Superfaturadas,
como no caso limite do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, mal-acabadas, como
nos terminais dos aeroportos, incompletas (já se tornou rotina para dona Dilma
inaugurar realizações nessas condições), e a corrupção misturada com a síndrome
do Pan-americano e até mesmo a descarada negligência, as obras milionárias da Copa
vinham até ajudando a dar ao Governo Federal um retrato retocado de relativo zelo e competência em estruturar a
infraestrutura do magno evento, que Lula da Silva legara à sua candidata de
algibeira.
Por isso, muito à brasileira – o que
há de verdadeiramente acabado em todas as obras, e quantas foram deixadas de
lado (por atrasos insanáveis) como o relatório do presidente do Tribunal de
Contas da União evidencia – não obstante tudo isso, a opinião pública – como a
última pesquisa do Datafolha o
demonstra – se revela satisfeita com o que foi feito, e tal se reflete nos
índices de popularidade da Presidenta.
Sem embargo – nas palavras de Gustavo
Franco: ‘Gasto com a Copa é a metáfora exata das causas da inflação’
são espelho da irresponsabilidade fiscal do Governo – as obras do mundial
passaram a apontar desde ontem para consequências bem mais graves do que as
anteriores. Se a corrupção e seus efeitos deletérios já se entremostrava em
muitos desses trabalhos, por primeira vez um viaduto de obra da Copa desaba e
mata duas pessoas em Belo Horizonte (esse total pode ser ainda parcial, pois se
presume haja outros infelizes debaixo da laje de concreto),
O grande público tomou conhecimento
do desastre no Jornal Nacional de
ontem, pela voz de William Bonner. No entanto, por condicionamentos não
precisados, esse tipo de anúncio tem em geral muitas omissões. Noticia-se a
queda do viaduto, sem mencionar sequer
que se tratava de obra da Copa,feita para facilitar o acesso ao Mineirão – e
que a firma encarregada, a Cowan, é também responsável por outro viaduto em
Belo Horizonte, incluído no PAC da Mobilidade do Governo Federal e executado
pela Prefeitura, o qual foi interditado em fevereiro por problemas estruturais.
Uma coisa são estádios mal-acabados, com banheiros
deficientes e praças de alimentação mal-arranjadas, outra coisa e bem diversa,
são grandes obras da chamada ‘mobilidade urbana’ que de repente desabam. Se há
outras tragédias nesse campo – e os veteranos se recordarão no Rio de Janeiro
do elevado da Paulo de Frontin – até o presente os efeitos seja da
incompetência, da negligência e até da corrupção não se tinham manifestado de
forma tão agressiva e antissocial.
Não é só nas enchentes que correm
as torrentes d’água – que faltam na Pauliceia e extravasam no Norte e no Sul –
mas também nesses grandes eventos, com todo o seu potencial (para o bem e para
o mal), como a Copa do Mundo, em que o rio do Letes[1]
tem outro curso, decerto menos visível, mas não menos eficaz para os propósitos
a que é chamado.
(Fontes: Rede
Globo, O Globo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário