sábado, 9 de junho de 2018

Maria Esther Bueno


                                                                                                

             Maria Esther Bueno surgiu como um cometa em país que a eles não estava acostumado. Até então sem grandes estrelas no tênis, habituados a ver aos que ingressassem no rarefeito espaço dos grandes torneios internacionais a serem muito breve riscados da competição, foi com algariada surpresa que nos coube ver nos principais jornais da terra estampada a incrível promessa de grande feito que, de repente, uma nossa conterrânea estivesse por arrancar.
           Eram os anos do Presidente JK,  anos de grandes promessas e de incríveis proezas e realizações, como a primeira conquista da Jules Rimet no ano anterior.
            Mas Maria Esther nos chegaria como se fora cometa, cuja celeste presença não a tivessem registrado os astrônomos.
             Ainda não se vivia nesse peculiar mundo global que hoje escarnece da distância, e traz para a telinha da tevê imagens antes inatingíveis, pelos parcos recursos então disponíveis.              
             Pois foi na grama de Wimbledon que a desconhecida Maria Esther arrebata o seu primeiro grande troféu, e o faz com a aparente facilidade que os céus reservam aos grandes talentos.
              De todos os torneios, esse clube inglês é o mais prestigioso no mundo tenístico. Para lá, se voltam os olhos e as ambições dos tenistas, no tácito reconhecimento que na grama de suas quadras está a maior honra que os praticantes desse esporte ambicionar possam.
               E como sói acontecer com os gênios, tudo lhe parecia fácil, por mais empenhadas que fossem as respectivas adversárias.
               Diziam que dançava na quadra, tal a facilidade  com que desenvolve o próprio jogo.  Como todo gênio, ela surge não se sabe bem de onde, e com o próprio estilo tão natural, quanto gracioso que a todas as adversárias as leva de roldão, como se fora coisa de somenos.
                Era de um talento estrugente e, portanto belo, com a naturalidade de quem possui  inteiro domínio do esporte, e que por isso tem o estilo alegre e desenvolto, cuja enganosa facilidade tudo faz parecer natural, tanto que Maria Esther arrebataria dezenove títulos do Grande Slam.
                 Os gênios são cometas que não nos visitam amiúde.  Se  os reconhecemos de pronto quando surgem em cena, será sempre com o olhar esgazeado que costuma homenagear  heroínas e heróis.  
                  Como não são coisa do dia a dia, os deparamos com expressão em que se mescla a singela homenagem  do preito, e leve, indefinível sensação de tristeza. Pois tais grandes, enormes figuras, sendo tão raras, nos fazem olhar em torno, na esperança de que a sua falta não se prolongue demasiado, para que não transformemos os seus eventuais pobres substitutos em ilusórias, enganosas imagens da grande presença que nos deixou. 

( Fonte:  O Globo )    

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