Os fatos são conhecidos: uma aeronave Boeing 777, da Malaysian Airlines, foi derrubada por míssil
de fabricação russa SA 11. Em altura
de cruzeiro (cerca de 9 mil metros), o avião com 283 passageiros e quinze tripulantes explodiu sobre a Ucrânia oriental, em território ora
controlado por separatistas pró-Rússia. Não há uma determinação completa da
nacionalidade dos passageiros. Sabe-se que havia 154 holandeses (esse número
aumentado se deve ao compartilhamento com a companhia neerlandesa KLM), 43 malaios, 27 australianos, 12
indonésios, nove britânicos, três filipinos e um canadense. Há 41 passageiros
ainda não identificados. Três crianças de colo estavam no vôo MH17.
Os dados acima já foram estabelecidos. Os
satélites americanos ainda não determinaram a base de onde se originou o
disparo.
Há detalhes importantes. Na data do
desastre, a Rússia fechara as rotas aéreas procedentes de seu território e na direção do
leste ucraniano, com exceção da rota para a Criméia, antiga província
ucraniana, recentemente anexada pela Federação Russa.
O porta-voz do Presidente Petro
Poroshenko classificou a ocorrência como um ato terrorista: “Este é o
terceiro incidente trágico nos últimos dias, depois de as aeronaves militares
ucranianas An-26 e Su-25 terem sido derrubadas a partir de
território russo. Não descartamos que este avião tenha sido abatido e
ressaltamos que o exército (ucraniano) não realizou nenhuma ação para destruir
alvos no ar”.
O vice-presidente Joe Biden reforçou a
teoria ucraniana: “O avião foi aparentemente derrubado e digo aparentemente
porque não temos todos os detalhes. Não é um acidente.”
Segundo fonte do Ministério da Defesa da
Ucrânia, os rebeldes teriam atingido por engano o avião, numa tentativa de
abater aeronave de carga da Força Aérea da Ucrânia, que fora identificada pela
defesa aérea russa. Ainda segundo a fonte ucraniana, não longe do itinerário do
avião da Malaysian Airlines, estaria
voando um Iliushin 76, com
alimentação para a tropa de Kiev.
Há acusações contrastantes quanto à
origem do disparo. Rússia e Ucrânia possuem mísseis Buk terra-ar. E apesar de suas negativas de disporem do armamento,
o jornal britânico Guardian
determinou, com base em reportagem de tevê estatal russa do fim de junho, que
os rebeldes teriam se apossado do controle de instalação de defesa ucraniana
com o sistema Buk. Como os destroços
do avião caíram sobre área controlada pelos separatistas (aldeia de Grabovo,
região de Donetsk), há fundadas preocupações que os rebeldes disso se prevaleçam
para mexer no sítio com os restos da
aeronave e de seus passageiros. Nesse contexto, os insurgentes revelaram a
princípio ter em seu poder a caixa preta do avião, para depois negar a
informação.
Por outro lado, há dois áudios interceptados
entre rebeldes e oficiais russos, em que se fala da derrubada de um jato civil.
Na primeira ligação, o comandante rebelde Igor Bezler assevera para oficial da
Inteligência militar da Rússia que os separatistas abateram um avião. Na
segunda comunicação, um dos pró-separatistas, que se acha no local onde estão
os destroços do avião, afirma que o ataque com o míssil foi efetuado por
unidade insurgente a 25 km ao norte.
A respeito da tragédia, o presidente da
Federação Russa, Vladimir V. Putin, declarou desconhecer que os rebeldes
tivessem lançadores de mísseis Buk.
E, sempre segundo o Presidente Putin, mesmo que o possuíssem, não poderiam
operá-los.
Por fim, ainda em contexto
especulativo - dentro do fogo cruzado de informes pro domo sua[1]- a agência estatal
russa difundiu que “o alvo poderia ser o
presidente russo”.
Há fundadas esperanças de que a
verdade apareça afinal. Mais uma vez, a estupidez humana já colheu a sua carga
de opróbrio e de desgraça. Em meio aos indícios – que são muitos – e as
contradições que repontam nas costuras apressadas da mentira, as responsabilidades
se hão de determinar. E, quem sabe, outra expressão latina – cui prodest[2] –
irá luzir com a sua incômoda claridade sobre a autoria de mais este crime.
(Fontes: O Globo, The New York
Times )
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