Embora pensemos por vezes nela viver, não inexiste na
língua portuguesa um equivalente para a Terra
della Cuccagna, que o dicionário italiano Zingarelli define como ‘país de
fábula em que há delícias de todo gênero’.
Será
que por especial concessão da FIFA o Brasil pode imaginar estar enleado nesse
reino maravilhoso? O sonho do hexa
continua felizmente vivo, com todos os seus sinais preservados. Por ora, ele
tem de sujeitar-se a incômodas prorrogações, mas a despeito do mau olhado de
tantas seleções – que já foram despachadas para o limbo – ele vem persistindo
para nossa alegria, enquanto os boatos mais perigosos (i.e., os verossímeis)
vão caindo pelo caminho.
No entanto, dados os comportamentos de
alguns senhores árbitros, nos causa perplexidade e até receio, o insistente
rumor de que a simpática seção arbitral da dita Fifa estaria costurando um
conluio de lapsos para dificultar a progressão do scratch nacional. Assim,
anulações de gols que são legítimos para outras equipes, impedimentos fantasma,
e coisas do gênero podem continuar repontando em nosso desfavor.
Tudo isso se explicaria pelo suposto
espantalho da conquista do Hexa, que incomodaria a esses bons velhinhos. Não há
grande conquista sem grandes dificuldades. Por isso, esperemos que esses
taumaturgos tenham juízo, e deixem a questão por conta da deusa Fortuna. Por
caprichosa que seja, ela tem o bom hábito de cruel imparcialidade. Não pedimos
outra coisa da grega Túxe, ainda mais que
os helenos já foram despachados para casa...
Tenho, de resto, uma suspeita que essa atmosfera irreal, de festa inconclusa, vem sendo
maquinada pelo governo de dona Dilma, pois enquanto ficamos em suspenso, o
tempo vai passando e as más novas não repercutem.
Nenhuma administração se tem provado a
tal ponto inimiga do Plano Real. Posto que seja conquista de todos os
brasileiros, a presidenta parece pensar que tal plano não é senão passe de
prestidigitador, e não a conquista nacional que nos livrou do flagelo da hiperinflação.
Assim, não é só a inflação que ela
trouxe de volta, com a sua gastança. Estão igualmente na nossa porta,
personagens que acreditávamos peremptos, como a conta de movimento, que nos
plúmbeos tempos da ditadura pretoriana, fabricava dinheiro através de conta
conjunta entre Banco do Brasil e Banco Central. É verdade que a capitalização –
tão do gosto de Nosso Guia por ‘criar’ dinheiro sem lastro fiscal – vem de seu
criador, com o cúmplice aval de Guido Mantega. Este último nos trouxe o penoso
legado da ficção contábil.
Lula
da Silva, com todo o seu saber econômico-financeiro – não é que dá públicos
quinaus em Arno Augustin, o homem do Tesouro e experto de D.Dilma em
prestidigitação fiscal? – fala de inflação de demanda e de consumo. Com efeito, precisamos tirar o chapéu para o
torneiro-mecânico. Não é que encheu esses brasis afora (e adentro) com os
elefantes brancos das sedes do Mundial? Nesse sentido, é importante ter
presente que Gustavo Franco, um dos formuladores do Plano Real, considera o
gasto com a Copa como metáfora exata das
causas da inflação: os estádios da Copa são exemplo de irresponsabilidade
fiscal.
Por isso, em meio a tantas tramoias e
misérias, o que nos resta é torcer pela Seleção. Ela, como a foto de Neymar com
as contusões de violência a um tempo direcionada e impune, mostra os propositais
percalços, a que se vê submetida.
Tudo isso não será bem-vindo, mas
será aceito, se nos levar ao sagrado bosque do Hexa. Mas se não servir para nada, ou só para
engambelar o Povo com inútil, ilusório, pernicioso oba-oba,
Então como é que fica?
(Fontes: O Globo,
v. Miriam Leitão, Folha de S. Paulo)
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