quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Afinal o Impeachment

                                          

        O cambalacho entre Dilma e Cunha, como todo acordo debaixo do pano, não aguentou a pressão da opinião pública. A sua aparente simplicidade - o PT ajuda Cunha no Comitê de Ética, enquanto Cunha ajuda Dilma mantendo na gaveta a petição do Dr. Hélio Bicudo - não resistiu à interveniência inexorável da opinião pública. Como sói acontecer, o problema estaria nos detalhes.

       Como poderiam os três deputados petistas no Comitê de Ética - que vai votar sobre a falta ao decoro do Presidente Cunha - prestar-se a tal tipo de arreglo? A pressão da sociedade e, sobretudo, o caráter imoral desse acerto, que mais se parece à combinação inconfessável, levou a trinca dos deputados a mudar de parecer, diante das consequências da concretização de o que mais parecia um cínico acerto de contas.

       Por isso, o forçado contubérnio se desfez. Menos de cinco horas depois do abandono pelo PT de sua causa no Conselho de Ética, o presidente da Câmara, Deputado Eduardo Cunha, veio a público em entrevista sob o usual contorno nos supostos grandes eventos de jornalistas e microfones para anunciar que aceitara o pedido de abertura de processo de impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff, 23 anos depois do Congresso analisar e acolher ação similar contra o Presidente Fernando Collor de Mello.

       Na sua declaração, a Presidenta afirmou que jamais aceitaria barganhas, não obstante a pressão exercida pelo Palácio do Planalto sobre o PT  para que apoiasse Cunha no Conselho de Ética, em troca da não-aceitação do pedido de impeachment.

       No entanto, uma coisa é a idéia do acordo, por mais antiético que seja, outra é a sua tradução na realidade. Quando chegou a hora de os três deputados do PT, por menos proeminentes que fossem, eles não desconheceriam que comprometiam o próprio currículo (e sua reeleição futura) se se prestassem ao óbvio troca-troca. E foi então que, reduzido a pessoas que carregariam o acinte, o acordo não resistiu.

       Como se verificou - e Ricardo Noblat assinalou - durou muito pouco o entusiasmo com que os militantes do PT receberam a decisão de seu comando nacional de confrontar Eduardo Cunha.

       Veio logo a consequência inexorável da quebra do acerto debaixo do pano, quando Eduardo Cunha anunciou  que acolhe o pedido de impeachment  contra Dilma, acabando-se o entusiasmo da militância. E partiu para ceder espaço, nas palavras de Noblat, à perplexidade e ao medo.

        A perspectiva do impeachment deve realmente incutir medo na militância petista. Se 65% dos brasileiros são hoje favoráveis ao impeachment, e se eles descerem às ruas em grande número, as contas no Congresso se tornam mais negras. É bazófia garantir que ela tem os 171 votos para enterrar o processo (acena-se inclusive com duzentos).

       Os partidários de Dilma esquecem a crise e a sua causadora. Nunca o Brasil enfrentou tal crise econômica - com a recessão ameaçando virar depressão - que seja tão claramente atribuível à imprudência e incompetência da Presidenta.

       O estrago que essa Senhora fez em quase cinco anos vai pesar muito nesta votação.

 
 
( Fontes: O Globo, artigo de R. Noblat )

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