segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O Outono da Matriarca

                                      

          Para quem tem alguma experiência de política, tanto da grande quanto da pequena – que na verdade se dão as mãos na ciranda do governo – o desfecho desse primeiro e determinante embate se desenhava claro no horizonte do planalto.

          A política deve ser a arte do entendimento e da composição. Se se cria ambiente de confrontação e antagonismo extremo, toma cuidado porque o futuro pode sair com as características que lhe estás dando.

          Não é que Dilma Rousseff seja uma novata na política. Já no seu segundo mandato presidencial, ela há de conhecer muito mais das sendas da arte de governar do que a então moça de algibeira do líder máximo, Lula da Silva, adrede escolhida em projeto de prolongamento de poder.

         O problema está mais na pessoa. O seu aprendizado, por desgraça verticalista, no engenho da política sofre de  grande deformação. Autoritária, arrogante, ela desconhece a arte de cativar os adversários e eventuais opositores. As pessoas devem ser tratadas não apenas pelo que são em momento determinado, mas também pela sua qualidade intrínseca, que tende a variar com as sazões.

          Na floresta, em torno das grandes árvores cresce um capim miúdo e ralo. Na arte de governar, o futuro deve estar sempre presente para o líder, eis que o amanhã é uma incógnita, por mais que dele cuidemos.

          Dessarte, política e guerra não se confundem, embora compartilhem de escopo comum, que é o prevalecer. Atuar no presente, sem esquecer as insídias do futuro. Marcar posição, sim, mas não valer-se da paz para desfazer-se de seus opositores como se inimigos foram.

          Assim, a sutileza é o forte da política.  O  bom político não perde jamais de vista o próprio escopo, mas também, na sua progressão, pensa no futuro de seu entorno e do campo contrário. Agirá então com sutileza e habilidade, perseguindo os respectivos fins, mas tendo presente o campo da manobra,  buscando sempre envolver. Se possível, conter quando as circunstâncias o exigirem, mas jamais se empenhando numa perversa criação de adversários, e o que é ainda pior, tendo os olhos bem abertos para o presente, e cerrados para o futuro.

          O estudo da política brasileira mostraria que os grandes presidentes podiam ter adversários, mas não inimigos permanentes. A biografia dos nossos grandes homens mostra que eles sabiam da arte de superar o ressentimento, por mais que difícil fosse. O mau humor e o autoritarismo tornam fofa a terra em que a personalidade praticante neles recai. São tantos os túneis aí traçados que aumenta geometricamente a possibilidade dos tropeços e até mesmo dos tombos.

          Depois de tanto esforçar-se em destruir quem acreditava fosse teu adversário, eis que – em má hora – o transforma em algoz potencial.

          Belo trabalho, Dilma Rousseff! Agora tens mais um inimigo a espreitar-te, e não está encastelado em algum posto afastado, mas sim a atravessar o teu caminho! E enquanto a composição e o discernimento te aconselhavam  a proceder de modo diverso, resolveste reforçar o esquadrão adversário.

           Não seria isto que te aconselharia o velho capitão. Mas agora, para espanto de muitos, quando a procela se aproxima, resolveste dispensar-lhe os serviços!

 

( Fontes:  O  Globo; Folha de S. Paulo; e Gabriel Garcia Márquez )

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