é uma reação que pela aparente lentidão poderia suscitar dúvidas quanto à firmeza de sua implementação.

        Dada a crescente participação de Moscou na guerra da Ucrânia – o que está na contramão de seus compromissos e declarações – as medidas tomadas até agora pelo Ocidente, à primeira vista, não estariam correspondendo à expectativa.

        Ao invés de o que fez esperar, depois de série de declarações através da mídia que se propunham, na verdade, a confundir o adversário, o Kremlin não diminuiu em nada o seu envolvimento no conflito após a queda do voo MH 17 da Malaysian Airlines.

        Muito pelo contrário, há demasiados sinais de maior envolvimento na guerra civil ucraniana, que incluem  lançamento de mísseis de território russo para alvos na área de soberania de Kiev, assim como amplo apoio às milícias separatistas pró-Rússia, indo até a intervenções pontuais para auxiliar àquelas que esteja em dificuldade nos combates em torno da bacia de Donetz.

         Diante desse quadro preocupante, realizou-se nesta segunda-feira 28 de julho vídeo-conferência de que participaram os chefes de governo Barack Obama, pelos Estados Unidos, David Cameron (Reino Unido), François Hollande (França), Angela Merkel (Alemanha) e Matteo Renzi (Itália, empossado a 22 de fevereiro último). Por outro lado, está prevista para esta terça-feira reunião da União Europeia, para considerar sanções a serem aplicadas no quadro comunitário. Como há diversos membros da U.E. que recebem a energia russa (gás), a previsão de aplicação de eventuais sanções fica assaz condicionada às relações de dependência envolvidas por tais transações.

         As sanções a serem aplicadas vão além daquelas pontuais, que individuam pessoas com carteiras de investimento na área em apreço, e que se suspeite tenham envolvimento com a ação de apoio às intervenções da Rússia na conflagração.  Nesse contexto, será dada precedência às áreas financeira, energética e de defesa da Federação Russa.

          A economia russa se ressente por ora de estagnação. Nesse contexto, a relação custo-benefício deve substituir-se à incapacidade do país agredido de reagir, dada a disparidade material de forças. É oportuno, por conseguinte, fazê-la sentir na carne os efeitos de sua agressiva política imperialista na área vizinha – e a anexação da Criméia, feita contra todas as normas do direito público, é prova cabal dessa lamentável tentativa (e infelizmente por ora bem-sucedida) de reversão nas relações internacionais, trazendo de volta uma negra página de tropelias e violências que se pensava superada no campo do direito das gentes. Se encarecido o preço a pagar pela voluntária e criminosa transgressão, crescem as possibilidades de que tal potência renuncie a essas medidas, se a relação custo-benefício se tornar demasiado gravosa, e com consequências que podem ir muito além dos eventuais ganhos auferidos por essas incursões que são reminiscentes de um passado predatório sem qualquer outra lei que a do mais forte.

 

(Fonte:  The New York Times)

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