terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O Mercado não é bobo


                              

          Infelizmente, há casamentos incompatíveis e a união política entre Dilma Rousseff e Joaquim Levy deu no que tinha que dar.

          Não vou repetir a velha estória do escorpião, mas a separação era inexorável e inevitável.

          A Presidenta está demasiado imbuída das próprias ideias que, apesar de confusas, serão artigo de fé para ela.

          Se se detivesse um tantinho só e olhasse em torno, ela se daria talvez conta do estrago que já fizeram, não só ao famoso mercado, mas a toda gente brasileira, que sentiu fundo a volta à inflação, com todos os males a que o dragão pensa ter direito.

          Levy chegou com a segurança dos que sabem o dever de casa, mas inebriados, seja pelos eflúvios do poder, seja pela própria confiança de quem domina o mister, não se deu conta de que havia entre o céu e a terra outro fator sobre o qual não dispunha de controle durável.

          No início, a despeito e talvez um pouco por causa de sua imensa culpa em cartório, a Rousseff afrouxou as rédeas, cedendo por muito pouco tempo a iniciativa ao Ministro.

          A quebra dessa obediência  de circunstância não poderia durar muito, porque a Presidenta não tem ideias firmes mas convicções inabaláveis no acerto de sua visão econômica.  E fundada no diploma de economista, não haverá desgraça, tropeço ou mesmo vexame que a convença do contrário.

         E a nossa sorte - desfazimento do Plano Real e da Lei de Responsabilidade Fiscal são as suas duas maiores anti-realizações - e as Pedaladas pelas quais foi condenada por unanimidade pelo colendo Tribunal de Contas da União estão aí para garantir não o seu renome mas a sua triste passagem à frente do Erário.

         Enquanto o poder estiver em suas despreparadas mãos, o resultado será o mesmo.

        E foi por isso que o famoso mercado não poderia dar fé ao substituto de Joaquim Levy. Nelson Barbosa é petista de carteirinha, e já tinha sido domado quando curvou a cabeça diante daquela reprimenda pública que lhe pespegou a Senhora Presidenta, tomando-lhe satisfações sobre os inaceitáveis  supostos novos critérios para o cálculo da atualização do Salário Mínimo. Até aquele momento, Barbosa pensava que as rédeas da Fazenda Pública as tinha o Levy. A chamada pública e o carão mesmo com que ela visitou o Ministro do Planejamento lhe terá aclarado as idéias. Não terá sido o estalo de Padre Antônio Vieira, porque  o nosso grande orador sacro depois dele mostrou-nos maravilhas. Já o Barbosa voltou cabisbaixo da bronca pública levada, para que ninguém mais ousasse pensar que ela toleraria qualquer mexida nos seus critérios sacrossantos, mesmo que inflacionários (como no caso, com a atualização dos corretores do salário mínimo até pelos dados do crescimento econômico). E não me venha com o contra-argumento que com Dilma não há crescimento, porque para ela estará garantido, junto com a inflação, a inchação do salário mínimo... Ela acredita tanto em tais fetiches, que na prática, com carestia ou não, ela trata de aumentar os salários, mesmo que o efeito seja contrário...

            Por isso, talvez seja melhor não espichar demais essas linhas, porque o fim da missão de Joaquim Levy estava anunciado desde o começo.

            Como todos os energúmenos (aquele que segundo o grego antigo está possuído por demônios ou energias sobre as quais não tem controle), ela não tem dúvidas, mas firmes, inabaláveis certezas.

            Que alguém com tal personalidade (e levíssima bagagem doutrinária) logre chegar à presidência de um grande país, acarreta mais cedo do que tarde tristes consequências para a população que, como rebanho de carneiros, abaixou a cabeça e seguiu o palpite da vez do coronelão político.

            Triste é a sorte de um Povo que se pauta por tais tão destrambelhadas diretivas. E como  o dragão que está de volta, regredimos no tempo, e só para contentar gente que não está preparada para o mando da nave Brasil.

             Nesse contexto, como mercado e o brasileiro estão cansados de fazer papel de bobo, quem poderia meter-se na cachola que um apparatschik petista como Nelson Barbosa, o das propostas orçamentárias com enormes déficits (a secreta fórmula de Dilma que deu no que deu), vá nos aprontar outra coisa senão mais notas negativas das agências de classificação de risco e o que é muito pior, a volta reforçada da inflação?

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )

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